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sábado, 11 de maio de 2013

[FEITO A MÃO] Relógios



Os relógios tic-tacteavam, pendurados nas paredes. Tic-tacteavam nas prateleiras das estantes. E nos pulsos, e nos bolsos e bolsas. E nos gigantescos monumentos de praças. E tic-tacteavam na sua cabeça.

A cada momento de silêncio, ela fechava seus olhos e, mesmo que não houvesse um único relógio em seus arredores, ela podia escutar. Os tic-tacs pulsavam tão intensamente no interior de seu crânio que ela estava quase convencida de que, avizinhando seu hipotálamo, havia ponteirinhos que insistiam em lhe atormentar.

Cada tic era um lembrete de que mais um segundo havia se passado. Cada tac lhe avisava que nada ainda havia mudado. Engolfada em uma vida controlada pela rotina, eram os relógios que lhe guiavam.

Um tic-tac para o toque dos tamancos no tablado, dando os dois primeiros passos ao sair da cama pela da manhã. Tic-tac-tic, tic-tac-tac, eram seus dedos tateando, cansados, os teclados no trabalho. Tac-tac, tac-tac, tac-tac, o tremelicar dos transportes trafegando aos trancos na hora de  voltar para casa. Tic- tac, tic-tac - num ciclo  que não se cansava.

Os relógios sempre tic-tacteavam na sua cabeça. Cada pulsar dos ponteiros era um lembrete constante de que o tempo estava passando, e ela estava envelhecendo e, embora jovem, engolfada numa rotina cada dia mais distante da vida que desejava ter.

O tic lhe lembrava que mais um segundo havia se passado. O tac lhe avisava que continuava sendo muito covarde para tentar mudar. 

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