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quinta-feira, 8 de agosto de 2013

[FEITO A MÃO] Escalando aquela colina, Parte III

Primeira Parte aqui.
Segunda Parte aqui.
O penúltimo  de uma série de quatro contos (tô começando a achar que a história toda que planejei não dá nem três ou quatro, MAS CINCO, só que isso seria muito pra cês, por isso vou tentar acabar com quatro) que envolvem uma menina com um desejo de ter um amigo e um gato com um segredo incomum :)
No primeiro, houve as primeiras impressões. No segundo, se mostrou o prosseguimento da relação. E aqui, no terceiro, imagine >:)


Escalando aquela colina (III)

Meu pai diz que é melhor eu dormir.
O café me diz telepaticamente que não.
E meu cérebro concorda com o café – afinal, faltam umas dez questões ainda.
Fico sentada nesta cadeira, massageando minhas têmporas com uma mão. Enquanto isso, bato a caneta na mesa com a outra. Na minha frente, apoiada por um suporte preso à parede, está uma pequena imagem de Nossa Senhora. Olhando-a com suas mãozinhas juntas, suspiro após divagar um pouco.
Enquanto algumas pessoas tem como maior suporte Buda, Alá, um panteão de deuses, contos de fadas, exemplos de carne e osso, a energia do cosmo e outros incentivadores de ‘acreditar’... Tenho a mim mesma, meus pais e estas figuras que minha mãe instalou no meu quarto para olharem por mim. Acho que muito bem poderia terminar mais cedo isto, se eu tivesse pedido uma ajuda.
Mas de quem? Internet não confio tanto. Meus colegas não ofereceriam ajuda – para eles, lembro uma ‘assassina’. – por terem medo que eu planeje algum plano doido de vingança pela morte da minha irmã psicopata e que hipoteticamente os envolva em algo digno de novela global. A questão é que nem tenho interesse nisso. Só quero ser feliz, poxa.
Tudo bem. Neste momento, minha maior preocupação é em terminar esta tarefa. Depois, tento sobreviver sozinha na minha escola e me transformar em um rato em fuga na hora do lanche. E, enquanto sobrevivo, procuro minha felicidade. Balanço minha cabeça e faço uma careta, não acreditando no trabalho que ainda vou ter amanhã.
Bufo e empurro toda minha vontade de tirar uma soneca. Sinto que estou em um estado zumbi, porém, acredito que ainda dá pra trabalhar assim. E, com esse pensamento cravado na minha mente, tento continuar a resolver as questões. Pouco a pouco, com a ponta da minha caneta esferográfica azul, consigo chegar perto de algumas respostas. Não o suficiente, só que não consigo pensar direito. De vez em quando, sinto que meus olhos se esforçam pra minha testa se inclinar o bastante para tombar contra o caderno.
Franzo meus lábios. Se eu continuar assim, posso ter alguma hemorragia cerebral.
Coço perto do meu queixo, decidindo o melhor a se fazer. “Hemorragia cerebral ou dormir?” vira meu dilema por uma eternidade de minutos: posso sofrer estudando, só que tenho amor pela minha vida também. , meus instintos falam mais alto e meu corpo logo sai da inércia temporária. E então vou pra meu local favorito do quarto.
Minha cama. Com lençóis coloridos por cima e uma massa descansando entre o algodão. Quase acho que é um travesseiro e quase capoto em cima como um míssil se...
— Ah, desculpa por esquecer que você está aí, amiguinho. — bufo, posicionando minhas mãos na cintura e minhas pestanas cobrindo parte de meus olhos.
O gato que encontrei hoje se acha dormindo. Bem quieto, embora tenha um ar de lazarento. Notando isto me faz olhar para a tenda em cima dele e achar que é hospitalidade demais. Algo macio pra dormir já é bom. Temos que começar uma política de igualdade aqui. Sei que moramos em uma sociedade capitalista, porém...
— Ei, por quê estou conversando sozinha na frente de um gato?
E minha voz tá meio engraçada. Espreguiço-me, inclinando pra um canto onde eu não possa esmagar algum pobre coitado. “Talvez seja um efeito colateral do café? Quem sabe”, tento encontrar uma resposta que pode ser a menos lógica. Mas o suficiente pra calar a boca das minhas preocupações e permitir meu sono merecido. Acabo levando um pouco das tendas comigo.
No entanto, espiando de relance, vejo que não prejudiquei muito o felino.
Olho para o lado. Tem um espaço sobrando. E eu falei sobre igualdade, não foi?
Encaro o gato dorminhoco e, meio desajeitada, ponho seu corpo para dormir no outro travesseiro. Antes que meus olhos finalmente se fechem, vejo que, por instantes, ele entreabre os dele pra poder soltar um miado. Parece cansado e tranquilo. Sendo isso, mergulhando na superfície do meu mundo dos sonhos, digo mentalmente “Miau pra você também”.
