Olá!
O
amor está na NRA...
E
agora é a hora da Parte II de “Virtualmente”, a primeira minissérie da NRA.
Anteriormente
em “Virtualmente”... Liana acabou de perder os pais e está tentando seguir a vida.
Eron e seu amigo Lucas conseguiram o estágio de fotógrafos no jornal Rio
Capital e conheceram o misterioso J.J., o editor-chefe, homem que Larissa Lins
odeia.
Vamos
ao que interessa!
PARTE II — CURATIVOS
1
Sábados
de sol são sempre belíssimos aqui no Rio.
Andei
um pouco pelo calçadão da Praia de Botafogo enquanto esperava dar a hora que
marquei com Liana no cinema.
O
Pão de Açúcar, quando bate o sol do meio-dia, forma uma sombra estranha na
pedra. A fênix. Enigmática e sombria fênix que só aparece na metade dos dias de
sol.
Bem,
pra mim é apenas uma rachadura formada por milênios de chuvas e vento.
Uma
da tarde. Não, treze horas.
—
Ah, tanto faz — falei, olhando para o relógio de pulso.
Desci
pela passagem perto da churrascaria e fui espera-la na galeria do cinema da Rua
Voluntários da Pátria.
Esperei...
Comi
um yakisoba.
...
esperei...
Comprei
um livro.
...
esperei.
—
Oi. Moço, que horas são? — uma menininha me perguntou, sorrindo.
Virei
meu pulso para responder, hesitando.
—
Dezesseis e vinte sete — respondi.
Ela
sorriu.
—
Moço, tá chorando?
—
Oi? — me dei conta de uma lágrima quente em minha bochecha gelada pelo ar
condicionado. — Não... — sorri, daquele jeito quer as pessoas sorriem quando
estão muito tristes, mas querem aparentar felicidade. — Foi um cisco... Assopra
aqui pra mim.
Abri
bem o olho entre o polegar e o indicador, a menininha assoprou e voltou para
junto do pai gritando-lhe as horas. Levantei-me e fui para casa.
2
—
Eu nunca vou te perdoar, Andréia! — gritei pela terceira vez.
—
Pois que seja! Ainda acho que salvei de mais um...
—
Estupro? — perguntei, irônica. — Sério? Andréia, presta bem atenção: tu não é a
minha mãe! Nem ela me impedia de sair com caras que conheci na rede... mesmo
depois... de tudo.
Larguei-me
na cadeira da cozinha. Ainda estava com o vestido vermelho de uma alça só,
cabelo arrumado, batom clarinho. Uma lady.
Lady Liana era como minha mãe costumava me chamar.
—
Obrigada por cuidar de mim — abracei-a.
—
Eu sempre cuido, Lia... sempre — pegou minha cabeça e obrigou-me a olhá-la nos
olhos. — Desde o colégio, lembra? Cada vez que uma de nós quebrava a cara com
um cara, chorava onde? No ombro da outra. E quando não queria mais ficar com o
sujeitinho? As duas armavam o pé na bunda!
Gargalhamos
por uns três minutos, que nossas barrigas doeram. Só começamos a parar quando o
celular tocou.
—
Alô? — atendi, ainda rindo. — Quem é? Aqui apareceu como número restrito.
—
Lilica.
Minha
espinha gelou. A vontade de rir foi consumida por ódio e medo. Fiquei tonta e
só não caí sentada, pois me segurei na geladeira.
—
Como conseguiu esse número? O que você ainda quer comi... — por mais que eu
tentasse, não conseguia gritar. Mesmo assim, a voz saía raivosa.
—
Estou morrendo de saudades. Também queria te dar os pêsames... — a voz dele era debochada.
—
Desgraçado, infeliz. Eu ainda tô te caçando, sabia? Um dia vou ter o prazer de
te ver atrás das grades e cuspir na tua cara.
Foi
aí que Andréia entendeu.
—
Deus do céu! É o Júnior! — e correu para a sala buscar seu calmante.
Júnior
riu do outro lado da linha.
—
Liliquinha do meu coração, não
adianta rastrear. Este celular é roubado. Mas se olhar pela janela, vai me ver
abanando pra ti.
Olhei
para Andréia e apontei mexendo os lábios... “janela”. Ela correu, se debruçou e
veio de costas para o meio da sala como se tivesse sido empurrada. Quando se
virou para mim, estava lívida.
—
Vai pro Inferno — sussurrei e desliguei. Peguei o interfone e proibi o porteiro
de deixar qualquer um subir. — Andréia, só existe uma coisa a ser feita.
3
Quando
Larissa me ligou para saber do encontro e contei tudo a ela, incluindo a parte
de chorar feito uma garotinha na frente de outra garotinha, minha colega de
trabalho me chamou para ir até o apartamento dela.
Era
numa ladeira no Bairro de Fátima. Terceiro andar de um prédio antigo.
