Bora conferir?
Emily Bloom era o tipo de garota da qual
todo mundo queria distância. Não porque não fosse bonita, ou tivesse alguma
doença contagiosa; não. Muito era dito a seu respeito, e algo se sobressaía: ela
era estranha.
Não
estranha do tipo nerd, nem gótica, nem neurótica. Ela não
se vestia de um jeito incomum, nunca tinha feito ninguém chorar, não usava
drogas e passava as tardes como qualquer garota normal passaria. O que a
diferenciava?
Talvez
seu talento único de descobrir segredos.
A
menina sabia de tudo, de alguma forma. Quando passava nos corredores, todos se
calavam, com medo de serem expostos ao ouvido de radar de Emily Bloom. Havia
inúmeras especulações: ela tinha delatores, tinha câmeras em todos os
vestiários e armários, tinha grampeado todos os telefones da escola. Sabia até
dos podres dos professores, e do diretor. A escola era sua.
Tudo
começou na sétima série, quando Emily contou ao professor de álgebra que seu
amigo Collin tinha colado na prova. Isso não era tão difícil de descobrir, mas
logo em seguida ela avisou Jordan Bane que o time de futebol planejava
expulsá-lo. Houve vários casos de traição, obviamente. Kayla e Liam, Iris e
Oliver, e sempre tinha um terceiro membro envolvido. Não importava quem fosse,
ela sempre sabia.
Começou
a ficar mais sério no ensino médio. Emily literalmente ameaçou o professor de
História no meio da aula, porque ele estava considerando uma prova surpresa
desnecessária. Disse que ligaria para Mary, a mulher dele, e contaria o que ele
realmente andava fazendo nas noites de quinta. O professor ficou pálido, e só
então todos tiveram certeza do poder de Emily.
Ela
não era fofoqueira. Ninguém a contava
nada. Mas ela sabia, sempre.
Apesar
de seu poder, Emily Bloom era triste. Ninguém nunca suspeitaria, mas da ponta
das suas botas de caminhada até o último fio de cabelo castanho, ela se sentia
extremamente solitária.
Então,
veio o garoto novo.
Tom
Smith era apenas outra vítima, ou era o que todo mundo pensava. Ninguém o
avisou para ficar calado enquanto ela passava. Ninguém disse para evita-la. Na
verdade, Tom não tinha sido muito notado desde o primeiro dia de aula. Vestia
camisas de banda e o cabelo era sujo e bagunçado. Ia da escola para casa e
fazia todos os deveres. Passava noites em claro jogando vídeo game e baixando
músicas. Não falava com ninguém a não ser que falassem com ele.
Eles
se encontraram na biblioteca. Emily estava sentada sozinha na única mesa com
lugares sobrando, porque ninguém queria sentar perto dela. Lia um romance
qualquer de garotas. Tom carregava imensos livros de história, mais a sua
mochila, e desabou na primeira cadeira vazia que viu, por acaso, bem ao lado
dela.
Logo
percebeu seu erro. Inúmeras cabeças se voltaram na sua direção. Emily levantou
os olhos do livro e o encarou, surpresa, notando sua existência pela primeira
vez.
-O
quê? – Tom estava subitamente com calor. – Tem algo de errado com essa cadeira?
-Tirando
o fato de que é bem ao meu lado... – ela disse, meio insegura. Não falava com
ninguém na escola desde o primeiro ano.
Ele
não pareceu entender. É novato, Emily percebeu. Ela se perguntou se agarrava
aquela chance ou se o alertava das consequências de serem amigos. Mas o que é
isso, ele só queria um lugar para sentar, pelo amor de Deus. Não estava jurando
eterna lealdade nem nada.
-Pode
sentar aí, eu já estava de saída... – ela se apressou em guardar suas coisas e
poupá-lo das fofocas posteriores, mas derrubou seu livro no processo e os dois
se abaixaram para pegá-lo ao mesmo tempo, o que causou a colisão das duas
cabeças. Emily recuou, soltando uma reclamação de dor, e viu que Tom ria.
-Desculpe...
Meu nome é Tom.
Não
podia ser, ela pensou. Impossível. Não.
-Emily
– ela sussurrou. Havia várias pessoas cochichando agora, ela podia ouvir.
Abaixou a cabeça e pegou o livro discretamente.
-É
impressão minha ou você não é muito popular por aqui? – Tom perguntou, notando
a inquietação na biblioteca.
Emily
deu um sorriso que poderia ser considerado de desculpas.
-A
maioria das pessoas me evita – admitiu.
-Por
quê?
Essa
era a pergunta de um milhão de dólares.
-É...
Meio... Complicado – ela sentiu que corava.