E então durmo. Ou é o que acho que estou fazendo. Não tem luz ligada, logo não vejo nada que possa atrapalhar meu sono. Todas as canseiras nervosas se dobram e meu cérebro tem um pouco de paz. Ouço alguns miados ocasionais, fazendo-me virar para o outro lado pra não ter que olhar o gato. Quase entro em um estágio do sonho onde vejo as coisas da minha cabeça, até perceber, com minhas olheiras, que alguma coisa está puxando forte os lençóis.
O gato é pequeno demais e fraco em comparação a mim. Não pode ser a força dele. Penso que pode ser algo da cama que está prendendo alguma ponta do lençol. Ou melhor, nem penso: só é instinto de preservação de conforto. Balanço-me de forma a puxar o cobertor mais pra mim. E dá certo.
É só esperar dar mais uns dois minutos que a ‘coisa’ volta a puxar o bendito. Argh.
E então tento puxar de novo. Nesse procedimento, envolvendo meu próprio peso como força, minha mão acaba parando em cima de uma superfície dura. Sem pelos. Mas nua e parcialmente coberta pela textura do lençol. Aí que noto que isso não envolve nada solto da estrutura da cama e nem o próprio gato. Só uma ‘coisa’ que é bem diferente.
Assim que me aproximo do que pode ser – imaginando que, talv
ez, seja um sonho como existe uns que parecem ser a vida real quando na verdade não são –, percebo sons de sopro e um obstáculo duro que parece ter osso e...  
Toco. Seja lá o que isto seja, tem pele. É macia, parece um ombro de alguém e sinto algo que parece ser um braço me trazendo para perto de uma superfície plana engraçada e...
Abro meus olhos, a adrenalina navegando em alta e me fazendo nem perceber mais sono. ESPERA UM MINUTO, ESSA ‘COISA’ PARECE SER UMA PESSOA. Ainda estou no escuro, a luz que corre para dentro é a da Lua, assim mal consigo enxergar. Então eu pulo, com dificuldade – tenho que me tirar do que parece ser braços – e ando lerda até o interruptor de luz para ligá-la e...
TUDO BEM. TUDO VAI FICAR BEM. ESTOU SONHANDO. ESTOU CALMA.
Belisco bastante minha bochecha, tentando desesperadamente sair desse sonho.
— I-Isso é... um... um sonho... — consigo me ouvir tremer. — ...É? — rio.
Deusinho do céu, por favor, não me diz que isso tá realmente acontecendo comigo... Fecho meus olhos, respirando e inspirando em um ritmo rápido. Tento me convencer que estava tendo alucinações ou que fiquei doida (mas como fiquei?!). Ponho uma mão perto do meu peito, e posso sentir meu coração disparar feito um louco em perigo.
Só que olho de novo e a mesma visão permanece. Experimento meus lábios se contorcerem em um sorriso e o único som que escapa deles é uma risada falha, quase sem humor. Quero dizer... Isso só pode ser bruxaria, não pode? Há, há!
— Hm... Quem ligou a luz? — estou a um passo de aceitar essa loucura quando ouço alguém falar. — Mano, podia jurar que não tava ligado quando dormi...
Congelo quando me deparo com a realidade caindo sob minha cabeça. Uma vez, mamãe havia me dito que quando você se vê com um estranho, a primeira coisa que se tem a fazer é ter atitude. E se você se sentisse invadida, melhor pensar é gritar por socorro. Nunca achei que usaria isso, mas bem...
Bem... TEM UM GAROTO NU DEITADO NA MINHA CAMA. COMO EU NÃO POSSO ENTRAR EM PÂNICO QUANDO NÃO SEI DE ONDE ELE BROTOU?
— Ah... — eu tenho que pensar em um momento assim?! — Ahh... AHHH...
— Por... por quanto tempo eu dormi?
A mão passa pelos cabelos claros, enquanto o lençol (não, É MEU LENÇOL!) cobre uma boa parte do corpo que nem ousaria ver, e ele passa a se espreguiçar. 
— Falando nisso... — algo LITERALMENTE BROTA da cabeça dele. — onde tá aquela menina? — os olhos, cada um com uma cor diferente, vagam até chegarem a mim. — ...o que houve? — ao dizer isso, ele ronrona.
Só que, ao invés de dar atenção a esse par, fito um outro par. Só que pontudo... Só que animado... No lugar do que deveriam ser... AS ORELHAS DELE E ISSO NÃO TÁ ME AJUDANDO A FICAR CALMA, CARAMBA! E O QUE TÔ FAZENDO AQUI?!
— MÃEEE, ME AJUDA! — a primeira e brava reação que tenho a esta situação é virar meu corpo para correr mamãe-pra-que-te-quero pra bem longe aqui.
Antes que eu possa alcançar a porta – considerando-se que demora um bom tempo pra acordar meus pais de sono de pedra —, eis que sou impedida.


 Continua...



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