Banner Submarino

quarta-feira, 15 de maio de 2013

[FEITO A MÃO] As Duas Irmãs

http://tavernafilosofica.files.wordpress.com/2011/05/coelho-branco.jpgConto "muitissímo levemente" inspirado em Alice no País das Maravilhas do mestre nas histórias de nosense, Lewis Carroll. Alice e Célia são duas irmãs que pararam em um lugar onde a lógica não faz a lógica. Possui todas as ferramentas necessárias para que as duas possam se divertir. É uma coisa que Célia tem prazer em realizar, embora Alice tenha suas dúvidas sobre o preço que têm que pagar para ficar em um lugar como aquele...

As Duas Irmãs

  
   Uma menina de cabelos ruivos deu um longo suspiro ao pensar com seus botões.

- Por que eu não consigo me lembrar? – quis saber ao encarar a criatura na sua frente.

   As paredes eram feitas de diversas coisas. Como cadeiras, bonecas, espelhos, relógios quebrados, velas queimadas, pedaços de roupas, doces, bichinhos de pelúcia, laços de cetim para cabelo, chapéus... Tudo debaixo do nada. Era um nada amarelo imitando teto e céu para o chão, o xadrez onde havia fenômenos fora do normal.

   Sentou-se perto de um Bispo branco. Observava um ser engraçado. Com um corpo vermelho de mamute, rabo de coelho e três árvores em cima de sua cabeça. Tinha uma cabeça enorme que comportava nove olhos e dois buracos que supôs serem os ouvidos. Havia um excesso debaixo dos orbes que parecia uma máscara que cobria o nariz e a boca.

   Mas ela se interessava por uma casinha esférica presa entre duas dos troncos das plantas.

- Alice, - A menina espiou o alto. Havia um plano marrom que cheirava a achocolatado e, em cima dele, havia outra garota com algumas feições semelhantes às suas. – por que não pega algum brinquedo por aí para se divertir? É tão chato ficar parada!

- Não posso, Lia. – Disse a ruiva para sua irmã. – Penso em como viemos parar aqui.

- Ali, - A garota que Alice se lembrava chamar Célia tentou confortá-la enquanto fazia uma parábola no ar. Uma chuva de risos se seguiu após isso. – se você quer saber de alguma coisa, tenta ir naquela casinha. – Apontou para o animal com cinco olhos fechados.

   A ruiva o olhou ao se espreguiçar. Havia tentado chamar a atenção de quem estivesse naquela pequena residência. Caçara bolas de papel, objetos pesados e instrumentos musicais. Porém, não houve manifestação a não ser da própria criatura que se erguia em balbucios. Este via quem incomodava seu sono, dava um longo olhar, suspirava e voltava a dormir. Era difícil subir nele, pois este sempre achava que havia algum ‘bichinho’ fazendo cócegas.

- Você sabe que tentei muito. – Sentia o sono pesar suas pálpebras. – Nada deu certo.

   Célia encarou a irmã com seus olhos elétricos tendo uma faísca de compaixão. Sentindo que sua pilota estava com a mente turva, o plano resolveu flutuar próximo da ruiva. Estivera brincando o tempo todo e estava se divertindo, mas não vira Alice fazer o mesmo.

- Ah, custaria nada tentar mais uma vez, irmã. – Disse com suavidade. – Com meu plano voador, podemos ir a todos os lugares que quisermos por aqui. – A loira sorriu por animação.

   Alice a encarou pelo canto dos olhos. Não tinha certeza quanto ao que acontecia com elas, mas não queria a ajuda da irmã. Mesmo se o que estivesse tentando fazer fosse para Célia também, tinha má impressão quanto a seres animados daquele lugar. Havia tentado voar por um porco alado. No entanto, quando iam chegando à porta aberta, o animal fora repelido.

- Boa oferta, mas não. – Apoiou o queixo com a mão ao ouvir a si mesma balbuciar. – Desisto de tentar qualquer coisa por enquanto. Além disso, não durmo uma eternidade.

