Olá!
O
amor está na NRA...
Embarcando
nessa onda de romances que o nosso Concurso Cultural as marcas de bombons que nos patrocinam e o
Dia dos Namorados nos proporcionam, decidi escrever um contão de três partes.
Três
partes, Drigo?
Sim,
nraninanos, três partes.
Em
“Virtualmente”, Liana é uma jovem que teve um infeliz relacionamento pela
internet e, Eron um homem que veio de uma cidade do interior para trabalhar no
Rio de Janeiro. Juntos eles vão descobrir que o amor pode se esconder através
de milhares de terabytes, assim como os perigos são mais reais e próximos do
que se imagina.
Espero
que vocês gostem!
Virtualmente
PARTE I — FERIDAS
1
Loiro,
alto, 17 anos, olhos claros e blá-blá-blá. Era assim que “Júnior” se descrevia
para mim no MSN. Bem, nós no conhecemos em um jogo virtual.
Não
parece que eu gosto de explodir cabeças de avatares de prostitutas, quem me
olha na rua acha que, no máximo, me debulho em lágrimas com livros cheios de
histórias fofas.
Mas
não.
Tudo
aconteceu tão rápido que nem notei. Júnior e eu nos unimos contra uma gangue
(eu o salvei, pois o meu avatar é um brutamonte e o dele era um nerd franzino)
e trocamos nossos e-mails. Foram três semanas de horas e mais horas de
conversas no MSN. Descobrimos que morávamos tão perto: eu no Rio de Janeiro e
ele em Petrópolis.
No
fim de janeiro, quando íamos completar um mês de amizade virtual, decidimos
trazer para a vida real. Pensei que estava apaixonada por ele. E estava mesmo!
Marcamos
na Praia do Leblon.
Foi
aí que a situação mudou totalmente.
—
Liana? — ele me cutucou no ombro e virei, sorrindo, para olhá-lo. — Sou o
Júnior. Talvez eu tenha... mentido em alguma coisa.
Júnior
era um homem (pelo menos isso!), mas não tinha 17 e sim 29 anos. Ruivo, 1,68m
de altura e os olhos mais oblíquos e dissimulados do que a Capitu do Dom Casmurro.
Meu
sorriso sumiu, pois, discretamente, Júnior levantara a camisa e vi o punho de
um revólver.
Acho
que não preciso descrever com precisão de detalhes o que houve depois, mas era
de madrugada quando a polícia me encontrou nas matas da Tijuca em um estado
irreconhecível.
Naquela
semana descobriram que o safado se chamava Fernando Antunes Júnior. Não é
difícil dizer que tudo o que era relacionado a ele sumiu sem deixar vestígios:
conta no banco, casa, assinaturas virtuais.
Fernando
era praticamente um desses ex-agentes da CIA que a gente vê nos filmes que são
demitidos por se aliarem ao inimigo e depois viram bandidos perigosos. Antes
fosse um filme de Hollywood; mas as marcas no meu corpo insistiam lembrar que
não fora nem um pouquinho ficção.
Isso
foi em 2007, há seis anos. Nunca mais soube dele. E nunca mais vou querer amar
de novo.
2
—
Liana Camargo, 23 anos, Rio de Janeiro.
E é linda! Precisa ver as fotos dela no Facebook — eu dizia para Lucas, olhando
a página dela no celular.
—
Tá bom, Eron. Já cansei de ti se apaixonando por todas as garotas da internet.
Cada nova aceitação de amizade é uma paixão avassaladora.
Estávamos
na praça. Comemorando as belas fotos que conseguimos tirar hoje para os últimos
trabalhos do curso de fotógrafo. É um milagre que tenha isso aqui em Vassouras,
eu estava quase indo para o Rio, há três anos, quando meu pai arranjou o curso.
Sempre
amei fotografias e garotas bonitas. Principalmente fotografar garotas bonitas.
Elas ficam ainda melhores eternizadas pelas lentes certas.
Lucas
acabou indo lá pra casa, como sempre, tomar o lanche delicioso da minha mãe.
Enquanto
ele ia encher o saco dela, fui ao computador checar meus e-mails. E...
