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terça-feira, 11 de junho de 2013

[FEITO A MÃO] Contando de um até dez

Feiiceiros de coração~
   Segundo conto de uma 'trilogia' de "partes de conto" com tema do Dia dos Namorados, cujo primeiro foi Sorvete de Menta" :) Os contos falam sobre uma adolescente peculiar chamada Estela, a qual vive tanto no mundo real como no mundo da Lua, também amiga de duas meninas com características únicas. Estela, por ainda não sentir necessidade, não chega a se ver apaixonada por ninguém. Não que ela não conheça o significado de romance através da imaginação.
Porém, eventualmente em um shopping e provando um sorvete (um forte hábito seu), a garota e suas amigas conseguem encontrar alguém que pode fazer um sutil impacto.

   A partir deste conto ao fim, a autora recomenda, para quem quiser, acompanhar a leitura sob o som de Shooting Star ou/e The Real World do Owl City =)



Contando de um até dez

   Demoro a compreender o que Melissa quer dizer. Ou quase.
Lá vamos nós... — Stephanie lança um olhar cético pra a outra, depois de balançar a cabeça vermelha de um lado para o outro. — Só por que o garoto está vindo, não significa que... — vendo-a esticar o pescoço e estando pensativa, pouso a colher na beira do pote e viro minha atenção para a mesma direção. — Menina, ele é só um guri.
— Bom, é muita coincidência. — suspira Melissa, mas não presto muita atenção nela. — A praça de alimentação tá toda lotada com pessoas lanchando por conta do Dia dos Namorados, sem falar que hoje vai passar na tevê um show. E... temos lugar sobrando!
   Tento localizar qual é o garoto que as duas estão falando. Ao redor da organização de mesas, há várias pessoas rondando pelos restaurantes em busca de outros lugares para se sentar dentro dos estabelecimentos ou apenas para pegar suas refeições. Tenho que voltar a visar Stephanie e minha outra amiga a fim de verificar para quem estavam olhando, retornar a virar meu rosto, passar meus olhos para a direita, observar alguém detrás de um grupo de colegiais e finalmente vê-lo.
   A pessoa não tem um físico de quem possa ser muito mais velho ou muito mais novo do que nós três. Consigo calcular que deva ter um ou dois anos de diferença no máximo – contudo, também posso estar enganada. Há um reflexo da luz roxa da sanduicharia na frente dele, fazendo os cabelos parecerem ser de mesma cor. Usa roupas simples: uma camiseta branca e uma calça verde escura. Há um casaco de lá cujas mangas estão amarradas na cintura dele. O engraçado é ele usar uns brincos e sandálias de dedo.
— Parecem serem folhas. — focando-me nos brincos, estreito meus olhos. — Ou... seriam asas? Acho que ele pode ser próximo de algum pesquisador. — concluo.
— Pesquisador, é? — assim que retorno à me endireitar na cadeira para tomar mais uma dose, encontro Stephanie com um sorriso enorme no rosto e os olhos brilhando como fossem faróis de carros. — Ah, seria interessante conhecer as pesquisas desse homem...
— Ou mulher. — digo, ainda não convicta que o menino seja o que deduzo.
— É sério que falamos da mesma pessoa? — Melissa arregala os olhos.
— Tanto faz. — Stephanie retruca antes de bater palmas. — Mas o importante é que eu poderei ter mais fontes de conhecimento, talvez fazer uma descoberta e...
— Ganhar o Prêmio Nobel? — Melissa dá um sorrisinho como soubesse do discurso.
— Isso mesmo. — orgulhosa de sua ambição, Stephanie cruza os braços e baixa a cabeça. — Não pode ser o que eu vá conseguir, mas um ser humano pode sonhar.
— Então você se esforce. — a outra paira a atenção um pouco na baixinha, antes de se virar para mim. — Não a entendo direito, mas você parece ser mais complicada, então vou dar uma caprichada... — quase me sufoco com a dose que acabei de engolir ao ver Melissa se levantar, encostar a cadeira perto da minha e me encarar séria. — Você tem cinco minutos pra bolar um plano. — então, fecho minha boca e tusso um pouco.
— Como assim “cinco minutos”? — questiono, percebendo ela fitar novamente atrás de minhas costas. — Sobre o que você está me dizendo? — observo-a esboçar um risinho.
— Ele está vindo para cá. — Melissa cochicha. — Aja naturalmente.


