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domingo, 5 de janeiro de 2020

[FEITO A MÃO] Copo de Água com Açúcar I.V - O cara mau




Algumas considerações a se fazer antes da leitura deste episódio:
a) Não é intuito desta série ou destas séries ridicularizar disfunções psíquicas como a esquizofrenia infantil. 
b) Antes de tomar definitivamente como base esta história para qualquer coisa, pesquise e reflita esta questão. Devido a ser uma obra ficcional, pode não corresponder à realidade. 
c) Era isso. Boa leitura :)

~


No primeiro episódio, vimos a família de Ricardo.
No segundo episódio, vemos personagens como Olívia e Kiara.
No terceiro episódio, o segundo protagonista aparece.
No quarto episódio, personagens como Teodoro e Fernanda entram em cena.
Fonte da imagem: https://sebrae.ms/destaque/publico-alvo/
Neste quinto episódio, entramos na psique de Maximiliano e vemos algumas coisas do seu modo.


dedico este episódio para Analice

COPO DE ÁGUA COM AÇÚCAR - PRIMEIRA SÉRIE


V – O cara mau

Enquanto Fernanda e Ricardo conversavam sobre a amizade de seus pais, Maximiliano já tinha ficado entediado com o filme. Achou interessante sim a abordagem da professora e ainda mais a vontade dela de dar voz às crianças. Nem ler um livro o fazia se aquietar. Ele não tinha a crença de que música melhoraria as coisas naquele momento, pois gostava mais do silêncio. Os membros de sua gangue conversavam entre si, alguns que se interessavam em discutir e outros em jogar bolinhas de papéis nos colegas mais vulneráveis. Suspirou. Não havia muito o que fazer naquela classe.
Resolveu sair da carteira, ir na direção da professora e falar:
- Vou ao banheiro.
- Agora? – perguntou a professora, desconfiada.
Ele não disse nada. Não precisou dizer nada para ser claro. Seu olhar afrontoso bastava.
- Demorarei um pouco – assim que soube que o desafio foi ganho, ele anunciou em um tom um pouco mais alto.
Na linguagem dele para a gangue, significava “Dirceu está no comando agora”. Às vezes ser o comandante pode cansar, pensou ele ao sair da sala e fechar a porta. Sabia que Dirceu não era impiedoso como ele, mas era bom ter alguém dentro da gangue sendo o Senhor Simpatia da turma. Tinha as suas vantagens, ele via, e a turma poderia ser menos resistente às suas exigências. Bem ele sabia, pelas vezes que seu tio foi para a sala da diretora, que os professores costumavam dizer que as turmas do seu ano viraram uma espécie de “prisão infantil”. Não havia pessoas da gangue somente em sua turma. Era bem organizado o grupo de garotos. A maior intenção de Maximiliano em ter parte do controle dos seus colegas era fortalecimento. Era uma boa intenção ou era pelo menos o que ele queria crer.
- Preciso ver eles – disse, referindo-se às pessoas das turmas vizinhas.
Sua ida ao banheiro, alguns sabiam, não era bem uma ida ao banheiro. Era uma checagem de como estava indo as coisas, a escola, as pessoas. Ele via rapidamente pelas janelinhas das portas das turmas do sexto ano e analisava se estava tudo aos conformes. A turma A estava eufórica e ele viu que era um professor novo administrando as aulas de Inglês. A turma C se achava em estado silencioso e Maximiliano percebeu que era por a professora de História já dar o conteúdo. Ele ficou por algum tempo observando a turma com certa inveja, pois História e Literatura eram as suas disciplinas favoritas. A turma D se encontrava em um círculo gigante, provavelmente por uma professora antiga na escola querer conversar sobre características dos alunos. A turma E tinha os olhos vidrados em um slideshow de Ciências. Maximiliano viu que as coisas estavam dentro do seu controle.
- Ótimo – disse – Muito bom. Agora... Cadê ele mesmo?
Ele se referia à Ricardo. Desde que ele soube sobre a interação ativa entre ele e os pais, desejava bastante dar uma lição a ele. Maximiliano não contava a muitas pessoas, mas ele não gostava de coisas, situações ou pessoas que o fizessem se lembrar de seu passado. Quase o tempo todo ele se recordava. Para poder se desfazer do ódio e da melancolia, ele precisava de alvos. Ele precisava ser durão. Ele precisava ser o cara mau. Ricardo era uma das pessoas que o faziam lembrar do passado e já tinha raiva dele por causa disso. “Aliás”, pensou, “ele não está sendo mimado demais?”. Ricardo já possuía aliados, percebeu ao escutar o som das vozes de Fernanda, Teodoro e de Ricardo através da porta da enfermaria. Se o garoto possuísse proteção demais, ele já não poderia lidar com ele sozinho.
- O que você está fazendo? – uma voz de mulher o abordou como se o pegasse fazendo uma coisa feia.
