Every new beginning comes from some other beginning's end
(Closing Time - Semisonic)
Era uma vez uma menina que sofria.
Era uma vez uma menina que não queria mais sofrer.
Era uma vez a história de uma mudança.
Talvez por essa história ser ambientada no final de um ano, você pode acreditar que as mudanças eram fogo de palha da vontade de fazer diferente no ano que começaria em breve. Pode ser. Ou talvez a menina em questão possa ter sofrido uma desilusão amorosa e estivesse tentando se reinventar. Ou talvez ela estivesse simplesmente cansada de acordar todo dia sem motivação para sair da cama. Os motivos não são importantes. O importante é a escolha.
Ela queria ser feliz. Genuinamente feliz.
Querer já era o primeiro passo para ser. Não dizem por aí que felicidade é questão de ser?
Começou mudando o cabelo. Estava cansada das químicas e resolveu que ia assumir seus cachos naturais de uma vez por todas – antes tarde do que nunca. Não queria mais se sentir escrava dos padrões ditatoriais de uma beleza que - convenhamos, pensava ela - nem é tão bela assim.
Depois mudou o guarda-roupa. Pegou aquele monte de roupa velha e pouco feminina e deu para o Exército da Salvação. Juntou seu suado salário e parcelou as compras para não sentir a pedrada de uma vez só. Passou tardes passeando pelas lojas, sozinha, experimentando as roupas, olhando-se nos espelhos e forçando-se a pensar "sim, você é linda. Sim, você é maravilhosa" ao invés de "Jesus Cristo, preciso nascer de novo".
Nas compras, separou uma ou outra maquiagem. Não que gostasse da ideia de bezuntar a cara com um monte de produtos e não era isso que pretendia fazer. No entanto, arrumar aquelas olheiras poderia ser bem visto. Assim como colocar cor nos lábios, para contrastar com a pele morena clara.
No início, tudo isso era difícil. Os cachos incomodavam, a roupa nova parecia que ressaltava todas as partes ruins de seu corpo, a maquiagem escorria no calor e ela tinha vergonha. Ela tinha vergonha de se achar bonita. Pior, ela tinha vergonha que os outros a achassem bonita.
Era difícil mudar um hábito de mais de duas décadas. Porém, era necessário. A verdade era que ela descobriu, no final de sua empreitada de mudanças que todas aquelas mudanças físicas eram totalmente inúteis se a maior mudança não se realizasse dentro dela. E é por isso que foi tão difícil.
E é por isso que vocês tem que acreditar que essa história não é sobre uma menina que tem fogo de palha na hora da mudança do ano. Porque, se fosse uma mudança digna das promessas de fim de ano, as mudanças terminariam nas compras.
A mudança dessa história era tão grande que não cabe em um conto curto. Talvez um dia alguém escreva a história dessa garota que resolveu parar de sofrer e buscar a felicidade, mesmo que ela soubesse que iria tropeçar no caminho. Afinal, era melhor trocar os polos. Mesmo que ela acordasse um dia mal, sabia que teria outros dias muito bons para compensar. Antes, entendia que se um dia acordasse bem, havia muitos dias ruins para compensar.
No dia do ano novo, essa menina nem pensou na cor da calcinha, mas mentalizou com toda força um único mantra: VOU SER FELIZ NESSE NOVO ANO, VOU CONSEGUIR SER FELIZ...
Era o fim da vida de uma menina que sofria.
Era o início da vida de uma menina que sorria. Sempre.
Eu tô faz uns minutos tentando achar palavras pra dizer algo sobre o conto, mas... Sei lá. Só me encaixei bem demais, e acho difícil descrever o que mais eu senti. Ficou lindo, Clara *--*
ResponderExcluirClara, eu gosto muito, muito mesmo quando os blogueiros compartilham contos e crônicas seus no blog. Acho que torna o espaço mais íntimo, sabe? E o seu texto não poderia ter sido melhor.
ResponderExcluirNão sei se foi fictício ou se tem algo que alcance a realidade nele, mas, independentemente disso, tenho certeza de que, uma vez consciente dessa paz de espírito consigo mesma, essa menina e todas as outras conseguirão ser felizes e sorrirão mais por aí neste e em todos os outros anos que virão.
A mudança e a aceitação vêm de dentro para fora.
Beijo!
Amei o conto Clara!
ResponderExcluirMe identifiquei demais pois tem tudo a ver com o momento que to passando.
Abandonei a química e assumi os cachos (não sei porque não fiz isso antes!), to começando a aceitar meu corpo, magrelo do jeito que ele é mesmo rs, mudei o guarda-roupa... Enfim, essa menina do texto poderia muito bem ser eu, ou você, ou qualquer uma de nós e é isso que torno o conto tão brilhante.
Lindo o conto. Clara sabe como nos inspirar, nos tocar. Acho que todo mundo já passou, está passando ou passará por essa fase na vida. Mas mudanças são boas, desde que venham de dentro.
ResponderExcluir