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sábado, 27 de julho de 2013

[FEITO A MÃO] Responsabilidades de nascer primeiro



Ser irmão mais velho ou irmã mais velha não é nada fácil, principalmente quando os caçulas são vidas complicadas de explicar. Os pais ficam ocupados e, de vez em quando, você banca uma espécie de vigia.
Bom, acompanhe conosco em um pequeno drama de um primogênito! :)





 

 Responsabilidades de nascer primeiro
Minha irmã é uma pilantrinha com cara de bebê.
Espera. Ela é um bebê – um ano e seis meses, um cheiro gostoso em sua pele rosada e um sorriso no rosto – assistindo a um programa do Discovery Kids. Mamãe não está por perto, então ela toma toda a liberdade de navegar (literalmente) pelo berço de lençóis dourados.
Ela seria uma gracinha se não tivesse puxado a minha orelha por eu ter pegado uma boneca das mãos dele. Digo, ela quase ia arrancando a cabeça da minha Barbie. Por alguma razão, acho que ela gosta do meu brinquedo da infância. Só que não posso deixar a loira nas mãos dela. Por que acho que o “amar coisas” da minha irmã é um tanto dúbio.
Haja paciência.
Não posso ver o episódio novo de Guerra dos Tronos até minha mãe voltar.
E cara, como minha mãe demora no banheiro! Não é a toa que tem tantos produtos de beleza no armário de lá. Ou que aquele lugar feda a flores (bom, não é bem um fedor, mas você me captou).
Ainda ouço o barulho da água escorrendo pelo chão, além do ruir das gotas da chuva que ocorre lá fora. Também há os ventos. Invadindo o sétimo andar como bruxas em companhia de fantasmas. Fazendo aqueles sons sobrenaturais como se algo invisível estivesse furioso com a gente.
A televisão não deveria estar ligada, acredito. Mas meu pai – quem agora saiu não sei pra onde – tinha me dito para a deixar assim para distrair a ‘Mandioquinha’. Que depois que ela acorda, despertada de seu sono sagrado, a criaturinha rechonchuda chora por atenção ou pro alerta. As coisas são muito sensíveis para ela. Parece que qualquer coisa a faz chorar e pouca coisa faz ela se acalmar.
Entre as coisas que fazem minha irmã se acalmar, tem o programa dos trens falantes. Sei que trens falam, mas parece que ela não. Quando vemos algum noticiário onde apareça um trem, minha irmã fica com os olhos brilhantes a espera do trem falar. É muito difícil explicar de onde os colegas dela surgiram, imagine explicar que os programas do Discovery Kids são fantasia. Por isso, fico com minha boca quieta.
Pelo menos, ela não pôs baba no vestido que eu fiz com tanta dedicação na máquina de costura. Não gosto muito de Barbies, mas costumava experimentar os vestidos delas para poder fazer uns outros. Ficavam nem um pouco bonitos porquê não tinha muita técnica com o negócio de ser artesão. E nunca considerei que Barbies fossem dignas para serem modelos, porquê elas tem aquelas pernas tão enormes e também tem aquela desproporção toda.
Ainda me pergunto por que tanta mulher quer ser magra como essas Barbies.
Vai entender.
E caso você me perguntar sobre eu estar generalizando as coisas, pondo até a mim na categoria ‘mulheres’ e que sou hipócrita, aí vai uma revelação. É uma das razões pelas quais meus pais não me deixam ter a boneca que eu quero – não uma Barbie, mas sim daquelas lindas de porcelana (ou de uma madeira com um monte de detalhes) com aqueles cabelos bonitos. – ou até acham que eu sou uma pessoa sem salvação.
Sou um garoto de uns treze anos.
Não sou homossexual (e sim, eu sei o que é homossexual e pretendo nem ouvir a mesma explicação que meus professores deram quando um pai de um colega meu me chamou disso). Não visto vestidos. Ou saias. Ou coisas com babados, exceto aqueles trajes de nobres de época em festas de carnaval ou halloween. Só sou um menino que gosta de desenhar, costurar e fazer vestidos, blusas e saias para bonecas.
Talvez a maior influência para mim fazê-las seja um antigo vizinho dos meus pais quando eu tinha uns seis anos, um homem de uns trinta anos que fazia e vestia bonecas com materiais que dava forma com as próprias mãos. Ele fazia umas coisas legais, que pareciam meninas de verdade. Acho que já vi ele fazendo bonecos colecionáveis com roupas de época, também.