   Quando Alice chegou àquele local, encontrara Célia deitada dormindo no meio do xadrez. Antes disso, não se lembrava de outras coisas a não ser que tivera um pai, uma mãe, uma casa e a irmã. Fazia-se perguntas sobre o porquê de ser a única acordada em meio a tanta diversão. Ao pensar nisso, sorriu consigo mesma e resolveu aproveitar a chance. Não queria ter foco em mais nada. Porém, isso fez com que se esquecesse donde era ou a face dos pais.

   Tocando-se sobre o que ocorria com suas memórias, havia ponderado por muito tempo. Quando isto aconteceu, passou a sair dos seres voadores para caminhar pelo local. Então avistou a casa acima do animal gigantesco que se deslocava pelo local. “Talvez quem estiver morando naquela casinha possa me ajudar” havia dito a si mesma quando resolvera segui-lo.

    Entretanto, ali estava Alice sentada no meio do xadrez. E debaixo do nada amarelo. Sua irmã havia acordado há algum tempo – a ruiva não sabia mais como contar dias ou horas – e já estava em êxtase. Em uma ilusão que a outra não sabia se conseguiria parar.

- O que houve, irmã? – Indagou Célia em preocupação. A menina resolvera pular do plano. Não era a primeira vez que fazia isso, então não temia. – Você está com essa tristeza desde que a vi. Não há motivos para se preocupar.

   Alice a encarou por um breve momento, antes de se deitar no piso frio. Estava cansada. Queria dormir e tentar pensar da mesma maneira que a irmã, mas não poderia fazê-lo por conta do sentimento que se esvaziava. A verdade era que estava com medo. Pavor que a fazia se render ao sono e fechar os olhos para poder ver se não acordava onde não fosse ali.

- Célia, - A ruiva a chamou baixinho. – será que viemos pra cá por termos sido más?

   A garota dos cabelos loiros a encarou. Estivera estocando uma de suas mechas.

- Não seja boba. – Replicou Célia. – Se formos más, então por que estamos aqui?

- Talvez por termos feito algo de errado? – Alice sugeriu desanimada ao rolar pelo chão.

   A loira a encarou, pensativa por breves minutos, antes de proferir:

- Ai, quanta besteira! Fizemos nada de errado, minha irmã. – Ela bufou cansada, antes de observar Alice fechar seus olhos e dar um pequeno suspiro. Não houve replicações.

   Sentou-se ali, desviando seu olhar para a criatura na sua frente. Sentia-se incomodada pelo comportamento de sua irmã. Como irmãs, achava que poderiam se divertir juntas e esquecer os problemas. Entretanto, existiam sempre as questões existenciais que a desconfortavam.

   Antes que o vazio pudesse definitivamente abraçá-la com o gancho da dúvida, ela ergueu seu queixo e seus olhos se iluminaram ao avistar mais atentamente o pelo do animal. Então, olhou rápido para Alice para ver se esta se importaria. Vendo-se triste pela irmã, decidiu não esperar. Foi até o bicho ao se desviar de duas estátuas negras. E começou a afagá-lo.

   Enquanto isso, a ruiva estava em um sonho. O sono traiçoeiro a pegara depressa e a menina não pudera batalhá-lo. Via borrões claros emoldurando o cenário, o qual era gradualmente absorvido. O céu era azul claro e as duas estavam em um jardim bonito. Uma mulher se encontrava sentada na cadeira de balanço e lia um livro na grama. A garota concluiu que aquela podia ser sua mãe, embora não conseguisse ver seu rosto.

   “Olha, Ali!”, ouvia a voz de sua irmã, “Vi um coelhinho! Perto dos arbustos de amoras, olha!”