Maximiliano bateu os olhos em olhos similares aos de Ricardo. Não, pensou ele, não eram tão similares fora a cor dos olhos. Juliana Delgado se encontrava com Érica nos braços e conversara com a diretora antes de avistar o delinquente. A competição de entreolhares começou, mas Maximiliano teve a grande sensação de que ia perder e assim aconteceu. Ao contrário dos olhos de Ricardo, Juliana tinha os olhos afiados, desconfiados e bem focados. Sua presença gerava uma atmosfera de certa imponência.
- Estava procurando o banheiro, só isso – sem a encarar e com um leve arrepio na nuca, ele começou a se afastar dela.
“Com certeza”, pensou, “é a mãe ou a irmã daquele moleque”.
- Você é filho da Joana, não é? – antes que ele pudesse se ver livre dela, ela o questionou.
Aquilo foi como um baque no coração de gelo de Maximiliano. Um nome de uma grande conhecida, uma porrada bem forte no peito. Ele empurrou um lábio contra o outro e se virou para encarar o meio da testa dela.
- Sim – ele confessou.
- Ah, eu sabia que você era familiar... – Juliana contou – Você parece ser uma mistura dela e de seu pai, o Alexandre...
Antes que ela pudesse continuar a falar, Maximiliano resolveu virar as costas e andar até o banheiro masculino, onde ela não poderia adentrar.
- Mas que droga...! – ele chutou o mármore debaixo das pias – Por que a parente dela tinha que conhecer meus pais?! – não se sentindo bem e vendo que estava só no banheiro, encolheu-se em um canto para deixar algumas lágrimas escorrerem – Eu não vi ela por aqui quando aquilo ocorreu. Por que ninguém percebeu o que ia acontecer?
Respirou fundo. Foi até ao dispositivo que deixava papel para geralmente limpar as mãos. Ele pegou alguns para limpar o rosto antes de lavar com água os cantos dos olhos. Jogou água novamente. Não podia deixar ninguém saber que chorou. Era para a sua própria proteção e a da sua imagem também.
Quem se inteirava dos acontecimentos com a família de Maximiliano sabia da tragédia que aconteceu com a família: pai, mãe e irmã. O irmão casado do pai biológico de Maximiliano resolveu o adotar após o incidente. Os professores mais antigos da escola podiam jurar de pés juntos que já viram uma fase diferente de Maximiliano. Uma criança realmente doce e alegre, esses professores diziam quando se lembravam.
Quando Maximiliano saiu do banheiro, verificou se não havia a mulher de olhos violetas. Aparentemente não estava mais lá, então ele decidiu andar pelo primeiro andar e tentar escutar outra vez a Enfermaria. Estava silenciosa, o que sinalizava que Ricardo não estava mais lá ou que Teodoro e Fernanda não se achavam mais lá. Satisfeito com as duas possibilidades, foi até à sala de aula que ele pertencia. Entrando, viu que toda a turma estava reunida em grupos de trabalho sobre o filme que passara. Para a sorte de Maximiliano, ele viu o mesmo filme de animação sete vezes durante sua vida. Parecia que os grupos eram de três a quatro, pois a professora o chamou para se juntar a Dirceu e Johnathan que eram seus únicos amigos de verdade. Maximiliano caçou Ricardo com seus olhos azuis acinzentados e descobriu que o garoto se achava aliado à Olívia e Kiara.
Isso era ruim. Kiara Lobo era uma garota valente. Olívia Pêssego escondia segredos que poderia levar até o túmulo se nada de estranho a acontecesse. Duas influências femininas que ele não gostaria que estivessem no seu alvo. Ricardo, em seu lugar, parecia feliz, mas também preocupado. Maximiliano se questionou por curiosidade o que Ricardo tinha. Dor de cabeça? Dor de barriga? Não parecia ser nenhuma das duas opções, como as doses eram controladas. Em seu canto, sentado perto dos dois amigos, Maximiliano ponderou. Só podia ser insulina.
- Maxi? Oi? – Dirceu mexeu uma das mãos na frente da vista do melhor amigo – O que tá pegando? Você tá bem?
- Tô só pensando sobre o garoto novo – respondeu Maximiliano – Em como podemos pegá-lo.
- Ah – Johnathan comentou – Vai ser mole. O cara parece ser fraco e fácil de enganar.
- O meu receio é justamente o número de companhias que ele vem tendo – disse Maximiliano – Dá uma olhada nas acompanhantes dele.
- Kiara Lobo conversando com um garoto? Pensei que ela só andasse com a amiguinha dela... – disse Jonathan, quem não conseguiu deixar de lado a sua frustração – Eu perguntei se ela quis sair comigo no último ano e ela me disse não.
- Não acredito que você julga um garoto novo por ele ser amigo de alguém que você queria namorar – Dirceu assentiu negativamente a cabeça – Será que você não se liga pra a idade que temos?
- Quero nem saber – Johnathan reclamou – Você fica do lado de quase todo novato que aparece.
- Fico não – Dirceu resmungou.
- Fica sim – contrapôs Johnathan irritado – Até imagino que você vai tentar proteger ele agora.
- Olha, ele é legal – Dirceu defendeu também irritado – Você precisa parar de querer bagunçar com todo mundo. Não somos assim.
- Ele não é todo mundo – concluiu Maximiliano – Já me decidi. Ele é nosso alvo desse mês.
FIM DA PRIMEIRA SÉRIE DE COPO DE ÁGUA COM AÇÚCAR
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