   Minha mente só é rodeada de “Hã” e “O quê?”, por que as únicas noções que possuo é sobre estarmos falarmos sobre um suposto parente de algum pesquisador, sobre essa mistura de sorvete cremoso e de chocolate duro, além dela parecer um pouco assustadora agora e Stephanie, do nada, voltar às suas atividades com palitinhos. Logo, não entendendo nada, viro para trás e me deparo com o menino a alguns metros de distância.
Mas ele não está olhando para cá. — noto que a pessoa está se aproximando de fato, porém tem uma expressão meio perdida ao erguer a cabeça para procurar por algo.
— Ah, isso eu sei, bobinha. — Melissa dá risada enquanto toca meu ombro com gentileza, depois de cochichar no meu ouvido. — Mas acha que é uma boa chance de encontrar alguma pessoa no meio dessas mesas? Fora isso, vocês dois parecem ter a idade mais aproximada. — sinto uma leve sugestão por detrás dessas palavras doces.
— Os pais dele podem estar aqui. — contraponho, terminando outra colher de sorvete e sentindo meu cérebro meio estranho. — Só por eu e ele estarmos aqui, não significa que estamos destinados, você sabe. Almas gêmeas? Isso não é real. — declaro, encarando-a.
— E o que é real? — Melissa se afasta um pouco para poder manter uma distância confortável pra mim, assim se aproximando de seu prato e o pondo em cima de uma bandeja onde está uma embalagem de batatas fritas. — Eu ouvi falar de uma história que minha avó, uma vez, me contou. — continua com suavidade, sem me olhar por se ocupar com os restos de comida. — Era sobre aquela árvore que fica no estacionamento. Pelo que alguns estudiosos indicam, aquela planta é mais antiga do que o shopping.
— Por que você está falando sobre aquela árvore? — arqueio uma sobrancelha em desconfiança, bem sabendo sobre ela não ser a única na família a ter crenças sobre “o amor ser infinito” em vários níveis. — Eu acho que sei de qual você está falando.
— Ninguém pode a tirar de lá. — Melissa se deu de ombros, como a resposta fosse boba. — Você não a ouviu comentar com a gente sobre os construtores do shopping não poderem a tirar? As pessoas que tentaram tiveram sonhos terríveis e o tronco é realmente duro de cortar. — a garota se reclinou na cadeira. — Dizem até que, quando isso tudo aqui era mato, a área do shopping abrigava uns relatos de assombrações...
— Destino, aquele cara, a árvore... Isso não faz sentido. — sinto-me fazer uma careta.
— Destino é aquilo que acontece quando você acha que você veio aqui por um chamado. — Melissa me diz após me olhar bem por uns segundos. — A árvore, a gente não sabe por que ela está aqui. Quanto ao “aquele cara”... — não a ouço falar algo por um tempo, até um sorriso discreto surgiu nos lábios ao espiar por cima da minha cabeça. — Um feiticeiro de coração reconhece outro feiticeiro de coração. — continua, não com a voz, mas com o movimento dos lábios.
— Hã? — é o que sai da minha boca, antes de me virar para trás pela terceira vez e...
   Epa. “Que é o que esse garoto está fazendo aqui?”, penso ao verificar que havia mesas com uma cadeira sobrando e não éramos as únicas adolescentes da zona. Diferente do que tinha visto antes, os olhos dele se focavam no meu rosto. Sinto uma tensão no sangue pelo meu corpo e acho que posso estar corando de vergonha, por que imagino “e se ele tiver escutado nossa conversa?”. Ou talvez eu só não goste de toda essa atenção.
— Oi. — depois de um minuto, recomponho meu bom senso e tento sorrir. — Posso te ajudar? — observo-o espreitar minhas amigas com um jeito meio inocente.
— Só estou procurando uma amiga. — ele responde calmo. — Ela deve estar por aqui.
— Então, por que você não tenta procurar em outro lugar? — questiona Stephanie, quem parece sair de alguma espécie de transe de introspecção. — Vai ver quem você está procurando não está mais por aqui. O shopping é grande. — gesticula para cima.
— Stephanie. — diante do conselho, não acho que esta seja boa ideia. — Ele está só.
— O que isso tem? — ela retruca, olhando-me calma através dos óculos. — Nós viemos sozinhas também. Sempre que viemos para cá, nenhum malandro ferrou com a gente.
— Acho que não é isso que nossa companheira queira dizer. — Melissa diz a Stephanie. — Estela está preocupada com ele, querida. Talvez nós fôssemos dar uma ajuda?
— Não, não, eu estou bem aqui. — com educação, o rapaz acena para minhas amigas se refrearem e então faz uma reverência (hã?) antes de prosseguir. — Só vim por que achei ter a visto. Geralmente, ela fica onde tem muita gente neste lugar.

