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domingo, 28 de julho de 2013

[LEITOR CONVIDADO] Conto de Férias

O conto de hoje foi enviado pra gente pela leitora Amanda Cunha, e é realmente um dos mais gracinhas que eu já li. Luna, nossa protagonista, só quer mesmo é esfriar a cabeça, quando, do nada...
Bom, vocês vão ver.


" Pego um casaco e saio sorrateiramente pelo pequeno portão inútil de madeira. É um fim de tarde e está prestes a cair uma tempestade, mas isso não me impede nem me faz hesitar. Continuo andando, subindo até chegar ao topo da rua, em uma encruzilhada. Vou direto, atravesso a rua, me encolho dentro do casaco porque o vento é forte e gelado. Quero apenas deixar pra trás as conversas inúteis e situações ridículas nas quais sou inserida. Queria que tivesse alguém do meu lado, não para conversar comigo, apenas para estar ali. Só para que eu não estivesse sozinha, como sempre.
          Chego até a orla, e continuo andando. Agora está caindo uma chuva fina, hesitante, mas muito fria. E está bem mais escuro do que quando saí. Aperto os olhos, porque estou sem óculos, e foco três pessoas sentadas em um banco. Ou continuo andando, passo por elas, ou volto pra casa. Balanço a cabeça para a segunda opção e forço meus pés a se mexerem. Abaixo a cabeça quando passo pelas pessoas - dois garotos e uma menina, talvez da minha idade - levantando o rosto somente quando estou bem longe deles.
          A orla está deserta hoje. Ando pela calçada em mosaico, tropeçando de vez em quando em alguma pedrinha fora do lugar, e ando até minha cabeça esvaziar, até minhas pernas implorarem para que eu pare. Paro um segundo, apenas para tomar fôlego. Constato que a chuva está engrossando. Densa demais para que eu permaneça de baixo dela. Estou olhando ao redor agora, procurando abrigo, quando sinto uma mão em meu ombro e me viro, com um grito.
          -Calma! - o garoto levanta as mãos inocentemente. Era um dos três que estavam no banco. - Só queria avisar que seu celular tá quase pra cair.
          Levo a mão até o bolso de trás do short, onde meu celular está metade dentro, metade fora. Empurro mais fundo até ele ficar completamente escondido.
          -Obrigada - respondo sem muita emoção. O garoto fica parado lá, olhando pra mim como se eu fosse dizer mais alguma coisa. Levanto as sobrancelhas. O que ele queria? Um abraço de agradecimento? Dinheiro?
          -Está chovendo - ele diz.
          -Mentira! - reviro os olhos, não conseguindo evitar ser sarcástica. O cabelo preto dele está pingando. - Não tinha percebido.
          -Acho... - ele faz uma pausa, me observando com cuidado, como se eu fosse louca. - Que devíamos entrar. - Então aponta para uma sorveteria perto de onde estamos parados.
          Olho feio pra ele, querendo que ele saia de perto de mim, que me deixe em paz no meu momento dramático debaixo da chuva. Mas estou começando a tremer de frio, e quando ele pega no meu braço e diz "Vamos", me afasto apenas um pouco para preservar minha dignidade e o sigo até a sorveteria coberta.
          Tem mais gente lá dentro, se protegendo da chuva, eu acho, e me acomodo em uma cadeira vermelha de plástico. O garoto, para minha surpresa, pega uma cadeira igual e a coloca do meu lado, e se senta.
          -Cadê os seus amigos? - pergunto pra ele.
          -Foram embora... Eles namoram, aqueles dois que estavam comigo. O pai da garota veio buscar ela de carro e ele foi junto. Me deixaram sozinho pra pegar chuva. - Um sorriso hesitante faz as bochechas dele ganharem covinhas.
          Meu coração acelera só um pouquinho. Olho pra ele com atenção pela primeira vez, e descubro que ele é bonito, até. Tem um rosto bem perfeitinho, um nariz fino, lábios bem desenhados, olhos castanhos e profundos. A pele é mais clara que a minha, e o cabelo é liso e está ensopado de chuva. Por baixo de uma camisa azul marinho simples, vejo que sua forma física também não é das piores.
          -Desculpa ter sido chata... É que... Não estou muito bem. - Faço uma careta arrependida. Ele continua sorrindo.
          -Não tem problema. Meu nome é Alex. - Ele estende uma mão na minha direção. Seus dedos são longos e finos.
          -O meu é Luna. - Aperto sua mão, estranhando que continuasse tão quente mesmo naquele tempo, mas gostando da sensação.
          -Tem quantos anos?
          -Faço dezesseis semana que vem.
          -Sério? Parabéns adiantado então.
          Eu rio. Lá fora a chuva continua a aumentar, até podermos considerá-la uma verdadeira tempestade.
          -E você? - pergunto.
          -Fiz dezessete esse ano. Mas e aí, Luna... Nome bonito. Significa lua, certo?
