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quinta-feira, 23 de maio de 2013

[FEITO A MÃO] Caça-Humanos

Você ouviu falar de monstros que tentam manter a ordem entre o seu mundo e o deles? Talvez as coisas possam parecer de um certo ângulo para nós, assim algo bastante ou "mais ou menos" diferente para as criaturas que ocasionalmente comemoramos, mais lembradas em épocas de festas como o Halloween.
Aqui, temos apenas um pedaço da nova rotina de Riz e Pek, uma dupla de uma bruxinha e de uma menino lobisomem, os quais são os mais novos agentes investigativos do outro mundo de um determinado departamento que trabalha com o assunto. Vamos dar uma espiada? ;)




Caça-Humanos


— Pek, — Anunciei, enchendo minhas bochechas de ar e dando um olhar certeiro. — não é hora de comer quando nos chamam pra uma missão. E isso pode sujar alguma coisa...


— Ná, isso, não é muito importante, Riz. — Meu parceiro de trabalho só deu risada enquanto acabou com a carne da coxinha de frango que segurava. — Não acho que os chefes vão se incomodar.


   Apenas lanço um olhar descrente, mas logo viro meu rosto para frente e ajeito meu chapéu negro afunilado. Pelo visto, vai demorar pra ele se comportar caso as orelhas lupinas continuarem a se mexer desse jeito. Ah, quando o lobo não se farta com comida?


   Mas há uma boa razão para que eu ser a única capaz da posição de parceira de Pek. “Companherismo” foi a palavra dada, quando nos conhecemos há seis meses, logo depois de temos sidos recusados para tantos trabalhos; por sermos considerados completamente inúteis só com os duros treinamentos na Academia Strange. Somos, à primeira vista, parecidos: somos os mais novos agentes investigativos do outro mundo, o grupo que chamam de ‘Caça-Humanos’.


   Na verdade, já fazíamos esse trabalho como caçadores-em-treinamento. É tradição honrosa, segundo as famílias do Sobremundo, em mandar filhos depois dos seis desanos à instituição visada para a preparação de profissionais ao mundo dos humanos. Porém, isto é só oficializado após uma licença em que um monstro obtém depois de um atempo na academia e também de uma simulação. Então, o caçador de humanos tem que escolher para qual dos vários postos de departamentos investigativos pretende ir. E esperar chefes considerarem trabalho.


— Estamos prontos para nossa primeira missão, Sr. Vlad e Sra. Tas!


   Logo após passar por alguns secretários esqueletos de ternos de amarelo e violeta com bolinhas azuis, estes cochichando divertidos alguma piada de morte, tomei a liberdade de impor minhas mãos no portão grande de metal derretido com ossos e abri-lo para fazer nossa entrada.


— Vai ser algum esclarecimento sobre um mal-entendido dos turistas que se registravam debaixo da cama dos filhotes humanos? Ou vamos ter que capturar algum humano que anda aterrorizando nosso mundo com aquele papo murcho de “exterminação”? — Senti a excitação borbulhar do meu estômago e uma terrível morta felicidade preencher meu sorriso esquisito que adoro. Meu peito parecia inflar como um balão. — Eu, Rizalina Hoquipocus, e meu estimado companheiro,  Pekem Blancaluna, estamos dispostos à mais estrema das missões para poder controlar o Caos entre o Sobremundo e o Mundo dos Humanos!


   Na minha frente, estavam duas figuras influentes na ordem de nossa sociedade.


   Havia um senhor com alguns dentes pontiagudos discretamente salientes, com uma capa rubra macia de golas altas se prendendo em correntes no tórax. Podia observá-lo com um suéter cinza por debaixo, além de suas elegantes calças pretas (preto é tão expressivo!) e suas botas de ponta quadrada. Os seus cabelos longos se prendiam numa trança solta. O cheiro é bem desagradável, um aroma que os monstros poderiam sorrir dizendo “é terrível”: aquele ali lembrava um cemitério! Ele é sempre tão bonito com essa aparência fúnebre na não-moda do Sobremundo! Essa autoridade é o Sr. Vlad Sanguinário, um dos dois chefes principais.


