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quarta-feira, 23 de janeiro de 2013

[RESENHA] Cidade da Penumbra — Lolita Pille


Título (Original): Crépuscule Ville
Autor(a): Lolita Pille
Editora: Íntrinseca
Ano da primeira publicação: 2010
Nº de páginas: 301


Na Cidade da Penumbra, o sol há muito tempo não aparece e a felicidade é compulsória – para tal, uma série de estranhas medidas governamentais são tomadas: a legalização das drogas (tomadas até em refrigerantes) e da pedofilia, o direito citadino a cirurgias plásticas e o serviço de proteção contra si mesmo (SPS), de nome auto explicativo. As corporações tomaram conta, trabalho escravo pode saldar dívidas e os celulares (aqui chamados de rastreadores) avisam sobre qualquer tipo de compatibilidade romântica.

Qualquer semelhança com a realidade é mera coincidência.

Em um certo dia – que não sabemos se é bonito ou feio, ensolarado ou nublado (esse tipo de marcador desapareceu na Cidade da Penumbra há muito tempo) – um obeso se suicida. Há muito tempo enclausurado em casa, vivendo de pensão por deformidade (pois onde a beleza é um direito, seu oposto é mais do que uma doença), Colin não agüentou ficar sem energia elétrica por alguns minutos – a televisão de realidade aumentada era seu refúgio.

Não seria algo tão estranho assim se não fosse pela existência da preventiva-suicídios, órgão dentro da SPS encarregado de evitar tais casos. Este foi parar na mão de Syd Paradine (cujo nome é uma homenagem aos noirs). Alcoólatra e em processo de divórcio com a filha do dono de metade da cidade (na Cidade da Penumbra, os casamentos expiram após quatro anos de união), ele se recusa a se adaptar as regras vigentes, nunca “caindo na faca” e ignorando a confissão obrigatória de quinze minutos, onde todos despejam seus problemas. Foi essa percepção um pouco diferenciada que o fez perceber algo estranho na cidade, que mudaria completamente o curso de sua vida entediada e miserável.

“- Eu também estou fazendo um regime – disse ela.
- Ah, sim, qual? – Syd respondeu, educadamente.
- Cocaína diet. – disse ela.
Syd franziu o cenho. A garota detestava pó.
- Eu sei – disse ela -, existem opções menos radicais. Meu médico me mostrou a técnica boa para vomitar, mas o que você quer? Ela destrói os dentes. E a aspiração deixa seqüelas insignifcantes.
- Hum, e você já pensou em fazer algum esporte? – respondeu Syd.
Carrie Vence o olhou como se ele tivesse sugerido que ela se cortasse toda.”

Foi Cidade da penumbra que confirmou minha antipatia com sinopses: na contracapa do livro, é dada a Blue, interesse romântico de Syd, uma importância exagerada. Syd, sua solidão e problemas são os protagonistas. Assim como o suicídio de Collin – a sua apresentação foi apenas um artifício da autora para mostrar a loucura é que a Cidade da Penumbra.

O grande defeito do livro – que se torna qualidade depois da primeira releitura – é a forma com que ele é escrito: Lolita Pille, assim como vários escritores franceses de sua geração, não liga muito para deixar as coisas claras para o leitor. A prosa é poética, e talvez tão poética que aqueles desacostumados com o gênero tem que quebrar um pouquinho a cabeça para entender o que ela quer dizer. Pessoalmente, só tive um panorama geral da Cidade da penumbra quando o li pela segunda vez – na primeira, só peguei o enredo.
Mas ainda assim vale a pena – leitura quase obrigatória para fãs de distopias.

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9 comentários:

  1. To com ele aqui, comprei por R$8 na Bienal do ano passado.
    Acho que vai ser minha próxima leitura :D
    Me entusiasmei, mas acho meio difícil fazer uma resenha de um livro tão bom quanto esse hahah Ainda mais não dar spoiler!
    Tá de parabéns. Vou ler logo.
    Ah, tanto o título quanto a sinopse (de como é a cidade e tudo) me lembrou MUITO o filme Cidade das Sombras, que é ótimo.

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  2. Nossa, gostei.
    Não amei loucamente, porque não sou uma grande apreciadora de distopias, mas parece ser um bom livro.
    Ficarei atenta e pretendo comprá-lo um dia.
    Ótima resenha!

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  3. Cidade das sombras, Cidade da penumbra, Cidade dos ossos... São muitas cidades para o meu gosto. rs
    Mas eu gostei da história do livro. Também, né? Distopia! Não podia esperar nada diferente do meu subgênero literário favorito. Vou ver se consigo achar esse livro em algum sebo. Fiquei curiosa, ainda mais pela críticas sociais/culturais tão reforçadas no plot.

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  4. Gosto bastante de distopias
    E essa parece ser bem interessante e uma das que me ganharia

    Beijos
    @pocketlibro
    pocketlibro.blogspot.com.br

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  5. Lolita Pille é a de Hell, certo?
    Fiquei interessada, mas acho que não aguentaria a leitura.

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  6. Sinceramente? Não gostei do livro. O enredo é muito bom, mas como voce disse na resenha, é muito complicado. Eu comprei esse livro todo empolgado, pois tinha lido Hell-Paris e adorei, mas quando comecei a ler Cidade da Penumbra fiquei desapontado. Posso dizer que conclui a leitura a pulso, pois não gosto de interromper um livro depois que começo. Como disse, o enredo é muito bom, mas infelizmente a Lolita Pille não soube desenvolve-lo, acho alias que esse é o maior defeito dela como escritora. Em Hell-Paris acontece a mesma coisa, o enredo é ótimo, mas ele é muito, mais muito, mau trabalhado. Se ela tivesse deixado a idéia de Hell-Paris amadurecer o livro estaria a altura de uma obra de Dostoievski. Em cidade da Penumbra ocorre a mesma coisa, ótimo enredo, porem a autora não o explorou corretamente.

    Só pra deixar claro, eu adoro Hell-Paris, é um excelente livro, só acho que em virtude da magnificência do enredo, o livro poderia ser muito melhor do que é.

    Vagner Leme

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