—
MANHÊ! — gritei de felicidade.
Vieram
os dois correndo.
—
Eu consegui, mãe! Consegui! Vou ser estagiário de fotografia no jornal Rio Capital.
Lucas
foi checar o e-mail dele e lá estava uma mensagem igual dizendo a hora e o
lugar para nos apresentarmos ao editor-chefe.
—
Vocês dois têm é muita sorte. Dois meninos de vinte anos indo sozinhos para uma
cidade tão grande igual o Rio. O que me consola e saber que vocês dois vão ter
um emprego.
—
Não é emprego, mãe, é estágio.
—
Interessa? Em pouco tempo estarão os dois efetivados.
Uma
semana depois deixamos nossas famílias em Vassouras e, enfim, éramos dois
homens indo em direção à capital do estado do Rio de Janeiro.
3
—
Você sabe muito bem que eu não sei dirigir, Andréia.
—
Liana, por isso — ela rebatia, com a voz cheia de ironia —, precisávamos vir de
Uberlândia pro Rio de ônibus?!
—
Andréia, não enche — rosnei, por entre os dentes. — Eu acabei de enterrar os
meus pais. A tua sorte é que chegamos mais cedo na rodoviária e conseguimos uma
linha que não passa por Vassouras.
Cortei
a frase, a viagem fora mais curta do que o esperado. Estávamos na Avenida Brasil,
quase no Caju.
Uberlândia–Rio
não é uma viagem curta, mas para quem acabou de enterrar os pais, que morreram
num incêndio (enquanto recolhiam coisas na casa da avó que tinha sido enterrada
de manhã), era tão curta quanto ir do Centro à Barra da Tijuca num domingo.
—
Quer que eu durma na tua casa hoje? Pode deixar que pago o táxi e cozinho,
amiga. Tu merece ser mimada um pouco. Não faz essa cara, Lia, eu vou ficar
contigo e fim de papo.
Quando
entrei no corredor do décimo sétimo andar, no bairro de Botafogo, estanquei em
frente à porta.
Não consegue
simplesmente enfiar a porcaria da chave no buraco, Liana Camargo?!, gritei, mentalmente, comigo
mesma.
Após
cinco minutos paradas ali, Andréia falou:
—
Desculpa, Lia, mas eu tô com muita vontade de ir ao banheiro — estendeu a mão
para chave e perguntou com cuidado: — Posso?
—
Não!
Eu gritei? Por
que gritei com minha melhor amiga?
—
Desculpa, Andréia, eu tenho que fazer.
Enfiei
a chave e abri com violência. Ela foi se quebrando toda pelo apartamento escuro
enquanto andei até a cozinha para ligar o disjuntor. Cada centímetro daquele
apartamento estava cheio de lembranças.
Há
menos de dois dias estávamos nós três rindo naquele sofá cor de vinho, tomando
um tinto, quando o telefone tocou e minha tia informou que a mãe dela e do meu
pai estava morta. Fomos desabalados para Uberlândia e depois... o incêndio.
Perdi
três pessoas muito importantes num intervalo de tempo minúsculo.
Tateei
a parede ao lado da geladeira até a portinhola que escondia o disjuntor
principal.
TÁC!
—
E a luz se fez — Andréia gritou do banheiro.
As
lâmpadas da sala, banheiro e cozinha se acenderam. Afinal, nós duas fomos no
automático ligando-as enquanto tudo estava escuro. Coloquei a geladeira na
tomada.
Agora
parecia pior. Os retratos dos meus pais iluminados nas estantes, os bibelôs que
mamãe tanto gostava de admirar e levava a diarista à loucura quando ia limpar,
a velha máquina de escrever de papai. Ele sempre quis escrever novelas, o sonho
dele era fazer um roteiro que revolucionaria o cinema brasileiro. Lágrimas
silenciosas escorreram pelo meu rosto.
Trouxe
as malas para dentro e tranquei a porta. Deixei ali mesmo e fui para o quarto.
Abri as janelas e liguei o computador.
