Fonte da Imagem: http://sofiaglobe.com/2014/09/14/netflix-sets-sights-on-europe/
Sob o som da abertura da minha novela favorita A Favorita (que ironia lol) - e depois Ricky Martin porque SÍ que voz hermosa u_u -, oiii NRAnianos!
A história curta (não sei se eu consideraria um conto: na verdade, meus contos foram contos? ôôô questão existencial, haha!) é sobre duas pessoas, adolescentes de dezesseis anos, ligadas por sangue e com um laço especial de intimidade (não amizade colorida, se é o que sua cabeça pensou :B). Escrevi ela sob a companhia de um grupo de amigos virtuais, com o acompanhamento de outra pessoa apaixonada por escrita da minha cidade (e aê, Path!), depois de uma 'coceira de Lucie querer escrever mesmo em um tempo não frouxo' e também após um pensamento de que há temas que ainda preciso explorar com minha cabecinha criativa e analítica de escritora de coração.
Não sei como pode ser a reação de vocês, mas, se vocês concederem um pouco de seu tempo pra ler, eu pediria pra vocês comentarem a opinião de vocês, haha :)
Boooom, boa leitura~
A Companhia da Ficwriter
Ouço o barulho de uma cadeira sendo arrastada um pouco. Não é incomum, como não sou a única pessoa do quarto.
— Você realmente não tem intenção de sair dessa cadeira?
— Não, por quê? — pego umas batatas fritas que comprei no caminho da escola para cá e as ponho na boca enquanto a outra mão navega, com o mouse, pela tela do documento aberto. — Há algum dever pra hoje?
— Não, não é isso... — em uma risada, a outra pessoa dispersa a possibilidade: afinal de contas, não é essa cabeça que tem uma pré-disposição anormal pra boa reputação? — É que você não tá com apoio de alguma luz enquanto você fica aí deitada na cama. Você não se preocupa se, do nada, esse seu costume de escrever no escuro não pode dar em algo?
— Claro que não, tô acostumada. — não me viro pra fitar o rosto da pessoa. — E você, o que anda fazendo? Você não tira esses seus olhos do caderno pra quase nada. É alguma prova que eles estão tramando?
— Ô, Nina, você faz soar como se meus professores fossem exterminadores de alguma dessas distopias futuristas que circulam...
— Mas isso não tira a verdade que você parece ter uma cara de zumbi.
Os olhos da outra existência se reviram:
— Como se esse seu mau hábito não fosse diferente.
Levanto meus ombros em sinal de indiferença. Mamãe vive comentando comigo algo sobre eu acabar tendo uma montanha de problemas quando envelhecer. Eu não precisava dela me relembrar toda semana sobre o que tenho ou não que fazer: é só que não consigo levar muito a sério esse negócio que chamam de escola, embora uma vez ou outra meus colegas de turma comentem o como eu me saio bem em certas matérias que eles não prestam atenção direito.
Tudo isso se deve a isso. Escrita.
Uma vez, li aos doze anos uma revista adolescente que entrevistava uma escritora de chick-lit. Lá, a pessoa, que acabara de escrever uma série sobre dois irmãos bruxos, disse que o fundamental era “escrever sempre que possível”, “ler um pouco de tudo” e “conhecer seu público”. Aos quatorze anos, encontrei quase a mesma mensagem ao navegar pelos blogs literários da webesfera e encontrando um autor de suspense do Texas falar algo sobre isso também. Por isso, meio que tive que antecipar certos conhecimentos antes de comunicarem na escola.
