FELIZ DIA DO ESCRITOR para todos que, assim como eu, amam se aventurar pelas vidas dos personagens que cria.
Bem, nesse dia tão especial decidi fazer um Feito a Mão contando a história de um escritor perseguido por uma frase que ele mesmo criou.
Vamos conferir como ficou?
A
Frase de Frizzag
“É estranho como a vida vai seguindo e algumas pessoas
simplesmente acabam soltando as mãos, sem querer, e se perdem no vácuo do
tempo.”
Lisandro Frizzag leu a Frase do final daquele capítulo
de seu livro. Usara-a em certo episódio da série que fora um os roteiristas. E
também no poema que fizera certa vez.
Falando a verdade, Lisandro usava aquela Frase de
tempos em tempos.
Perseguia-o.
Não sabia dizer ao certo quando a escrevera ou falara
pela primeira vez, apenas sentia que tinha de usá-la de tempos em tempos.
Talvez para lembrar-se daquele amor de colégio que durou sete anos e, no fim
das contas acabou sendo apenas a filha do seu colega de trabalho. Quem sabe
para abrir um sorriso sincero, quando viesse a recordação dos amigos que foram
para outros lugares do planeta.
Mas, algumas vezes, tinha a impressão de escrevê-la
para ele mesmo se lembrar dos seus próprios “eus” que foram ficando pelo
caminho. Lisandro Frizzag sempre soube, como todos os escritores sabem muito
bem: as pessoas mudam, evoluem.
Cada palavra se encaixava em um pedaço de sua vida.
Cada palavra era um pouco dele.
Neste dia, ou melhor, nesta madrugada, Lisandro Frizzag
a destrinchou como jamais percebera. A Frase criara raízes tão profundas e
antigas que se confundia com sua própria história.
— “a vida vai
seguindo...” Tudo bem, todos sabem disso — disse para si mesmo, em frente
ao computador. — “algumas
pessoas simplesmente acabam soltando as mãos...” O abandono mútuo. Ela não me
quis e eu cansei de esperar...
Balançou a cabeça para chacoalhar o cérebro e desfazer
os pensamentos, mas assim como a Frase, ela voltava-lhe à mente de tempos em
tempos. Pelo menos a Frase se encaixava em momentos cruciais das narrativas; a
mulher só vinha para perturbar a paz e mostrar que quando se trata da vida, não
existem páginas viradas que leves brisas não as possam fazer serem revistas e
relidas.
Esta em especial só trazia tristeza e lágrimas, não
merecia uma releitura. Revivê-la apenas dentro de si já era uma dor extrema.
Saiu de casa e caminhou pelo fim daquela madrugada
gelada. A ameaça da luz do sol fazia a escuridão profunda da noite correr ao
Oeste.
Lisandro parou em um boteco e pediu uma média e um pão
com manteiga na chapa. Uma mulher sentou-se ao seu lado no balcão e pediu a
mesma coisa.
Assim, olhando para ela, descobriu enfim o complemento
que sempre faltou na Frase que o perseguia.
“É estranho como a vida vai seguindo e algumas pessoas
simplesmente acabam soltando as mãos, sem querer, e se perdem no vácuo do
tempo. Ainda bem que as coisas boas, cedo ou tarde, nos chegam das formas mais
inusitadas.”
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