—
Eron de Bulhões — ela disse, pesarosa, quando abriu a porta. — Vem cá, senta no
sofá. Vou pegar mais vinho e sorvete na cozinha.
O
lugar era bem jeitosinho. Sofá confortável, estantes com bons títulos de livros
e filmes e CD’s, a tevê LCD de 32’’, alguns quadros de paisagens na parede. O computador,
muito bonito.
Mas
nada disso eu notei, nem sei como cheguei aqui.
—
A jornalista que faz a previsão do tempo, disse que agora quando entrar agosto,
vai esfriar ainda mais. Mas já que os italianos tomam sorvete no inverno deles,
por que nós não podemos, né?
—
Claro, Larissa... Moramos tão perto um do outro. Lucas e eu estamos ali na Rua
dos Inválidos.
Ela
abriu a garrafa de vinho e o pote de sorvete de creme (sabor universal, todos
amam). Ao lado do sofá já tinha uma garrafa de tinto vazia.
—
Quer dizer que a tal garota da internet não deu as caras...
—
O pior é que eu estava gostando dela. A gente ouve histórias de amores virtuais
que deram tão certo na vida real, Larissa, só pensei que tinha alguém... pra
mim.
—
Sei como é, Eron. Quebrei a cara tantas vezes. Não importa de onde o cara
venha: computador, jornal, entrevista, balada, Pavuna. Nenhum homem presta.
—
Êpa, péra lá! Eu presto, sabia? No meu colégio, em Vassouras, todas as garotas
queriam dar pra mim.
Larissa
gargalhou e escorregou no sofá para mais perto de mim.
—
Vou fingir que acredito, Eron. Tu até que é bonitinho, mas ordinário.
—
Entre quatro paredes, sou o que tu quiser.
Espera.
O que eu tô fazendo? Tá mesmo rolando um clima com a Larissa Lins? Mas isso é
tudo porque levei um mega bolo hoje, pensei que o dia terminaria diferente e não
com a mulher com quem eu trabalho me beijando desse jeito tão bom e... Uau, ela
tem camisinhas na gaveta da mesinha ao lado do sofá?!
—
Amigos com benefícios é o que há! — Larissa disse, após um tempo.
—
Sem rótulos, sem compromisso.
—
Olha, já são 28 de Julho — disse, olhando no celular. — Eron, são quase uma da
manhã! — deu um pulo do sofá. — Vamos tomar banho rapidinho e ir pra delegacia.
Nessas semanas tu já aprendeu que as melhores notícias da coluna policial estão
nas madrugadas.
Fomos
tomar uma ducha gelada e nos pegamos mais um pouco. Entre um beijo e outro
perguntei:
—
Larissa, por que odeia tanto o J.J.?
Ela
fechou a ducha, se enrolou na toalha e foi para o quarto se vestir. Fiz o
mesmo.
—
Escuta, eu não queria quebrar o clima.
—
Por favor, sem desculpas agora — deu um suspiro profundo. — Eu não tenho
provas, não posso acusar formalmente.
—
Não pode nem me contar o motivo? Se for o caso, te ajudo...
—
Ele é um nojento de um pedófilo. Umas vezes eu o segui, vi pegar garotas, garotos...
Parquinhos, lojas de doces... — os olhos dela marejavam de rancor. — Eron, você
não entende, eu vi, fui testemunha ocular, mas fui incapaz de mover um músculo
para impedir. Todos aparentavam menos de dezesseis anos.
Abracei-a
e sentamos na cama.
—
Fotos? Testemunhos? Anotações?
—
Eron, na mesma época eu estava investigando uns traficantes em Copacabana. Invadiram
este apartamento, reviraram e levaram tudo. As provas contra os traficantes e,
o “Dossiê J.J.”.
4
Andréia
e eu esperamos algumas horas nas cadeiras da delegacia da Tijuca até que o delegado
Almeida nos chamasse.
—...
isso foi tudo — assoei o nariz ao final da declaração.
—
Então, o desgraçado do Júnior te ligou? Celular roubado, número restrito. Estaremos
preparados, Liana, quanto mais próximo ele voltar, mais rápido será preso.
Agradeci
e saí da sala dele ligando o celular. Um homem algemado tentava fugir dos dois
policiais que o seguravam e me assustou, tropecei e caí em cima de um homem com
uma câmera fotográfica profissional.
Quando
nossos olhos se cruzaram, reconheci-o imediatamente.
—
Eron de Bulhões? — perguntei, mas aqueles olhos não mentiam. Parece que o
destino dera um jeito de nos encontrarmos um dia depois do combinado, na hora
que deveria acontecer. — O Júnior me ligou hoje.
Abracei-o
e chorei. Ele não sabia o que fazer.
~~x~~
(Continua...)
O
que será que espera Liana e Eron agora que se conheceram?
Larissa
Lins, vai ter provas que incriminem J.J.?
Júnior
conseguirá pegar Liana outra vez?
até...
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