Já agora poderia estar fazendo alguma coisa ou então ver Guerra dos Tronos, mas sinto um pouco de tédio. Ficar sentado, vendo esses trens falante e ouvir minha irmã apontar pra um e outro – e eu dizer “Amanda, tenta ficar sentada, senão você vai acabar caindo se forçar muito a grade do berço” antes de dar uma explicação –, além dessa chuva... Me dão certo sono.
É melhor ir pra meu quarto.
Mas, ah, espera, tem minha mãe. Não quero deixar minha mãe com raiva.
A mulher parece estar com os nervos de um cão furioso quando ela começa a bronca.
Continuo a ficar aqui por alguns minutos. E então me viro para minha irmãzinha.
Ela tem os olhos azuis curiosos sob a tela. Posso até deduzir que ela quer saber de tudo. Saber porquê a tela tá aqui, porquê os trens falam ou até mesmo o que tá rolando. Não falo a linguagem dos bebês, mas acho que ela tá em um processo mais filosófico do que eu.
Ela tira a chupeta (porquê ela só sentiu vontade de tirar) e já procura por algo. Tem uma tiara vermelha com laço nos cabelos loiros rasos dela. E os dedos dela são tão pequenos. E o nariz dela parece esculpido.
— Que tá rolando, Amanda? — digo meio preocupado (ela quer fazer côco? Ela quer fazer xixi? Ela quer mamar?), chegando perto dela. — O que você quer?
Apesar dela ser uma pilantrinha e uma menininha bem travessa, não posso deixar de me preocupar. É algo além de mim. Ela é pequena, ela mal fala e ela é minha irmã caçula. Segundo o que ouvi escondido de meu pai e de minha mãe – por quê meus pais escondem um montão de coisas e acham que eu não tenho maturidade pra essas coisas –, “ela quase morreu” por quê ela chegou antes do que o médico previu.
Tinha um risco dela nascer morta. Durante um tempo, era o que meus tios disseram. Que ela não ia nascer bem. Mas acabou que ela tá aí, curtindo a vida mais doidada do que um dragão da China.
Amanda me lança os olhos primeiro. Já questionadores. Então abre a boca, meio desesperada, e fala:
— Mamá?
— Mamá não tá aqui. — e aponto na direção do banheiro antes dela bater na grade.
— Mamá! — desta vez, não é uma questão: é uma demanda, ela quer mamãe.
No segundo seguinte, ela põe o dedo perto da boca pra chupar.
Estranho que Amanda já esteja com fome. Faço uma careta, mas então chocalho minha cabeça.
— Tudo bem. — suspiro. — Seu irmão vai ver se Mamá tá aqui, tudo bem?
Acho (não acho, eu sei) que ela não me entendeu, mas ela não pareceu se importar.
Fui logo bater na porta do banheiro do quarto dos meus pais, onde mamãe tomava banho.
— Manhê! — chamo alto. — A Amanda quer mamar!
— Quê? — faz a mulher, antes de desligar o chuveiro, pegar a toalha e ir me atender.
— Ela tá meio aperreada agora. — digo a ela. — Acho que ela tá com fome.
Minha mãe dá um olhar na direção da menina e depois olha pra mim.
— Morfeu, — ela me diz. — não dá para você trazer a mamadeira que tá na geladeira?
— A com leite? — pergunto, pois sei que mamãe tem dificuldade de dar o próprio leite direto do peito. — Dá sim. — comento, vendo-a se aproximar da minha irmã e Amanda abrir bem os bracinhos para receber o abraço da nossa mãe.
Viro-me para ir à cozinha.
Parece que vou ter que dar um jeito de baixar Guerra dos Tronos pela internet.
FIM!

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6 comentários:

  1. Oie Larissa =D

    Belo texto! De uma forma bem delicada explorou vários temas complexos.

    Parabéns!

    Beijos e um ótima semana;***

    Ane Reis.
    mydearlibrary | Livros, divagações e outras histórias...
    @mydearlibrary

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    1. er, aqui é a Lucie, mas acho que posso dar oi à Larissa -q
      valeu :)
      parabéns pra ti também :3

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  2. HAHA, mas que liindo o texto Lucie! E bem fofo, aliás hahaha. Parabéns!

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    Respostas
    1. obg, anônima (HAHAHAHA) :)
      foi um texto meio do nada, mas enfim
      valeu <3

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