Nos
meus perfis das redes sociais, muitas pessoas me davam os pêsames. O Facebook
era o que tinha mais notificações. Foi quando eu vi duas solicitações de
amizade, a primeira da página de um blog de uma amiga da faculdade, e a segunda
de um carinha bonitinho chamado Eron de Bulhões.
De
repente começou a tocar uma música nas caixas vinda sabe se lá Deus de onde.
Logo descobri que é Si Nos Quedara Poco
Tiempo de Chayanne, um cantor porto-riquenho.
Pela
primeira vez em uma semana, eu sorri com sinceridade.
4
Lucas
e eu estávamos sentados em frente à secretária do editor-chefe do jornal Rio
Capital, o senhor J.J., que lia algumas matérias que tinham acabado ser
escritas. Ela parecia a Rita Skeeter dos livros do Harry Potter.
—
Essa aqui é bem no estilo que o J.J. gosta de publicar: sangue e tripas —
colocou os óculos na ponta do nariz e nos olhou. — Meninos, se depender dele,
vocês só vão fotografar cenas dignas de CSI
— soltou uma risadinha fina. — Sou Rita Carmen e vocês... Entrem, J.J. está
chamando.
Rita
Carmen levantou-se e abriu a porta para nós.
—
J.J., esses são Lucas Botelho e Eron de Bulhões, os estagiários de Vassouras.
—
De vassouras? Igual àquelas de bruxos?! — e soltou uma gargalhada ressonante. —
Foi só pra descontrair, vocês devem ouvir esse tipo de piada o tempo todo desde
que chegaram aqui. Não esquentem com isso, carioca é brincalhão meixxxmo — forçou o sotaque ao extremo.
— Sentem-se, Rita Carmen já ofereceu alguma coisa para beber?
—
Só estava te esperando chamar os dois. Não ia deixá-los ali na redação sozinhos
no primeiro dia — olhou-nos por cima dos óculos e fez tom de jornalista de
filmes antigos. — À mercê dos lobos famintos da imprensa marrom.
J.J.
se levantou, devia ter pouco menos de 1,70m, os cabelos longos e bem pretos,
sujeito magro e com a cara vermelha de tão barbeada.
—
Imprensa marrom! — irritou-se. — Francamente, senhorita Rita Carmen. Vá buscar
logo isso.
Quando
ela saiu, conversamos por meia hora. Tomamos café, comemos rosquinhas, e
soubemos que, de fotógrafos, só havia nós dois e mais três.
—
Ou seja — J.J. dizia —, se o trabalho de vocês for realmente bom, em quinze
dias estarão efetivados no nosso amado jornal Rio Capital. Que custa R$ 1,00 na
banca mais perto de você.
Levantamos
e ele me encaminhou para o setor investigativo da redação.
—
Larissa Lins? — chamei.
A
mulher loira de terninho preto ergueu dois dedos para que eu esperasse, estava
em uma ligação que parecia importante. Lucas se dera bem, ficou na seção de
esportes, as mais belas e estranhas fotos do jornalismo. Fotografar movimento é
genial.
Peguei
o celular e entrei no Facebook.
“Liana Camargo
aceitou sua solicitação de amizade.”
Sorrindo,
curti algumas fotos dela e postagens com a cara do Chapolin Colorado.
—
Você é... — a voz macia e importante de Larissa Lins me tirou do transe.
—
Ah, Eron de Bulhões — estendi a mão. — Fotógrafo estagiário. O senhor J.J.
disse que era para eu vir até a senhora...
Ela
riu.
—
Senhora? Por favor, só Larissa, e se vamos trabalhar juntos, saiba que não
gosto dessa coisa de “senhor” e “senhora”. Não quando é comigo ou com o pulha
do J.J., porque aquele lá só é senhor de respeito pelo cargo.
Larissa
parecia não gostar muito de J.J. ou da autoridade que ele exercia por ali.
Feminista? Gosta de poder? Nesse momento não me interessa tanto. Sentou-se e
segurou o queixo com a mão esquerda, alguns dedos sobre a boca.
—
Um incêndio criminoso aqui no Centro. A polícia vai prender os acusados daqui a
pouco. Era sobre isso a ligação. Espero que tenha trazido a tua câmera —
sorriu, levantando-se e pegando bloco, caneta e a bolsa. — Com fotos e uma
pitada de sorte, seremos a capa de amanhã! — apertou a minha bochecha. — Bebê
quer ir ao banheiro antes de sair?