— Ué, cadê a Sra. Tas? — Pisquei meus olhos, algum atempo estática por conta da apresentação, e verifiquei meus lados (assim como minha frente, atrás de mim, para cima e para baixo) na esperança de vê-la com algum livro mofado da Biblioteca Sobrenatural. — Eu pensei que ela estivesse aqui...


— Você não acha... Hum... — Barulho de baba e mordida. — que ela pode, a algum... Hum... — De novo. — ponto de sua apresentação barulhenta, Sra... Hum... — Novamente. — Tas não estaria dormindo... Hum... — Outra vez. — em algum canto? — Pek tentou sugerir despreocupado a mim, já com o ossinho de carneiro preso entre seus dentes, estes fortes desde seu inaniversário, e com as mãos peludas com alguns restos de comida e um molho gorduroso.


Arqueei uma sobrancelha, achando aquela atitude irônica.


— Mas você tem que admitir que foi uma apresentação zombificável, o tipo que andei ensaiando por atempos...  — Retruquei mimosa ao cruzar as pernas, irritando-me com a ideia que Pek poderia estar sugerindo que meu trabalho foi um unicórnio fofinho. Essa comparação é boa aos ouvidos. — Qual é dessa educação de lobisomem, fazendo esses sons altos e famintos? Você quer ser os holofotes do espetáculo? Além disso, para onde foi a nossa trilha sonora com relâmpagos e tempestades? — Lancei decepcionada, mas logo me esqueci da raiva e então cutuquei distraída minha unha pintada de preto na minha bochecha. Relembro que quase me sentia “ao baixo” com aquilo a ponto de rir. — Seria tudo mais terrível se aquela melodia feliz tivesse acrescentado uma qualidade a mais no nosso show.


— Bah, não estou reclamando da qualidade. É só que ela dorme bastante, só isso.


   Ele fez um gesto com uma das patas quase mãos, como estivesse tentando espantar uma borboleta rosa persistente, além de um sorriso convencido com um olhar que me dá uma piscadela. Retribui com a língua pra fora. Imaginei, naquele momento, o porquê de tal confiança. Tampouco sabia porquê esse detalhe me tirava do sério, só que aquilo era um alívio...


    Não que eu vá admitir isso.


— Se eu fosse vocês, olharia para o espelho. — Nós dois (sendo que Pek teimava em mexer o ossinho entre os dentes até transformar em pó) viramos nossas atenções para o vampiro, quem estava bem humorado. — Vai ver que vocês possam achar alguma pista ali, crianças.


  É raro vê-lo não sorrindo com sua grande calma. Suas pernas se cruzaram, uma mão no queixo e uma outra – um dos dedos vestindo um na anel de rubi – indicava o espelho oval um pouco acima de nós.


— Achar algo ali? — Pestanejei, esticando meu pescoço para ver que este estava a alguns centímetros do teto com molduras com alguns cristais e besouros barulhentos, tal objeto irrompido no ar por algumas correntes de prata. — Tem algo escrito lá? Nunca vi aquilo antes...


— Para que serve? — Pek questionou e então nossas cabeças se viraram para o chefe.


   Sr. Vlad apenas sorriu, gesticulando para que fôssemos lá. Parecia não querer responder.


— Certo, eu vou lá... — Anunciei, sem antes verificar: — Você está indo também, Pek?


— Você precisa perguntar? — O menino lobo me passou um sorriso torto e divertido, enquanto eu observava uma mudança do seu porte que parecia se retorcer.


    Já decidido o que eu faria, fechei os olhos por um segundo, memorizando as palavras para aquele encantamento enquanto sentia a energia fluir. Com aquilo, não consegui mais ficar insegura, pois sabia que tudo iria dar certo – havia treinado tantas vezes aquilo com meu clã entre minhas irmãs. Assim que os abri, pus certo impulso nos pés, dobrei meus joelhos e saltei como o chão fosse partir a qualquer instante.