Minha menarca ocorreu aos onze anos e logo após isso meus pais tiveram um sério papo comigo sobre os períodos, cólicas, sexo, higiene e todo o tipo de coisa. Sobre cursos, aqueles universitários, fui obrigada a procurar aos doze anos mais ou menos como eram, às vezes me adentrando em uma universidade pública perto de casa e interrogar na cara das pessoas sobre como eram as aulas, as matérias e tudo. Treze anos foi o tempo que eu comecei a ler algumas fanfictions na internet com um conteúdo que as pessoas considerariam ‘maduro pra a minha idade’ – e, desde então, meio que sem querer compreendia alguns códigos que uns meninos usavam na turma e me impressionou eu não ter a mesma reação que a deles. Aos quatorze anos, já escrevendo secretamente contos de várias classificações (inclusive os mais pesados), meti em uma fria por um garoto de outra turma que queria ficar comigo e se alterou por causa de um ‘não’, começando a fazer todo um discurso pra tentar me humilhar (o que ele não sabia é que eu já tinha consciência sozinha de como não pirar e ir denunciar com o conselho disciplinar e tendo testemunhas o suficiente para conseguir conversar com a mãe). Nessa idade, eu também tinha uma ideia muito melhor sobre diversidade sexual, identificação de gênero e algumas discriminações bem sutis. Depois eu encontraria pessoas com ideias de feminismo na cabeça, mas com ações diferentes.
Dos quinze até agora, dezesseis anos, eu poderia relatar mais coisas, mas o evento principal de lá para cá foram eu e meus pais se mudar para a casa do tio e depois conseguirem algum espaço em outra cidade. Só que meio que me rebelei um pouco para ficar na casa do meu tio porquê, como diz minha mãe, “você não gosta de ser contrariada quando digo que você tentar seguir ‘isso’ e não conseguir terminar nada decente, e você sabe que você vai se arrepender depois”. Ela falou isso por causa do mesmo sentimento que se retorceu em seu rosto quando eu comentei que “não era ruim se eu conseguisse escrever uma obra com cenas de sexo com uma narrativa de qualidade”. Mamãe e eu sempre tivemos opiniões às vezes parecidas, às vezes diferentes. E ela sabia que eu tinha as notas que eu tinha porquê eu estudava demais, mas não para ser uma doutora de faculdade, mas sim pra escrever, como escrever sempre foi tudo pra mim e não um homem bonito e rico que supostamente mudaria minha vida.
Não que eu deixasse de ver ela. Às vezes ela vem com papai. Às vezes vem sozinha. Papai liga todo dia. Ela, videoconferências pelo Skype que acontecem quase todo dia com o objetivo de saber o que se passa na minha vida. Algumas vezes, a gente viaja, junto com o meu irmão que mora lá, pra outra cidade no interior, onde reside minha avó. Como o filho mais novo do meu tio é meu colega de turma geralmente, devido a termos a mesma idade, titio age como meu pai às vezes quando pode, no colégio ou em outras ocasiões. Eles não tiveram muito problema comigo se instalando na casa. No começo da minha vida na casa aos quinze anos, eu dormia no quarto da mais velha, mas ela acabou se casando, titio teve que abrigar outra pessoa da nossa família (que precisava de um quarto pra ela) e o mais novo decidiu compartilhar o quarto comigo.
O mais novo se chama Miguel. Eu e ele compartilhamos dos olhos castanhos, característicos de nossa família, mas ele se sobressaiu melhor na escola com suas habilidades de interação social – interação que, como ele próprio diz, “você é claramente seletiva demais, quase um Darwin”, ainda que eu não me considere sinceramente um Darwin. As meninas têm a maior simpatia por ele, como ele tem uma suposta aura gentil e calma que faz algumas o olharem como um “bom material de namoro”. Ouvi casos que dois meninos tentaram uma inciativa, por mais que um, por algum motivo, tivesse um braço torcido e o outro se assustasse sempre que meu primo aparecia perto dele.
Não faço ainda ideia do que pode ter acontecido, mas suspeito que seja por influência de duas coisas. Primeiro, o que minha prima Naiá uma vez falou “não precisa se preocupar com ele indo umas vezes sozinho pra onde papai bebe, não é como algum homem desequilibrado de más intenções daqueles bares tivesse chance mesmo” e um prêmio de judô escondido em alguma das caixas do quarto. Segundo, o que uma colega minha uma vez me disse “você não acha que às vezes ele tem uma aparência vulnerável demais?”.
Não entendi o porquê dos dois meninos terem, desde então, saído da vista dele, mas eu tinha uma ideia do segundo ponto que minha colega queria dizer.