   O foco do sonho se mudou para os arbustos que as separavam de uma enorme floresta. Não soube o porquê, mas nenhuma das duas meninas podia adentrá-la. Por causa disso, estacou-se e disse temerosa “Deixa ele pra lá, Célia”. No entanto, pudera ver a irmã salientar o lábio inferior: “Mas ele é tão bonitinho, Ali! Olha as orelhinhas dele!”

   Fora a vez de a mãe chamá-la. “Querida, volte para cá. É perigoso ter contato com os animais da floresta. Não sabemos o que pode ter lá”

   “Mas mamãe!”, protestara Célia mimosa, “Nós mal saímos de casa!”

   “Mas mamãe está certa”, Alice se lembrou de não ter conseguido tirar os olhos dos do coelhinho. Rubros como sangue. Sua mente, naquele momento, havia entrado em estado de transe. Nesse momento, o bicho movera suas orelhas interessado. “Embora...”, ela mordera o lábio inferior, “seja realmente muito bonitinho”. “Alice!”, sua mãe a fizera voltar a si e a ruiva sacudiu sua cabeça ao se lembrar do que havia dito. “Não olhe nos olhos dele”.

   Então, o foco fora à Célia, quem afagava o animal.

   “Lia”, respirara fundo no lado dela, “vamos deixá-lo aí. Nós podemos ouvir mais uma das historinhas da mamãe”, tinha sorrido ao estender uma mão para a vista da loira.

   “Historinhas?”, os olhos azuis elétricos haviam cintilado, “Com lugares fora do planeta?”

   A mãe parecia haver assentido, pois não demorara a que sua irmã deixasse o animalzinho de lado e corresse para rondar a mulher de vestido azul. Então, um pensamento fluiu. Ela não soube exatamente qual era, pois estava cheia deles. Mas isso a fez encarar as orelhas do animal, como fora recomendada a não encarar seu olhar.

   “Nunca ouvi falar que este lugar poderia ter coelhos”, ponderou, “a não ser que... Uma parte das histórias loucas de mamãe seja verdade. Você veio dos túneis, não veio?”, sentia que o bichinho a encarava, antes que este pudesse pular para o outro lado dos arbustos.

   “Alice”, chamou sua mãe aliviada, “venha para cá. Vamos para casa, querida”

   A ruiva se lembrara de ter assentido e andado para elas. Entretanto, um arrepio havia corrido pelo seu corpo ao escutar ruídos vindos do arbusto. Então, uma força a içou e correu para dentro da floresta. Alice, a esse ponto, considerava o sonho como uma memória.

   E esta estava em seus restos. A menina apenas vira o rosto jovem de seu captor. Tinha olhos vermelhos como os do coelho e vestia uma espécie de macacão surrado. Recordava-se de ter dormido ao dizer “Você era um garoto” e ouvido sua irmã gritar seu nomes repetidas vezes enquanto tropeçava nas raízes das árvores que fechavam sua visão para o Sol.

   Assim que enxergou a memória completamente escurecida, acordou suando frio. Em um ímpeto, sentou-se no chão frio preto-e-branco em agonia. Ela pôs, então, suas mãos em suas têmporas e trincou seus dentes ao tentar se aliviar.

   Quando a ardência passara, olhou ao seu redor. Estranhou que o Bispo branco não estivesse mais ali. No seu lado do tabuleiro, restou apenas um pino branco desesperadamente próximo do final, um Cavalo negro e uma Torre negra. Do outro lado, a Rainha negra. “Como se moveram em tão pouco tempo?”, franziu o cenho, antes se perceber só.

- Onde está Célia? – Quis saber, visando todos os cantos até notar a loira rindo contra a cabeça do animal das três árvores. Ergueu-se e foi até ela. – Célia!

   A outra menina parou de rir imediatamente. Seus olhos azuis iguais aos da irmã ficaram inicialmente inseguros, antes de brilharem com um pequeno sorriso estupidamente alegre.

- Irmã! Veio para finalmente brincar comigo? – quis saber, radiante.

