Um micro-conto em apenas 500 palavras sobre o tipo mais controverso e engraçado de amor: o fraternal.
Eu estava
tentando entrar sorrateira pela janela de meu quarto. Já era madrugada e, pelas
luzes apagadas, meus pais ainda deviam estar dormindo. O que era um alívio! Sei
que foi errado ter fugido pela janela e ir escondida a festa da Anna, mas o Théo
ia estar lá, e eu não podia perder a oportunidade de vê-lo. Estava tão
apaixonada por ele que chegava a soar ridículo.
“Malditos
feromônios” murmurei já um tanto
arrependida, tentando me mover no escuro.
Num átimo a
porta se abriu e as luzes se acenderam inundando minhas órbitas oculares.
Quando o incômodo passou, meus olhos puderam ver meu irmão Douglas parado na
soleira, com um sorrisinho sarcástico no rosto.
Droga! Eu havia
esquecido que ele ficava em seu quarto, jogando World of Warcraft até altas
horas da madrugada e tinha a mania de, entre uma partida e outra, fazer um lanchinho
na cozinha para recobrar as energias. Embora eu não entendesse como ele podia
gastá-las ficando sentado igual a um zumbi diante do computador.
“Vejam só quem
resolveu aparecer.” disse ele cruzando os braços sobre o peito com uma
superioridade moral que me irritava. Meu irmão mais velho era um idiota, mas eu
estava nas mãos dele. Era só o cretino elevar a voz para os meus pais acordarem
e eu ser sentenciada a um castigo perpétuo.
“Ok. O quê você
quer pra não me delatar?” disparei.
Meu irmão coçou o
queixo teatralmente fingindo que pensava
em algo. A verdade é que ele estava gostando de me torturar mais um pouco.
“O quê você
sugere, maninha?”
“Bem, eu posso levar o lixo pra fora no
seu lugar durante um mês...”
“É essa sua
oferta? Acho que podemos melhorar isso, não?”
“Tudo bem, você escolhe.” afirmei me dando
por vencida.
Porém Douglas
não respondeu, sua atenção fixou-se ao acaso na minha escrivaninha e num monte
de fotos que se encontrava ali.
“O que você vai
fazer com isso?” ele perguntou pegando uma foto em que ele e eu, ainda
crianças, aparecíamos sorridentes e abraçados.
“Ah, nada
demais. Tive a ideia de montar um painel com os momentos mais legais da minha
vida. E então eu vi essa foto da gente no zoológico. Achei que devia colocar.”
Meu irmão olhou
pra mim e sorriu, depois jogou a foto sobre a escrivaninha e foi se
encaminhando devagar pra fora do quarto.
“Ei, e o nosso
trato?”
Ele então parou
na soleira da porta.
“Sabe qual foi o
dia mais legal da minha vida? Quando eu entrei nessa casa pela primeira vez e
você me chamou de irmão. Eu não entendia o que a palavra ‘adoção’ queria dizer,
mas sabia o que ‘irmão’ significava. E quando você a disse eu gostei do jeito
que soou.”
Por um momento
Douglas deu um sorrisinho tímido, depois fechou a cara e foi saindo do quarto.
“Boa noite,
cabeça de vento.”
“Boa noite,
cérebro de minhoca.” eu respondi.
É. No final das contas meu irmão era até
legal. Quer dizer, só um pouquinho...
Chris Salles é escritora wannabe e irmã orgulhosa de um pirralho banguela que adora o Homem Aranha.
Ahh, fofinho!!
ResponderExcluirJustin *-------*
Lembrei de você quando estava procurando uma foto para o post e achei essa.
ExcluirOwnnn, que lindo Chris! <3
ResponderExcluirFoi feito há tanto tempo atrás... Acho que eu não produzo nada de novo. rs Obrigada mesmo assim, Alice.
ExcluirAdorei, bem escrito e "bunitinho"...
ResponderExcluircafe-elivro.blogspot.com.br/