Gargalhei
espalhafatosamente, um silêncio constrangedor caiu sobre a redação.
—
Seria bom, né?
Foi
a vez dela gargalhar alto, apontando para o corredor dois cubículos à frente.
5
Desde
a morte dos meus pais, se vão três semanas.
Eron,
o tal garoto de Vassouras que veio morar aqui no Rio, e eu conversamos muito
pelo bate-papo do Facebook nos últimos dias. Esse eu sei que não mente, ao
menos na aparência, porque já fizemos várias vídeo-chamadas por Skype.
Está
trabalhando no jornal Rio Capital como estagiário na seção policial. Lá na
Unirio, onde faço faculdade de T.I., não existem muitos leitores desse tipo de
sensacionalismo. Mas de vez em quando eu compro para ler o horóscopo.
Sou
Câncer. Eron é de Virgem.
Sempre
tive uma queda por homens virginianos, capricornianos, escorpianos.
Mas
levou um tempo até que eu voltasse para minha antiga rotina de conquistas depois
do estupro de 2007.
Júnior.
Até
hoje telefono para o delegado Almeida para saber se conseguiram alguma pista daquele
cretino, pervertido, infeliz, filho da...
A
janelinha de conversa do Eron pulou na tela.
Eron diz: Oi, Lia!!! Tudo certo
por aí?
Liana diz: Eron! Que susto! hahaha
Tudo bem, sim. E contigo?
Eron diz: Eu vou bem. Estava querendo
pegar um cinema no fim de semana... mas não tenho ninguém pra chamar, o Lucas tem
uma competição para fotografar.
Liana diz: Qual filme? ... ...
... Eron?
Eron diz: Espera, tem tantos
legais... Aqui! “O Homem de Aço” estão falando muito bem dele. Estreou semana
passada. Tem o novo “Star Trek – Além da Escuridão”, tá até saindo de cartaz
quase. E aí, quer ver qual?
...
Liana diz: Eu?
Ele
está mesmo me chamando pro cinema? A gente se conhece pela internet a menos de
um mês e... Tá, outros caras já me chamaram pra sair nos primeiros vinte minutos
de papo, mas...
Liana diz: Superman ou Spok pra
mim tanto faz, adoro os dois. Desde que seja aqui por Botafogo mesmo.
Eron diz: Sábado, meio-dia. Almoçamos
juntos. Minha chefa tá chamando. Beijos!
Eu
superei meu trauma, né? Se Liana Camargo se fechar para o mundo e só deixar a vida
ir passando, nunca vai conseguir.
Sabe,
tem uma frase que eu sempre digo: “Às vezes é preciso arriscar quando a cabeça
diz não para a vida te dizer sim”.
—
Parece que tenho um encontro! — gritei, dando pulinhos pelo quarto.
Entrei
no youtube e deixei Si Nos Quedara Poco
Tiempo do Chayanne tocando várias vezes.
O
grande problema, é que a vida estava prestes a me passar mais uma rasteira.
(CONTINUA)
~~x~~
O
que será que espera Liana e Eron nesse encontro? Júnior será preso um dia?
Que
motivos Larissa Lins tem para odiar J.J.?
Quer
saber essas e outras respostas de “Virtualmente”? Então não perca a PARTE II.
Adorei o conto, Drigo, seu mestre! Queeeeeero maaaais! Fiquei com raiva desse Júnior >:| Já torço por Lucas e Liana ;)
ResponderExcluirLucas não, Lucie! hahahah
ExcluirEron e Liana.
Segunda tem mais.
Eu confundindo pessoas -q
ExcluirEron é díficil de lembrar, pô -q
Mas tento, hehe :B
Ok :)
Amando o conto! - mas sou suspeita, amo romances, haha! <3
ResponderExcluirBeijos...
Valeu, Sâmella!
ExcluirTambém sou fã de romances fofuxos, hahaha.
Nas próximas partes terá mais romance, prometo.
beijos.
Adorei!! Muito bom *-*
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