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quinta-feira, 24 de janeiro de 2013

[NOSSAS DICAS] Esse tal de POV

Todo mundo com certeza já ouviu falar de POV. Em inglês, a sigla significa Point of View, ou, no nosso bom e velho português, Ponto de Vista.
Pontos de Vista são partes importantes do desenvolvimento de uma história. E sei que parece redundante dizer isso, mas é impressionante a quantidade de vezes que as pessoas se embananam com eles enquanto estão escrevendo. Então resolvi falar um pouco deles hoje - suas funcionalidades, seus perigos, e o que a gente pode fazer pra tentar não enlouquecer!

Pra começar, acho importante lembrarmos que há dois tipos de ponto de vista mais conhecidos/utilizados (eu, pelo menos, nunca ouvi falar de uma história narrada sob outro POV que não esse, mas enfim): a primeira pessoa e a terceira pessoa. Tenho certeza que você já os conhecia, mas não custa deixar que eles se apresentem mesmo assim, certo?

Primeira Pessoa: Opa, e aí? Primeira Pessoa. É, sou eu. O que eu posso falar de mim?... Bom, sou um cara bastante pessoal. Íntimo mesmo, sabe? Quando o leitor se liga em mim, de repente é como se ele desvendasse todos os meus pensamentos. Imagino que nem todo mundo ache isso muito divertido, né? Tipo, é um pouco chato viver na cabeça de alguém, ou sei lá. As pessoas esperam que eu conte tudo a respeito da vida de todos os personagens, mas sabe como é, eu não tenho uma bola de cristal! Eu vou vivendo a minha vida, e quem lê, vive a minha vida comigo - ninguém descobre nada antes de eu mesmo descobrir. Não consigo invadir a mente de ninguém, porque sou só uma Pessoa. A Primeira Pessoa. Prefiro me ater aos meus acontecimentos e ao meu dia-a-dia e não sair metendo o bedelho no que não é da minha conta! Você já deve ter me visto em livros como Crepúsculo ou O Diário de Bridget Jones.

Terceira Pessoa: A Terceira Pessoa era uma boa observadora. Atenta. Mantinha-se sempre à distância, assistindo ao desenrolar dos fatos e tomando longas notas, capaz de, com apenas um olhar, desvendar todos os mistérios por trás de cada acontecimento, enxergar a verdade e os pensamentos de cada personagem envolvido. Como um Deus calado, atinha-se a narrar, para todos e para ninguém em especial, o que via e ouvia. Nada era capaz de se esconder da Terceira Pessoa. Sua onisciência era implacável e esmagadora - poderia estar em todos os lugares ao mesmo tempo, desafiando o tempo e o espaço, destrinchando vidas, desvendando mistérios. Sua presença pode ser notada em obras como Harry Potter e Crônicas de Nárnia.

Ok, toda a galera apresentada! Parece bem simples. E é. Mas mesmo assim, tem uma porrada de gente que acaba transformando a Primeira e a Terceira pessoa numa coisa só, uma espécie nova e rara cuja definição me é completamente estranha.

O grande problema com o POV é que muitas vezes a gente se atrapalha querendo mostrar coisas que julgamos serem necessárias pro bom andamento da história. E aí acontecem coisas completamente incoerentes, tipo termos um flash dos pensamentos de uma personagem quando, na verdade, quem está narrando a história é outra. Imaginem se, no meio da cena em que a Bella é mordida em Crepúsculo, ela DE REPENTE tivesse um insight sobre os sentimentos e pensamentos do Edward que só poderiam ser possíveis se a) ela fosse o Edward e lesse a mente das pessoas; ou b) ela fosse Deus. Só que ela não é Deus, nem lê a mente de ninguém. Então como ela poderia nos contar o que o Edward está pensando?

Esse é o melhor lado da narrativa em terceira pessoa: não existem limites quanto ao que mostrar ou que personagens favorecer. Embora mesmo com a utilização desse POV alguns autores deem preferência a um único personagem (por exemplo, em Harry Potter, a narração é toda em terceira pessoa, mas só "segue" o próprio Harry. Salvo algumas exceções ao longo dos livros, ele é praticamente o único personagem cujos pensamentos, emoções e experiências são vivenciados pelos leitores de maneira mais intensa), é possível, com esse tipo de narração, caminhar por entre cenários, personagens, ações simultâneas, pensamentos e tudo mais sem ficar uma salada louca. É o grande presente da onisciência e da onipresença, motivo pelo qual a narração em terceira pessoa às vezes é chamada de "voz de Deus" - o narrador não é ninguém na história, mas alguém que vê e sabe de tudo.

Mas, a bem da verdade, não é em toda história que esse tipo de POV funciona. O bacana de se utilizar de uma narrativa em primeira pessoa é que a história e a própria narração ganha uma pessoalidade e uma intimidade que aproxima leitor e personagem de uma maneira que não necessariamente um outro POV conseguiria fazer. Sentimos que estamos vivendo aquela história junto e através do personagem, como se eles fossem a gente - uma extensão da nossa voz e dos nossos sentimentos, presos naquele mundinho de papel. Embora isso perca (e muito) em informação, ganha em aproximação.

