Uma história bacana não se faz somente de um plot legal. Pra manter o interesse dos leitores, é preciso que nós, autores, saibamos como levar o leitor através da sublime arte de se desesperar pelos próximos acontecimentos. É algo sutil, necessário e extremamente simples. Mas mesmo assim a gente às vezes erra na mão. Então bora falar um pouco mais sobre isso?
Cliffhanger é uma expressão em inglês que significa, literalmente, "se segurar sobre o precipício" (ou algo assim). Basicamente, se você jogar essa palavrinha no google, vai encontrar várias imagens de alpinistas à beira da morte, se segurando perigosamente para não cair. E só de olhar a foto você já se pergunta: "será que esse cara vai conseguir sair daí?"
Soa familiar?
Cliffhangers, também conhecidos como ganchos, são basicamente aqueles artifícios básicos que mantém o leitor interessado. A gente os vê o tempo todo, tanto na literatura, quanto nos filmes, nas séries, até nas novelas. E se você está achando que um cliffhanger se resume ao grande clímax da história ou ao final do livro que te força a continuar lendo aquela série interminável, está muito enganado. Um livro é feito não de um, mas de vários ganchinhos que, sem que você perceba, vão te deixando completamente loucos.
Vamos do começo. Você está escrevendo o primeiro capítulo do seu livro. Apresenta os personagens, o ambiente, dá uma introduçãozinha básica na história. Passa pro segundo capítulo. Nada acontece.
Agora me diz, que leitor vai se sentir minimamente compelido a continuar se, já no segundo capítulo, a história, não parece caminhar pra lugar nenhum?
Não é obrigatório, é claro, mas é o tipo de coisa que a gente reconhece em todos os livros que leu na vida e em tudo que vê por aí: ganchos precisam ser distribuídos ao longo da história pra manter o suspense, o interesse e o caminhar dos acontecimentos. Começando por um pequeno estalo que cause a primeira mudança de visão do personagem (e a introdução do que está por vir), passando pra um pequeno mistério baseado em acontecimentos singulares, até chegar no momento de grande revelação, então o clímax e, se necessário, um evento final que mantenha o leitor ligado e querendo o livro seguinte.
Usando a minha própria história como exemplo, peguemos As Bruxas de Oxford. Pode não ser um primor na arte do suspense, mas tem seu mérito. Após um primeiro capítulo em que praticamente apenas conhecemos a família e a antiga vida da personagem Malena, ele acaba com a chegada da sua família à cidade de Oxford. Aí quem está lendo pensa "hm, ela chegou. É uma cidade minúscula, diferente, e ela mora numa casa muito estranha. O que será que vai acontecer a seguir?" - passa pro segundo capítulo.
E aí BAM. Uma porta explode do nada bem na sua cara. Mesmo. Porque é isso o que acontece. Sem motivo aparente. "Ou com motivo? Quem ou o quê fez aquela porta explodir? Foi a Malena? Foi outra coisa? Ela foi atacada? São aliens? O apocalipse zumbi? Ai jesus." - passa pro terceiro capítulo.
Daí em diante, fui deixando pequenos ganchos em acontecimentos estranhos que perseguem a personagem até a grande revelação de sua identidade e de sua nova missão (que, obviamente, não vou revelar a vocês). E depois da revelação, novas perguntas - logo, novos ganchos: quem são as bruxas? O que querem? A Malena vai conseguir derrota-las? E como fará isso? E quais as consequências?
Cada pequeno evento levanta uma nova pergunta, cada pergunta, um novo interesse. Se nada acontecesse de mais impactante logo de cara, poucas as chances de alguém se interessar pelo resto da história, ou mesmo de se encher de perguntas mais tarde. Sem ganchos, sem interesse, sem interesse, sem leitor - é simples assim. Uma história parada não agrada ninguém, simplesmente porque ninguém pega um livro pra ler pra vivenciar o NADA.
É claro que precisa existir uma medida. Manter o suspense até os 45 do segundo tempo e tentar levar pra prorrogação só é bacana se o seu estilo for policial. Caso contrário, dê pistas, crie teorias silenciosas, faça o leitor duvidar e, talvez, até adivinhar antes mesmo que você possa contar. Não tenha medo de deixar pegadas na trilha a ser percorrida; se você não fizer isso, pode ser que o leitor se perca no caminho, ou resolva voltar pra trás. E aí já era. A história é sua para dominar, e o leitor é seu pra direcionar. Use isso - mas com moderação. E aí, não tem erro. É só deixar a trilha de migalhas de pão, que os passarinhos vem correndo até você.
Boa escrita :)
Beijocas!
Aaaa que post interessante! Super importante para nós que escrevemos em blog tbm. Pois as vezes é dificil fazer um texto interessante...
ResponderExcluirGostei!
Beijos
Verdade. Não adianta nada ter uma ótima história se você não sabe desenvolvê-la bem.
ExcluirExcelente texto, de verdade!
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