— Fala sério. — diz a outra pessoa do quarto, quem acabou de fazer o trabalho e deitado na cadeira de rodas que está de frente para minha direção. — Em que página você tá? 4?! — olho de esguelha, antes da luz clarear o contorno de uma roupa branca longa e única.
— 10. Página 10. É uma parte importante aqui. — digo com certo tom de irritação, embora sinta um peso de orgulho no peito. — Os leitores ficam tentando apressar a cena do beijo desses dois, mas será que eles não entendem que mesmo em situações assim... Eles não vão terminar em casamento tão cedo, se é isso que eles tanto querem? — urro baixinho de frustração: quantas vezes tive que responder a comentários tolos?
— Essa é a tal história de sadomasoquismo?
— É.
— Que você começou a escrever por quê você ficou revoltada com o povo e “cinquenta tons”?
— Nem me fala naquele livro. — sibilo.
— Não sei com que material você queria afirmar que — então, a outra tenta imitar minha voz. — “embora ela tenha sido uma porta para maior valorização de outros livros do gênero, a autora não escreveu bem o tema”. Até parece que você tem idade pra querer pesquisar e escrever esse tipo de coisa.
— Eu não sei você — começo, finalmente me virando pra a olhar. — mas tem gente naquele site de fanfictions que é mais menor de idade do que eu. Fora que — estreito meus olhos, encarando os meus semelhantes. — você não é nada diferente, então não adianta tentar alguma moral comigo.
— Como assim?
— Você não é inocente. Cê tem essa carinha de anjo, mas...
— Nina de Deus, com que evidência você prova isso?
— Não me subestime. Eu sei do que eu digo. Você não se surpreendeu quando você foi ler sem minha permissão a última fanfic que eu escrevi.
— Ah, aquelas cenas de lemon e hentai?
— Arrã.
— Você soa como se livros fora desse universo das fanfics não tivessem também.
— Eu sei. O que eu quero dizer é — sorrio, certa do que eu acreditava. — você já leu antes, entende? Até por que eu sempre soube que, apesar do tio dizer que você é o Sr. Benevolência Em Pessoa, você é meio do mal.
— Meio do mal?
— Isso. Tipo, até hoje não sei o que diabos você fez com Eduardo e Vitório, mas eles parecem meio chocados quando tocam assunto sobre você. Como você fosse um mafioso italiano ou a Mulher Gato. — pauso por um momento, concentro-me tentando ligar os fatos, mas sacudo a cabeça e tento me desligar desse embate entre amigas. — Eu fico imaginando se eles sabem também.
— É? Até onde eu sei, é difícil entender quando você pensa em alguém como uma pessoa e de repente descobre que ela é outra. — a pessoa, desajeitada por conta do sono evidente em seu rosto, suspira e se retira da cadeira, caminhando de volta para a cama e então engatinhando pelo meu lado até o travesseiro. — O que me faz pensar... como eu ainda tô nessa situação com você? ...Talvez seja por seu cérebro mesmo.
— Bom, somos parentes, fazer o quê. Meu tio é seu pai.
— E, segundo o relógio – ouço um ruído dela ligando o celular. — é hora de crianças dormirem.
— Crianças. — lanço um olhar sarcástico pra a garota. — Você e a sua irmã ainda parecem me tratar feito uma garotinha. E você sabe que você tem a minha idade, né?
A outra pessoa dá risada, embora já esteja encolhida no lençol e sem muita força pra ficar acordada por mais meia hora.
— Mas você é uma garotinha. Ao menos, você parece uma, apesar de ter 16 anos.
Eu volto meu olhar para o notebook. É meia-noite e vinte e quatro minutos. A minha aula vai começar seis horas e amanhã eu serei uma morta viva ambulante de novo.
— Ah, vá te lascar. — é o que retruco ao fechar o aparelho e guardar debaixo da cama, antes de me juntar à ela na cama e acabarmos no sono.
Comentário da autora: Lucie e suas personagens escritoras de novo kkkkkk
~x~
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