E aí, pra solucionar esse lance de não ter uma onisciência e uma onipresença, alguns autores optam por variar entre pontos de vista.

Sou meio suspeita pra falar disso, porque sou contra. Não totalmente, pois existem casos em que isso funciona (Fazendo Meu Filme #4, por exemplo), mas não são muitos. Se isso se torna uma estratégia usada em exagero (quem já leu House of Night sabe do que eu estou falando), perde completamente o propósito. Sem contar que ficar alternando entre POV causa dois problemas sérios: o leitor demora a entrar no ritmo da trama - que fica interrompida com a constante troca de POV, de ambiente, de situações, por mais que elas se complementem - e ele se cansa mais rapidamente. Ao invés de acrescentar, acaba prejudicando a história. POVs alternados são bacanas quando bem usados, mas a gente precisa saber qual o limite entre a sua real necessidade e a nossa cisma pessoal. Nem tudo que a gente acha que é vital ser mostrado precisa mesmo ser mostrado. E nem tudo precisa de um segundo, terceiro, quarto POV pra ser narrado - a protagonista pode descobrir de outra forma, de repente vendo uma memória na penseira (olá, Harry!), ou quem sabe alguém simplesmente conte pra ela/ele com detalhes. Existem muitos recursos narrativos à nossa disposição que não pedem uma troca brusca e desnecessária de POV, é só pensar!

E aí vocês me perguntam: mas afinal, o que é melhor, primeira ou terceira pessoa?

Amados, não existe resposta pra essa pergunta. Ela depende de duas coisas, na minha humilde opinião: de preferência pessoal e do que a história pede. Eu, por exemplo, sou uma negação pra narrativas em terceira pessoa, mas me dou muito bem com a primeira. Mas existem histórias que a gente sabe, que a gente sente que só podem ser contadas de uma forma. Porque quando pensamos numa história, inevitavelmente parte dela nos vem montada na cabeça, e aí a gente sabe o que fica melhor. E pode até ser que não fique melhor de primeira, mas com um pouquinho de aperfeiçoamento, a gente chega lá!

Por hoje é só!
Até a próxima ;)

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6 comentários:

  1. HAHAHAHAHAH adorei esse texto. Sério, Larissa, você devia virar autora de livros de comédia (ou virar uma comedista, como diria minha irmã).

    É difícil. Às vezes você chega no meio da escrita do livro e fala: putz, tem tanta cena que ficaria melhor se fosse em terceira pessoa... Mas o livro ta todo em primeira, E AGORA?!?
    Aí você fica chorando esperando aparecer uma solução, e pode esperar bastante.
    Hahaha adorei o texto, sério.

    Beijos!
    Malu
    www.wordsbooksworlds.blogspot.com

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  2. Lady, a Mel amou, amou, amou o post.
    Ela disse que é um fracasso completo em terceira pessoa e não consegue escrever mais do que cinco páginas assim. Fica cansativo e difícil, porque pede muito mais descrição (para ela, porque agora pensando-se, tanto você quanto Deus precisam dizer o que estão vendo).
    De qualquer forma, ADOREI (adorou*, perdão) a coluna. Ela tem muito o que refletir agora.

    Beijos

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  3. usahushauhsuahs to rindo aqui Lari, do post e dos comentários hsauhsuahsu :P
    Eu nao sou escritora e sinceramente acho que nao tenho o dom (aliás, nao tenho). Mas do MEU ponto de vista, acho que deve ser mais facil escrever em 1ª pessoa, mas li o comentario da Malu e fiquei pensando na situação usahsuhauhs cara, eu ficar chorando!!!
    Mas o escritor tem que tomar bastante atenção mesmo, pq já li tantas coisas confusas que ja nao sabia mais quem estava falando, pensando...

    Amei o post!

    Beijao

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  4. Muito legal seu post! Ri bastante :)
    Eu prefiro escrever em 1ª pessoa, mas a leitura nesse POV já está se tornando irritante (vide milhares de meninas protagonistas e chatas). Por isso que gosto muito das Crônicas de Gelo e Fogo, fica mudando o narrador, mas como você disse, ou você presta muita atenção na história ou se perde legal.

    Beijos
    Marta
    As Palavras Fugiram

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  5. ADOREI seu post me fez lembrar das aulas de portugues é que eu ainda não sei o final a zoey kkkkk entao é como vc mesmo disse depende da historia confesso que nao gosto muito quando fica trocando de personagem na historia...talvez façam isso para ter suspense mas acaba chateando!

    entao achei seu blog no evento bate papo sobre literatura e estou seguindo para se possamos criar uma amizade entre blogueiras! beijos

    sonhos-perdiidos.blogspot.com.br/

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  6. Antigamente eu só sabia narrar em primeira pessoa. Agora eu tenho me saído melhor em terceira, o que é mucho loco. Acho que tem textos e textos, histórias e histórias. Como você disse, tem histórias que só ficam boas se narradas em terceira pessoa. Outras dão muito mais pessoalidade e se tornam muito mais interessantes em primeira... É prática.

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