Os relógios tic-tacteavam, pendurados
nas paredes. Tic-tacteavam nas prateleiras
das estantes. E nos pulsos, e nos bolsos e bolsas. E nos gigantescos monumentos
de praças. E tic-tacteavam na sua
cabeça.
A cada momento de silêncio, ela
fechava seus olhos e, mesmo que não houvesse um único relógio em seus arredores,
ela podia escutar. Os tic-tacs pulsavam
tão intensamente no interior de seu crânio que ela estava quase convencida de
que, avizinhando seu hipotálamo, havia ponteirinhos que insistiam em lhe
atormentar.
Cada tic era um lembrete de que mais um segundo havia se passado. Cada tac lhe avisava que nada ainda havia mudado. Engolfada em uma vida controlada pela rotina, eram os relógios que lhe guiavam.
Um tic-tac para o toque dos tamancos no tablado, dando os dois
primeiros passos ao sair da cama pela da manhã. Tic-tac-tic, tic-tac-tac, eram seus dedos tateando, cansados, os
teclados no trabalho. Tac-tac, tac-tac,
tac-tac, o tremelicar dos transportes
trafegando aos trancos na hora de voltar
para casa. Tic- tac, tic-tac - num ciclo que não se cansava.
Os relógios sempre tic-tacteavam na sua cabeça. Cada pulsar
dos ponteiros era um lembrete constante de que o tempo estava passando, e ela
estava envelhecendo e, embora jovem, engolfada numa rotina cada dia mais distante da
vida que desejava ter.
O tic lhe lembrava que mais um segundo havia se passado. O tac lhe avisava que continuava sendo
muito covarde para tentar mudar.
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