Escrever
Quando eu estava na
alfabetização, escrever, pra mim, era mais desenhar letrinhas. A tia ficava lá
na frente, desenhando na lousa para você copiar e você tentava reproduzir os
rabiscos em um caderno com espaços limitados. Minhas mãos sempre deixavam, uma
vez ou outra, a ponta do lápis se inclinar e eu tinha que pegar a borracha para
poder refazer a letra de novo. Fui uma criança meio desajeitada, posso admitir,
mas tentava me esforçar em fazer o melhor.
O termo ‘escrever’ para
mim se limitou a apenas desenhar mecanicamente. Comunicar eu sabia. Não precisava escrever
pra isso, seria o que eu poderia ponderar. Tinha meu entendimento, ainda que
inocente, e também minha fala. Para mim, livros sempre existiram. Só que, na
minha cabeça até uns seis anos da idade, não havia na minha cabeça que pessoas
escreveram aqueles livros. Assim como os bebês eram trazidos por pássaros,
simplesmente achava que os livros apareciam do céu. Talvez por balões ou que
nem a espada de Joana D’Arc? Não sei.
Só sei que a coisa
“escritor” se tornou clara de verdade mesmo quando falaram que nós (menininhos
do alfa) teríamos que ver sobre umas estórias que era um projeto da escola. Pra
escrever livros (embora durante algum tempo os alunos tinham que ter uma
supervisão dos professores sobre o que escrever), uns trabalhos que não pra
publicar, mas você recebia sua historinha com figuras de um cartunista/escritor
que eu conhecia via O Menino Maluquinho. Não sei como soube no ano seguinte, mas
sei que poderia acessar pela internet.
“Internet? Beleza,
aquilo era fácil”
Aos sete anos, já
possuía um bom domínio do computador. Talvez fosse por meu pai ter me ajudado a
mexer no teclado sozinha. Não era e nem sou uma gênia nesse aspecto, mas já
possuía experiência o suficiente para procurar pelo site. Então, só fiz ir lá,
ver a ficha do cadastro do aluno e vi as imagens em que eu tinha que me basear
pra fazer alguma historinha. Quando senti que queria mexer meus dedos para
escrever algo bobo, não pensei que outras pessoas vissem. Tampouco achei que
era algo que não era visado para minha série. Só tive vontade de digitar e
terminar. Talvez pelo tédio ou pela diversão.
Demorou um pouco para
que pudessem me chamar e eu ir pra um palco sem entender nada. Até ver o livro
chegando e eu tentar correr porquê a primeira coisa que pensei, ao ser
observada por tanta gente me vendo com o livro, era: “Quero sair logo daqui!”. E
então (depois de cinco minutos e mais outros pra tirar foto), sai dali acompanhada
de alguma professora e voltei pra a minha sala.
Depois desse episódio,
não demorou muito para que eu fosse introduzida a alguns autores. Alguns dos
títulos nem eram disponibilizados no Brasil, então eu lia de digitalizações de
livros não-comerciais entre fãs. Passei a me interessar mais em produzir
histórias a partir de um convite de uma amiga minha (virtual, nos falamos de
vez em quando), para que eu fosse participar de RPG’s colegiais de fórum ou até
de Harry Potter. Podia interagir com os personagens dos outros (de autores de
livros publicados) e yaaaaay.
E então, paralelamente,
passei a ter um interesse por fanfics. Sentia que era muito gostoso escrever as
minhas próprias e também por aquilo ser por diversão. Conheci uma moçada doida,
mas bem bacana, enquanto me aventurava entre as categorias de anime. Algumas
amizades que fiz duraram por muito tempo, entre elas algumas onde o “estado da
amizade no momento agora” seria indefinido o bastante pra mim dizer como
estamos.
Mas só que eu era
realmente feliz. Digo, ainda sou. Mas quanto a aquele momento em que eu passava
um dia despreocupada só para fazer algumas páginas, escrevendo algumas palavras
para poder trazer vida (“trazer vida a uma história”, era o que eu traduzia o
termo de escrever”) para fazer algo que divertisse tanto a mim como outras
pessoas. A partir das fanfics, comecei a ter umas noções de que aquilo não
seria só pra mim. Os textos. Por mais que fossem traduções de meus pensamentos
e de fantasias que eu transmitisse nos personagens, também tinha aquela
preocupação sobre a opinião do outro.