          -Certo... - olho para baixo, odiando ter saído de casa tão desarrumada. Minha blusa estava até rasgada, por favor!
          -Está de férias? - Faço que sim com a cabeça e ele continua falando, me perguntando coisas. - Está com a sua família?
          -É uma casa perto daqui - digo a ele. - Estamos todos lá, minha mãe, minha tia, meus irmãos, meus primos...
          -Que... Legal. - Ele para um segundo e fica com a expressão meio vazia. - Não tenho irmãos nem primos. Minha mãe...
          -O que aconteceu com ela? - pergunto em voz baixa, reconhecendo aquele tom que ele usou como um sinal de que não estava tudo bem.
          -É uma ótima pergunta. - Ele dá um riso seco. - Ela e meu pai se mandaram pra algum lugar quando eu era pequeno... Moro com meus avós na cidade, e eles são bem liberais. Me deixam viajar com meus amigos, sair pra qualquer lugar, andar a noite na rua. É sorte eu ter feito boas amizades, se não estaria bem perdido uma hora dessas...
          Fiquei olhando pra ele, sem acreditar que estávamos falando de coisas tão pessoais depois de 2 minutos de conversa.
          -Você parece feliz assim - afirmei.
          -Eu sou. Mas gostaria de saber como seria... Sabe? Viajar com os pais, brigar com irmãos, ir no cinema com primos e essas coisas.
          -Às vezes é... Complicado. - Olho pra baixo de novo, desejando esquecer meus próprios problemas em casa. - Às vezes tem umas coisas que... A gente simplesmente tem vontade de mudar. Brigas internas sem sentido... Às vezes é demais pra aguentar.
          Levanto o rosto e vejo que ele tá me olhando, meio sorrindo, meio concentrado no que estou dizendo.
          -Mas você parece feliz - ele arrisca.
          Eu rio.
          -É, eu sou - concordo. - Só queria... Que algumas coisas se resolvessem, e assim não precisaríamos mais de tantas discussões intermináveis... - suspiro com pesar.
          -Vai dar tudo certo - ele afirma com convicção. - Você é nova ainda, tem muito tempo pra isso. Muito tempo pra tudo.
          -É o que dizem.
          -Porque é verdade. - Ele tá totalmente virado na minha direção agora. Meu cabelo começou a secar, e tá ficando todo enrolado. Fixo bem os meus olhos nos dele e percebo que tem um pouco de verde no meio daquele castanho profundo.
          Percebo que não estou mais ouvindo o som da chuva batendo no teto da sorveteria.
          -Parou de chover? - pergunto como uma idiota, cortando o clima.
          Ele olha lá pra fora, e balança a cabeça.
          -Parece que sim. Você precisa ir pra casa agora?
          -Acho... que sim. - Penso na minha mãe preocupada pensando onde eu me meti uma hora dessas na chuva. Me levanto, e Alex se levanta ao mesmo tempo, e de repente ele tá muito perto de mim mesmo. Levanto os olhos só um pouquinho, percebendo a proximidade dos lábios dele, e abaixo o rosto de novo, sentindo minha pele queimar.
          -Foi... Bom te conhecer - digo baixinho, torcendo pra que ele tenha conseguido me ouvir, e vou caminhando pra sair da sorveteria. Um pouco rápido demais, tenho certeza. Então, quando chego na calçada, certa de que Alex não estava me seguindo, tropeço de novo numa daquelas malditas pedrinhas e quase caio de cara no asfalto.
          É quando sinto um par de braços fortes me segurando e me puxando de volta, até que meus pés estivessem firmes na calçada. Levanto os olhos e vejo ele. Percebo que estou completamente colada em Alex, e meu rosto esquenta de novo, queimando de vergonha.
          -Obrigada - consigo dizer. - De novo.
          Ele ri e me solta. Mas meu coração tá batendo descontrolado.
          -Te segui pra perguntar se queria que eu te acompanhasse até em casa - ele diz. - E pelo visto você não consegue dar dois passos sem cair, não é?
          Abro a boca pra falar alguma coisa sarcástica e que vai afugentar ele, mas não consigo. Não sei se é pelo sorriso dele, ou pelo modo como ele me segurou, ou se é só porque eu não quero caminhar sozinha de novo. Dou de ombros e encaixo meu braço no dele, sorrindo, agradecida. "



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3 comentários:

  1. adorando estes contos tão cutes *_*
    parabens para a Amanda, fiquei aqui com um sorriso bobo no rosto ao ler o final.
    bjos

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  2. Oie,
    adorei mto fofo!! me lembrou meus próprios contos rsrsrs

    Parabéns a autora!!!

    bjos

    http://blog.vanessasueroz.com.br

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  3. Aii, que fofo!

    Amei, estava com saudade de ler contos assim!

    Uma continuação seria incrível!

    Beijos

    Mel Geve

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