   Alice conseguira chegar perto dela. A dor de cabeça fazia a causado uma tontura que quase a tinha feito tropeçar perto do pino branco solitário.

- Célia, - Pegou no braço dela com urgência. – você pode me responder uma pergunta?

   Os olhos da loira, antes reluzentes, começavam a ficar mais sombrios.

- Então não veio até a mim para brincar comigo e sim para mais perguntas idiotas. – Bufou, cruzando os braços contra o peito e dando as costas para a irmã. – Como eu pude ser tão estúpida? Acreditando que assim que você acordasse, iria querer brincar de amarelinha!

- Você sabia que, se eu dormisse, acabaria esquecendo mais de alguma coisa. – A realização se irrompeu na cabeça da ruiva. – Como pôde permitir isso?!

- Eu já disse. – Célia respondeu com o foco em afagar o animal. – Tudo que quero é que a gente possa se divertir. Juntas! – Então, encarou a irmã com decepção. – Mas como você pode fazer isso quando fica pensando em um monte de coisas que não faço idéia?

- Deixa de ser egoísta, Lia! – Alice gritou com raiva pulsando em seu sangue. A irmã respondera com o olhar desgostoso. A ruiva ao ver que não conseguiria despertá-la para a realidade, suspirou. – Olha, preciso só perguntar uma coisa, está bem?

- Então durma mais. – Condicionou a outra. – Daí vou te atender, Ali.

- Você... – Alice resolveu ignorar ao falar com dificuldade. – se lembra de nossos pais?

   Houve silêncio. Célia parou de afagar o animal. Seus olhos miraram arregalados a irmã.

- O quê? – Perguntou confusa. – Eu não estou entendendo, Alice.

- Eu disse... – A ruiva enfatizou as próprias palavras, tentando se controlar. – Nossos pais. Você se lembra deles? Da nossa família? Papai, mamãe, titio-

 - A-Alice... – A menina fora cortada pela visão de sua irmã em prantos. – eu não me lembro o que é isso. Pai, mãe, tio... Família... Lembro das palavras, mas não do que elas significam.

- Ah, Célia. – A ruiva pousou as mãos nos ombros da outra e os massageara. A loira não conseguiu mais conter as lágrimas e logo passou seus braços no pescoço de Alice para um abraço apertado. – Precisamos agir. Precisamos voltar para lembrarmos-nos de quem formos.

- Mas isso será possível? – Célia indagou incerta ao afastar o rosto do ombro da irmã. Fungava. – Já tentei procurar por saídas por aqui. Não consegui achar nenhuma!

   Foi a gota d’água para Alice. Seus olhos encararam a casinha esférica no topo do animal, forçou seus pulmões ao exclamar impaciente: “JÀ CHEGA! SABEMOS QUE VOCÊ ESTÁ AÍ! SUBA SE NÃO FOR COVARDE! QUEREMOS IR EMBORA PARA CASA!”

   Nesse momento, um tremor de terra fez o lugar todo estremecer. Célia se agarrou ao braço da irmã, não sabendo ver o que estava acontecendo. Porém, a ruiva ainda posava desafiante.

   Um relâmpago irrompeu perto da montanha de coisas e a luz apareceu nas janelas da casinha.

   “QUEM OUSA INTERROMPER OITO, O MAGNÍFICO, EM SUA TRANQUILIDADE?”, uma voz majestosa parecia sair de todos os lugares, “MOSTRE-SE CRIATURA E TERÁ SEU MERECIDO CASTIGO!”

FIM (?)

QUER PARTICIPAR DO FEITO A MÃO? TEM ESPAÇO PRA VOCÊ! ENVIE SEU CONTO PARA CONTATONRA@GMAIL.COM OU PUBLIQUE SEU DESENHO/POEMA NO NOSSO TUMBLR! QUEM SABE NA PRÓXIMA SEMANA NÃO É VOCÊ RECEBENDO OS COMENTÁRIOS?

Comente com o Facebook:

Nenhum comentário:

Postar um comentário