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sábado, 16 de fevereiro de 2013

[FEITO A MÃO] Amor em 500 palavras



         Um micro-conto em apenas 500 palavras sobre o tipo mais controverso e engraçado de amor: o fraternal.


     Eu estava tentando entrar sorrateira pela janela de meu quarto. Já era madrugada e, pelas luzes apagadas, meus pais ainda deviam estar dormindo. O que era um alívio! Sei que foi errado ter fugido pela janela e ir escondida a festa da Anna, mas o Théo ia estar lá, e eu não podia perder a oportunidade de vê-lo. Estava tão apaixonada por ele que chegava a soar ridículo.
      “Malditos feromônios”  murmurei já um tanto arrependida, tentando me mover no escuro.
      Num átimo a porta se abriu e as luzes se acenderam inundando minhas órbitas oculares. Quando o incômodo passou, meus olhos puderam ver meu irmão Douglas parado na soleira, com um sorrisinho sarcástico no rosto.
      Droga! Eu havia esquecido que ele ficava em seu quarto, jogando World of Warcraft até altas horas da madrugada e tinha a mania de, entre uma partida e outra, fazer um lanchinho na cozinha para recobrar as energias. Embora eu não entendesse como ele podia gastá-las ficando sentado igual a um zumbi diante do computador.
      “Vejam só quem resolveu aparecer.” disse ele cruzando os braços sobre o peito com uma superioridade moral que me irritava. Meu irmão mais velho era um idiota, mas eu estava nas mãos dele. Era só o cretino elevar a voz para os meus pais acordarem e eu ser sentenciada a um castigo perpétuo.
      “Ok. O quê você quer pra não me delatar?” disparei.
     Meu irmão coçou o queixo teatralmente  fingindo que pensava em algo. A verdade é que ele estava gostando de me torturar mais um pouco.
      “O quê você sugere, maninha?”
      “Bem, eu posso levar o lixo pra fora no seu lugar durante um mês...”
      “É essa sua oferta? Acho que podemos melhorar isso, não?”
      “Tudo bem, você escolhe.” afirmei me dando por vencida.
      Porém Douglas não respondeu, sua atenção fixou-se ao acaso na minha escrivaninha e num monte de fotos que se encontrava ali.
      “O que você vai fazer com isso?” ele perguntou pegando uma foto em que ele e eu, ainda crianças, aparecíamos sorridentes e abraçados.
      “Ah, nada demais. Tive a ideia de montar um painel com os momentos mais legais da minha vida. E então eu vi essa foto da gente no zoológico. Achei que devia colocar.”
      Meu irmão olhou pra mim e sorriu, depois jogou a foto sobre a escrivaninha e foi se encaminhando devagar pra fora do quarto.
     “Ei, e o nosso trato?”
      Ele então parou na soleira da porta.
      “Sabe qual foi o dia mais legal da minha vida? Quando eu entrei nessa casa pela primeira vez e você me chamou de irmão. Eu não entendia o que a palavra ‘adoção’ queria dizer, mas sabia o que ‘irmão’ significava. E quando você a disse eu gostei do jeito que soou.”
      Por um momento Douglas deu um sorrisinho tímido, depois fechou a cara e foi saindo do quarto.
      “Boa noite, cabeça de vento.”
      “Boa noite, cérebro de minhoca.” eu respondi.
       É. No final das contas meu irmão era até legal. Quer dizer, só um pouquinho...


Chris Salles é escritora wannabe e irmã orgulhosa de um pirralho banguela que adora o Homem Aranha.

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5 comentários:

  1. Respostas
    1. Lembrei de você quando estava procurando uma foto para o post e achei essa.

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  2. Respostas
    1. Foi feito há tanto tempo atrás... Acho que eu não produzo nada de novo. rs Obrigada mesmo assim, Alice.

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  3. Adorei, bem escrito e "bunitinho"...

    cafe-elivro.blogspot.com.br/

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