Uma nada longa reflexão acompanhada de um copo de café, uma noite, bichos, uma cidade e uma mente agitada de divagações. Quer acompanhar? :)
Reflexão nos Pontilhados
Diante
de minha varanda, vejo várias luzes de várias cores. Vindo de quadrados ou
cubos, de esferas de vidro sob um cabo metálico e de formatos que nesta
distância não saberei definir. É noite, então esta percepção de claro e de
escuro prende a atenção de meus sentidos.
Sinto
uma nuvem de tranquilidade me preencher, embora seja difícil afirmar se algum
dia fui vazia com este tato que não pertence somente à minha pele ou aos meus
nervos. Agora, estou só após tomar solitária um copo de café, mas honestamente
não acredito que experimento a infelicidade.
Aqui
em casa, todos os outros foram dormir com seus sonhos e com seus pesadelos até
o raiar do amanhã. Sob a luz fraca de uma lâmpada na escuridão, as paredes
irradiam um silêncio místico poderoso. Lá fora, há muito barulho por conta de
um show, mas parecem apenas ecos distantes neste momento.
Também
posso escutar os grilos, os besouros, as libélulas, os “bichos de luz”, as
mariposas e outros “navegadores falantes” da natureza. Não consigo entrar em
acordo com todos eles, porém bem sei como pertencem também ao lugar. À Terra,
ao lar.
Acredito
que, a eles, eu não saiba ser completamente pacífica por conta de minhas
manias. As meio paranoicas e as fobias, digo. Elas se resumem a eu ter medo por
eles não terem realmente medo de invadir o espaço ou este silêncio. Assim como
esses insetos se agitam com vida, mas também por aparecerem quando exatamente
não quero que eles se mostrem.
Mas
é inevitável insetos existirem, logo reconheço que devo evitar confrontos e
deixá-los viverem a vida deles sossegados. Quando estamos em uma distância que
considero seguro, consigo admirá-los.
Apesar
de eu ser humana, acho que esses bichos e eu não somos tão diferentes como
parece: somos quase a mesma coisa sob um olhar de um caleidoscópio. Somos
existências que pairam no finito, pois acredito que pra tudo haja um fim. Não
somos, como seres existentes, grandes ou pequenos.
Por
que ser grande ou ser pequeno é um ponto de vista. Percebo isto olhando para
esta cidade: ou melhor dizendo, tento enxergar essa partícula de cosmo. Cosmo é
um termo mais perto do que isto – esta experiência – é, embora eu não tenha
certeza de que enxerguei tudo o que ele possa mostrar.
Não
sei quem seja eu. Tenho um nome que meus pais me deram há dezoito anos e tenho
esse rosto com umas espinhas, bem sei. No entanto, não sei se é certo me
definir como uma unidade com estas características ou com um termo por meio de
outros olhos. Apenas compreendo que, um dia, irei morrer e não há previsão se
será amanhã ou se será daqui alguns anos. Provavelmente, posso chorar ou posso
sorrir antes de ser abraçada pela Morte.
Só
que, por mais triste isso vá soar para as outras pessoas que são importantes
para mim, não quero que elas fiquem assim. Quando isto ocorrer e alguma delas
derramar uma lágrima, é de minha vontade em recolhê-la e fazer o rosto se
iluminar. Entretanto, para minha falta de sorte, eu estaria em um outro lugar
bastante distante enquanto perceberia-as e nenhuma delas conseguiria me
notaria.
Contudo,
não sei dizer que isso seria o fim de tudo.
Do
cosmo, dessas luzes, desses seres, dessa escuridão ou até mesmo do que sou.
Tudo o que eu sei é sobre eu realmente não conhecer nenhuma das coisas. Não sei
se estas luzes são o que estão ali ou se esses insetos não seriam alguma coisa
bastante diferente. Não compreendo se sou uma verdade ou se sou uma mentira.
Nem sei também se a Terra não é deste formato ou se o tempo é certo.
Mas
quero acreditar que sou uma parte deste fragmento do cosmo. Que há um propósito
para que eu esteja aqui e para que esta imagem que vejo permaneça na minha
cabeça. Que há um significado para essa sensação de ser dissolúvel a este
palco de vida.
Quero
acreditar que posso fazer a diferença, embora eu penso sobre não ser capaz de
fazer todas as coisas. No entanto, ainda quero fazer a minha existência valer a
pena. Realizar de forma que as ligações que faço com todas essas luzes, todas
essas escuridões e as conhecidas formas de vida que senti não venham a existir
em vão para mim.
FIM
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