[RESENHA] A Mecânica do Coração — Mathias Malzieu

Título (Original): La Mécanique du Coeur

Autor(a): Mathias Malzieu
Editora: Galera Record
Ano da primeira publicação: 2011
Nº de páginas: 189

O pequeno Jack nasce na noite mais fria do mundo e seu frágil coração está irremediavelmente congelado. Salvo pelas mãos de uma experiente parteira, a Dra. Madeleine, ele é submetido a uma operação de emergência. Seu órgão é substituído por um relógio de madeira, um pequeno cuco que o ajudará a manter o ritmo das batidas e a bombear o sangue normalmente. A delicada prótese garantirá que Jack leve uma vida igual à de todos os outros garotos. Ou quase igual. Jack sabe que não pode se expor às sensações comuns, como a raiva e o desespero, a frustração e o amor. O menor sinal deste último sentimento pode fazer com que o pleno funcionamento de Jack entre em colapso.

“A Mecânica do Coração” é uma das histórias mais originais que eu já li. De uma escrita gostosa, o livro parece ser um conto de fadas moderno, mas que não é nada infantil. A trama é muito poética e chega a ter até mesmo uma pegada mais “dark”, que, dentre outros motivos, levou o livro a ser muito comparado com o estilo de histórias e personagens de Tim Burton.

A começar pelo protagonista Jack, o menino do coração de cuco. Adotado pela Dra. Madeleine, a parteira que lhe deu seu coração mecânico, Jack tem instruções muito certas de como deve lidar com seus sentimentos:

“Em primeiro lugar, não toque nos seus ponteiros. Em segundo lugar, controle sua raiva. Em terceiro, nunca, mas nunquinha mesmo, se apaixone. Pois, neste caso, o grande ponteiro das horas transpassará para sempre sua pele no relógio de seu coração, seus ossos implodirão, e a mecânica do coração voltará a emperrar”.

Entenderam a gravidade da situação?

Apesar disso, Jack acaba se apaixonando por uma charmosa cantorinha com problemas de vista, a jovem Acácia. Logo que ele a vê pela primeira vez, seu coração-relógio, literalmente, dispara – com direito ao pássaro cuco saindo para cantar e tudo mais!

Os livro conta com personagens inusitados e muito cativantes. Além de Jack temos a parteira que parece ser meio bruxa, duas prostitutas, a própria Acácia que, apesar do problema de vista, odeia usar óculos e prefere sair por aí trombando em tudo que está no seu caminho, e até mesmo uma versão do curioso pioneiro dos filmes, o cineasta “George Meliès”.

O legal é que em meio a toda essa fantasia e universo peculiar, o autor consegue trazer muita profundidade e uma montanha-russa de sentimentos, com cenas que vão desde a doçura com que narra o amor entre Jack e Acácia, à uma melancolia profunda quando lida com temas como o bullying sofrido pelo garoto do coração mecânico, o seu abandono pela mãe biológica e a convivência com outros renegados da sociedade sob o teto da Dra. Madeleine.

Uma coisa que achei interessante é que o autor do livro também é membro de uma banda (Dionysos, anote aí) que produziu um álbum inteiro baseado na história. Vale dar uma conferida no clipe da música tema de Jack e Acácia, quem sabe não anima a ler!