Como eu também tinha o
Orkut como minha rede social principal, não demorou para que eu achasse a
comunidade com o povo da NOSSOS Romances Adolescentes (e muitos anos depois, também, com pessoas que conheci também em outra comunidade orkuteira, Só Webs). Não acho que poderia
contar em muitos detalhes como foi a experiência, mas foi boa. O suficiente,
entre pessoas que gostam de escrever suas próprias histórias, para poder criar
alguma coragem para poder tentar fazer minha própria história. Algo que pudesse
chamar de minha, sem criar algo para algum personagem ou algum universo de
outro autor.
E quando você começa a
escrever algo que você deseja chamar de “seu”, porquê foi você que criou, desde
os personagens até a história em si... Você passa a sentir uma certa pressão. Isso
porquê, além do que você quer escrever, você tem que saber (ou você imagina que
possa não saber) transmitir a informação (oi, história) para o leitor. E sempre
vai haver aquelas críticas que nem sempre são construtivas, você pode pensar
vagamente em desistir porquê você pode não ter muita segurança sobre sua
qualidade como escritor e...
Uma coisa que aprendi,
que aprendi com tantos anos de experiência – por algum motivo, sinto que tenho
uma massa cinzenta de uma velhinha no corpo de uma jovem – que não existe um
“escrever bem”. Mesmo se você souber todas as regras gramaticais, acreditar ter
um talento tanto para narrar como para descrever, ou então já ter uma rotina de
escrita desde sei-lá-quando ou está começando recentemente, “escrever bem” vai
depender de seu desenvolvimento.
A escrita de uma pessoa
é bem ligada com a compreensão de mundo que seu escritor possui, tal como sua
própria experiência e com esta o amadurecimento. Notei isso não por pouco
tempo, em alguma tarde louca de reflexão onde se resumia meu casal favorito: eu
e a minha cama. Até hoje, temos um casamento muito bacana... Para uma mente,
como a minha – e talvez a de mais pessoas –, que é meio mal acostumada com sua
junção entre o universo que faísca da imaginação e também a realidade que nos
cerca. Algumas vezes, até que conseguimos mais ou menos separar. Outras vezes,
não.
Pensar bastante e criar
um mundo consome muito energia nossa. Por isso, é comum que tenhamos aquela
sensação de muitas vezes canseira, algumas vezes uma preguiça que não é
preguiça (mas sim uma espécie de esgotamento temporário) ou então você pode
querer tomar algo para se manter ligado. Algumas vezes, ainda assim, temos
vontade o suficiente para poder continuar a digitar ou redigir a mão. Isso
porquê nos sentimos tão interligados com o que produzimos, até com o que a
nossa própria produção faz efeito em nossas emoções e sensações.
E é bom que possamos
escrever quando pudermos escrever. Para poder não nos desacostumarmos quando voltarmos
a essa atividade, pois, assim como uma profissão, é preciso ter dedicação e
saber usar as técnicas para poder moldar uma forma de passar uma mensagem. Seja
por personagens, seja por cenário, seja pela história como todo.
E passamos por todo
tipo de coisa como escritores – e, de boa, você não precisa publicar pra ser um
‘escritor’, porquê você já é. – e pessoas. Situações em nossa vida que nos
deixam pra baixo, situações em nossa vida que nos deixam para cima, opiniões
que nos dão a impressão de sensível e insensível, o bombardeamento constante de
ideias que parecem abelhas se debatendo violentas em nossas cabeças enquanto
tentamos nos compreender e, depois disto, o resto do mundo.
Ao mesmo tempo que
alcançamos outras pessoas também. Leitores, sejam eles seu amigo e sua amiga
mais confiável ou um número maior.
Assim, sendo uma espécie
de ‘medium’ entre esse mundo criado pelas nossas fantasias que é transcrito
para um livro e também o mundo que consideramos real para todos, continuamos
nossa caminhada até que acharmos que podemos dar um tempo para escrita (se bem
que é provável que, depois de um tempo indeterminado, você volte a querer
escrever porquê é legal).
De uma escritora para
outros escritores e também queridos leitores,
Beijos e abraços para
vocês! E curtam bastante essa semana, seja escrevendo ou não ;)
Ficamos por aqui, por enquanto!
Esse texto veio em muito boa hora. Estou nessa fase de preguiça/esgotamento temporário e parece difícil de superar, as minhas próprias exigências parecem estragar a minha escrita.
ResponderExcluirPreciso entender que não tem que ser perfeito para ser bom...
Obrigada.
Fico feliz por você :D
ExcluirBeijo!
ótimo texto! estou me sentindo menos mal pela preguicinha, aka esgotamento temporário <3
ResponderExcluirque bom que gostou :)
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