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A falta de entrelinhas é um dos grandes problemas de vários
dos livros para jovens que tenho lido. Sim, uma história central que fale de um
namorado, busca épica ou luta contra governo ditatorial é interessante, mas é
necessário que o protagonista apresente crescimento, exponha e chegue até o
limite da sua humanidade, se assemelhando assim, de forma mais eficiente, ao
leitor.
Pensando nisso, procurei algum artigo que me ajudasse a
criar meus próprios personagens de forma mais real, criando uma “coluna
vertebral” para os mesmos a ser seguida até o fim. Foi assim que topei com esse
artigo da escritora americana Janice Hardy, que coloca de forma simples o
essencial para cada personagem e é o texto mais útil sobre o assunto que li até
a presente data. Usei com alguns de meus protagonistas e garanto: dá muito
certo.
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Eis, segundo Janice, o que deve ser estabelecido antes mesmo
da escrita começada, com alguns acréscimos e mudanças de títulos (para que soe
melhor em Português):
Desejo: É aquela
coisa de que o personagem está ciente ou acha que precisa, e que persegue no
início da história ou depois do conflito. Nem sempre é o que o personagem
realmente precisa, por isso temos a...
Necessidade: Aquela
coisa que realmente faria a vida do personagem melhor e/ou melhoraria o
problema, mas nem sempre é aceita pelo mesmo. Muitas vezes, o personagem nem sequer sabe que
precisa daquilo, ou sabe e resiste em aceitar graças a velhos hábitos ou algum
obstáculo. A Necessidade e o Desejo não necessariamente precisam
entrar em conflito, mas histórias onde isso acontece são sempre mais
interessantes ;)
Ferida: Uma
experiência extremamente traumatizante que tenha acontecido na vida de seu
personagem, e que molda a maneira com que ele vê o mundo.
Crença: O maior
resultado da tal da Ferida, aquela
cegueira insistente que faz parte da maior parte das decisões e induz quase
todos os erros. Muito, mas MUITO cuidado com o drama excessivo aqui. É um
grande perigo – nunca se esqueça que a maior parte das pessoas são, na verdade,
bem sensíveis, e até coisas pequenas que sejam bem justificadas e baseadas
podem se encaixar.
Medo: A coisa que
aterroriza o personagem, alguma versão de experimentar o medo da Ferida de novo. Vai ser, direta ou
indiretamente, parte dos obstáculos que ele enfrentará. O Medo puro e simples será o maior destes obstáculos, ou como
qualquer um que jogou vídeo games na infância diria, o “Chefão”.
Máscara: O “eu”
falso que o personagem apresenta para o mundo. A armadura emocional que o
protege do Medo em todas as suas
versões.
Essência Real/Pretendida:
Aqui está onde coloco o meu dedinho, a única parte em que o que a autora do
texto descreve não funcionou muito bem na prática (ao menos pra mim).
A Essência Real
seria aquilo que o personagem realmente é, por trás da máscara. Já a Essência Pretendida é aquilo que ele
gostaria de ser. As duas coisas não precisam ser tãão distantes assim no caso
de livros curtos, mas em livros mais longos e séries o ideal é que estejam a
anos-luz de distância uma da outra, apresentando assim um personagem imperfeito
e que tem muito a crescer.
Tá, eu sei que muitos de vocês não entenderam muita coisa,
então vamos usar o exemplo de Janice, uma história bastante conhecida.
Shrek é um Ogro, que por ter no passado sido rejeitado por
várias pessoas graças a sua aparência (Ferida)
mantém-se distante de tudo, assustando a qualquer um que chegue perto dele (a
sua Máscara). O seu Desejo é viver sozinho no pântano como,
na verdade, como qualquer pessoa (ou criatura mitológica) precisa de amigos e
amor (a Necessidade). A sua Crença é de que, graças a sua
aparência, ninguém no mundo poderia gostar dele, o que foi criado e é
reafirmado pela Ferida.
Shrek é, na verdade, bastante sensível e leal (a Essência Real) que se encontraria após
atingir a necessidade, ou seja, socializar-se (a Essência Pretendida). Como é um filme para crianças, a Essência Real e a Essência Pretendida encontram-se bastante próximas, o que não é de
todo ruim. Só a superação do medo já dá uma boa história.
Enfim, espero que vocês tenham gostado. Não traduzi o texto
literalmente porque queria colocar mais algumas coisas, mas caso saibam inglês,
recomendo o blog da Janice inteirinho – é um dos melhores sites pra escritores
que já li.
uau! Amei sua postagem. Interessantíssima!
ResponderExcluirParabéns!
Com certeza, mtos autores deveriam trabalhar melhor seus personagens.
Bjokas.