-Sempre
é complicado.
Tom
sorriu quando disse isso, e Emily notou que seus olhos tinham a cor do café
preto que ela tomava toda manhã a caminho da escola. Emily adorava aquele café,
assim como adorou ver os olhos dele piscando agora.
Então
contou a ele sobre os segredos, sobre seu talento, sobre o medo que causava nas
pessoas. Mais do que isso, admitiu que odiava tudo aquilo.
-Não
é culpa minha saber de todas essas coisas – ela disse, mas ao mesmo tempo em
que falava notou o quanto aquilo soava ridículo, e suspirou. – Eu só...
Constantemente... Me encontro no lugar errado, na hora errada. E descubro algo.
-Interessante.
– Tom tinha ficado sério durante toda sua confissão, sem tirar os olhos de
Emily.
-Não
é um talento, é... Mais uma maldição.
-Entendo.
Emily
parou de falar e o encarou muito séria.
-Ok,
eu vou embora. – E pegou seus livros.
-O
quê? – Tom riu e segurou seu braço. – Não vai não. Vai ficar aqui e me dizer
por que deixa sua vida ser afetada por esses idiotas da escola.
Ela
não teve resposta. Sentou novamente, se sentindo cansada.
-No
início, eu tentei ajudar – sussurrou. – Queria fazer amigos, essas coisas. Mas
as pessoas começaram a ficar com raiva. E depois, com medo. Agora simplesmente
me evitam.
Tom
não conseguia parar de rir.
-Emily...
Eu não te conheço a dez minutos, e já acho você incrível. Mas não seja tão
ridícula.
Isso
a fez arregalar os olhos.
-Sabe,
eu poderia revelar seus segredos mais
íntimos e causar sua humilhação social completa...
-É
uma pena, já que meu segredo mais íntimo provavelmente é que... Eu jogo vídeo
game de cueca.
Emily
não conseguia acreditar na própria sorte. Ela deu uma gargalhada que fez a
bibliotecária lhe lançar um olhar feio.
-Agora,
falando sério – ele se inclinou na sua direção. – Isso aqui só vai durar mais
dois anos. O resto da sua vida vai ser diferente. Sua maldição pode ser bem útil, no futuro. Grandes
empresas vão brigar por você.
Enquanto
ele falava isso, ela imaginou esse futuro. Não parecia tão ruim.
De
relance, viu o relógio da biblioteca que indicava que devia ter chegado em casa
quase uma hora atrás. Emily levantou com um pulo, e Tom a seguiu.
-Eu
realmente... – ela não sabia como se despedir. Na verdade, não queria. Ficar
ali conversando com aquele estranho que zombava do seu talento parecia muito
melhor do que qualquer alternativa.
-Já
tem que ir? – ele pareceu até triste. Mas começou a pegar as próprias coisas, esquecendo-se
da pilha de livros.
-Preciso
ir pra casa – ela riu. – Você vai fazer o quê, me seguir?
Tom
colocou a mochila nas costas e fingiu pensar por um minuto.
-Sim,
se não for muito incômodo. – Sorriu. – Quem sabe você consegue descobrir algum
segredo obscuro meu. Tipo que eu sou um vampiro.
-Argh,
não! Chega de vampiros! – Emily riu. Ela não ria assim fazia muito tempo. Os
dois saíram da biblioteca juntos, rindo, deixando muitos alunos confusos para
trás.
Tom
acompanhou Emily até a esquina da sua casa, já que morava na outra rua. Eles se
falaram na escola todos os dias depois disso. Emily guardou os segredos de
todos daquele dia em diante, e nunca mais tentou ajudar. E, felizmente, nunca
descobriu nada obscuro sobre Tom, a não ser o detalhe da cueca. Ele era um cara
sem segredos. O único segredo que surgiu, depois de meses sendo amigos, era que
Tom gostava de Emily, muito mais do que antes. E como sempre, Emily, de alguma
forma, descobriu.
A
boa notícia? Ele era correspondido.
Quer ter seu conto ou texto postado aqui na NRA?
Envie seu material pra gente no contatonra@gmail.com
achei essa historinha tão tão bonitinha <3 parabéns, Amanda :))
ResponderExcluirMuito bacana essa história
ResponderExcluirBeijos
@pocketlibro
http://pocketlibro.blogspot.com
Mas que história fofa, Amanda! <3 Amei mesmo!
ResponderExcluirQuem dera se nós tivéssemos esse poder de descobrir os segredos alheios... Ia ser assustador, mas bem bacana né?
Adorei o final! Amor correspondido é a maior alegria do mundo, fala sério! Hahaha
Beijinhos! www.primeiro-livro.com