    Foi rápido, alcançar. Conseguia sentir a magia me carregando até lá em cima e também o ruído do ar nos meus ouvidos. Pelo canto do olho, pude notar Pek, a forma mais selvagem, movendo-se depressa e saltando entre os gárgulas encostados até o teto. Voltei meu foco no espelho e freei meus sapatos quando já nos encontrávamos refletidos no espelho.


— Consegue sentir alguma coisa? — Agachado em um encosto, meu parceiro interrogou entre um uivo e uma voz. — Só sei que tem um cheiro estranho.


— Não sinto nada... — Respondi, tentando localizar mentalmente algo naquele espelho.


    Ergui uma sobrancelha, confusa, enquanto analisava toda a extensão. Sob as luzes azuis de velas presas em lustres, existia um cintilar naqueles cristais com absurdo poder. Por um momento, fiquei tentada a tocá-los, mas virei minha cabeça para a névoa que se formou sob nossas reflexões. Achei bastante esquisito, logo, para me certificar, lancei um feitiço de desrevelador de armadilhas. No entanto, uma luminosa barreira rebateu violenta o encantamento, fazendo uma bola de luz púrpura (meu encanto) estalar no ar.


— Que... O que é esse espelho? — Quis saber Pek, a voz voltando a se estabelecer como da forma que lembrava a de um humano. Não estava assustado, afinal, por que estaríamos? Esses espelhos funcionam pra tantas coisas que, com essas gemas, não sei qual tipo de magia ele tem.


— Procurando alguma coisa? — Pudemos escutar um riso leve e senti uma sensação fria.


   Uma mão feita de um material translúcido com vários vermes mortos saiu da superfície do objeto e me tocou no ombro. Olhei-a e, por instinto, disparei uma bola de fogo contra a coisa. O resto da criatura, qual conteúdo deslizava para fora no contorno de tentáculos até o chão, saiu com um cabelo grande e uma máscara de carne. Ao ainda ver o sorriso de Sr. Vlad, adivinhei.


— Sra. Tas, você é aterrorizante! — Eu me senti pasma de euforia, o que  Pek não entendeu. — Quase não pude reconhecê-la, tentando nos assustar com essa nova forma... — Sem resposta, observei um sorriso pequeno na máscara de carne.


   Todo o cenário do espelho se desfez em espirais para só restar, flutuando comigo, o espírito de uma jovem Caça-Monstros dos anos 80. Não sabia muito sobre os Caça-Monstros, mas os monstros dizem para tomar cuidado com eles. Porém, Sra. Tas era nossa amiga e saíra de onde era por muito tempo. Sr. Vlad parece ser muito próximo dela, pois, assim que ela irrompeu – seu vestido branco parecendo um balão e seus cabelos no ar semelhante a serpentes venenosas – ao lado do líder da comunidade vampiresca do Sobremundo, notei uma curva sádica nele.


— O tempo deles é agora, não é? — Ela disse com sua voz de costume, uma baixa e doce, ao tocar no encosto da cadeira do chefe. — Essas duas crianças estavam apressadas para essa missão, Sanguinário. — Ao ouvir aquilo, o vampiro sorriu divertido ao mover seu anel para poder nos transmitir a imagem de um garoto humano com “uma blusa e uma calça estranhas”. E reconheci aquilo sendo algum uniforme das escolas do outro mundo.

FIM?
 
QUER PARTICIPAR DO FEITO A MÃO? TEM ESPAÇO PRA VOCÊ! ENVIE SEU CONTO PARA CONTATONRA@GMAIL.COM OU PUBLIQUE SEU DESENHO/POEMA NO NOSSO TUMBLR! QUEM SABE NA PRÓXIMA SEMANA NÃO É VOCÊ RECEBENDO OS COMENTÁRIOS?
 

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