Quem você procura é algum bichinho de estimação? — confusa assim como eu, Stephanie questiona após piscar os olhos umas três vezes. — Porquê, bem, podemos perguntar dos guardas se eles viram e...

   Antes que possa ouvir o resto, de repente ouço gritos. Brados do que parece ser milhões de vozes finas e furiosas. E sinto minha cabeça doer bastante, quase como se esses sons fizessem meu cérebro estourar, e algo molhado escorrer pelo meu rosto. Ao meu redor, não vejo mais as luzes berrantes das lojas ou as suaves das lâmpadas acima de mim. Mas sim só escuridão, além da sensação de que minha visão dá voltas como eu estivesse em um tango. Quando fecho meus olhos, tudo que enxergo são explosões de luz verde brilhante e as tais exclamações de irritação.
   Isso parece durar uma eternidade. Logo escuto e avisto um estalo pálido entre as faíscas, o que pareceu ser o suficiente para me despertar para a vida real. Ao contrário do que acreditei, não desmaiei: elas e o estranho ainda estão conversando sobre algumas coisas, entre estas havia um assunto da tal amiga dele só reaparecer à noite.
— Aí, vai passar um filme que nossa lindinha — observo Melissa gesticular na minha direção com um sorrisinho atrevido, tal menção que ele também nota a ponto de pôr seus olhos em mim. — gosta tanto que eu e essa bonitona aqui — desvio meu olhar do dele (por favor, que tensão é essa?!) e me viro para presenciar Stephanie pigarreando em advertência. — estávamos pensando em assistir depois, então se você ainda deseja esperar a sua amiga até não-sei-quantas-horas-da-noite...
— Como vamos conseguir que algum adulto venha buscar a gente? — controlo minha voz ao notar que havia um detalhe faltando nisso e os olhos bastante verdes dele não me deram uma impressão de segurança. — Garotas, nós somos de menor. — tento pôr senso e espero que uma das duas note o quanto estamos nos arriscando porquê mal conhecemos o menino e...
— Ah, cuido disso. — Stephanie diz como se a questão fosse nada demais, sem sorrir e com um tom vocal suave. — Havia dito para meu pai me buscar cedo mesmo e é bem possível que meu irmão mais novo venha para acompanhá-lo. — e faz beicinho, dando-se de ombros como Melissa automaticamente se virou para fitá-la curiosa. — É um filme meio infantil mesmo. — e ela estica um pouco da língua assim que eu a olho.
— Não é um “filme meio bobo”. — defendo, sentindo-me irritada e então minha amiga apenas me lança uma expressão desafiadora. — Tudo bem. Pode até ser bobo, mas é um filme de um ótimo livro. Não tenho culpa se o trailer não foi ruim. — pronuncio-me mimosa, tendo plena ciência que pareço uma criança aos olhos desses três, mas...
   Ah, não ligo. Gosto dessa série de livros desde menina e acompanhei as notícias do filme pela internet. Costumava aperrear meus pais para poder nós irmos juntos ao cinema, mas parece que eles estão se ocupando demais com os próprios problemas.
— A história ser deve muito boa para você querer ir ver esse filme. — estava tão concentrada nas leves provocações rotineiras de Stephanie sobre meus gostos que acabo me esquecendo que o estranho ainda está aqui... e para minha surpresa, sorrindo. — Quando você falou dele, parecia apaixonada até. — próxima, observo Melissa nos espiar com uma expressão difícil de ler e a outra dando alguns risos de compreensão.

— A história é muito importante para mim. — é o que tenho a dizer, com calma.

   Embora Stephanie e Melissa não façam uma grande reação por já serem acostumadas, o garoto olha bem para mim e há algo nele que me deixa imergir em suas íris. Quando ouço os estalos furiosos se cessarem na minha mente, passo a ter uma sensação de ser empurrada a uma mangueira e tragada até a um odor repentino de terra molhada.

— Eu vou com vocês. — ouço-o dizer, embora a voz dele pareça sair de dentro de alguma piscina até conseguir me compor, com medo, psicologicamente.

    “Algo me fala que vai ser um longo dia”, tento rir ao pensar nisso.
FIM
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Um comentário:

  1. O link de "Shooting Star" tá dando errado xD O link é esse daqui para quem quiser ouvir: http://www.youtube.com/watch?v=K7KMRBoqQUg :3

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