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quarta-feira, 18 de dezembro de 2019

[FEITO A MÃO] Copo de Água com Açúcar I.I. - A família de Ricardo


Créditos: https://www.amomeupet.org/noticias/845/o-cachorro-vira-lata-caramelo-o-maior-e-melhor-simbolo-canino-do-brasil

Não, o que você enxerga não é a família de Ricardo Delgado.
Mas também pode não ser um cachorro caramelo... 
Para Ricardo, as coisas podem não ser o que costumam aparentar ser.
Na nova série de séries de textos da NOSSOS Romances Adolescentes, acompanhamos uma parte da vida de um garoto que se muda de Goiás para Minas Gerais devido ao trabalho do pai como delegado. Nesse processo de mudança, o que envolve a inclusão dele em uma escola, ele conhece amigos, futuras relações malevolentes e uma futura paixão. 
Abram malas para Copo de Água com Açúcar :))

dedico este episódio para Beatriz Moraes

COPO DE ÁGUA COM AÇÚCAR – PRIMEIRA SÉRIE
I – A família de Ricardo


- Guilherme – pela milésima vez naquela semana, uma mulher de longos cabelos negros se direcionava a seu esposo delegado – eu tô te dizendo... Essas escolas de hoje em dia não estão ainda adequadas para o nosso menino! Você quer colocar o nosso filho em um covil de leões, é isso mesmo que eu entendi?
- Juli, se acalma, meu amor – vestido de roupas formais azuis, o homem firmava sua determinação em fazer sua pretensão acontecer – Durante muito tempo, eu também achei isso. Mas eu encontrei uma senhora que pode acompanhar Ricardo com um carinho similar – a sua afirmativa não fazia a sua esposa ficar calma, então deduziu: - Não é alguém que eu gostaria que fosse sua substituta. Você sabe que tenho meus olhos em você desde a primeira vez que a vi.
- Eu sei muito bem disso, criatura – Juliana Delgado bufou e ajeitou o embrulho que segurava nos braços – Não é o que me preocupa. Sei que a sua preocupação é Ricardo aparentemente não fazer amigos...
- Não fazer amigos? Sei que ele fez amigos – o olhar dele foi para o lado e ele podia observar na rua uma adolescente de roupas góticas se abaixar para dar ração a um de seus dois gatos pretos – Mas eu falo de gente da idade dele, sabe? Gente com quem ele possa curtir.
Desconfiada, Juliana olhou para a mesma direção de Guilherme. Uma mulher idosa com cachecol no pescoço se aproximava da garota. A esposa do delegado confirmava pelas interações carinhosas entre as duas que eram de confiança. Não precisou mais de um minuto para afirmar isso consigo própria.
- Não me diga que você tem medo de garotinhas, Guilherme Delgado...
Foi o que Juliana falou quando voltou a encarar o marido. Os dois se achavam no quintal de casa que não possuía um muro. Estavam diante de um fusca velho e amarelado.
- Não é medo, é intuição de pai – de voz baixa, ele prosseguiu assustado seu raciocínio – Ricardo disse que ela gosta do ocultismo e-
- Tinha que ser isso – a mulher colocou uma das mãos perto da boca e fez um olhar descrente – Olha, eu já conversei com a Sra. Marques e tudo. Sei que a menina é uma boa pessoa, fiz questão de olhar nos olhos da garota para me certificar disso e a minha intuição nunca falha.
- Independente disso – Guilherme não viu outra escolha a não ser acenar para a garota de roupas góticas que o chamou por “delegado” – Eu acho bom ele ter mais amigos. Não sei por quanto tempo eu e você estaremos aqui na Terra e o mundo cobra que as pessoas tenham sociabilidade... Então...
- Ricardo é um ser bem sociável – sem raiva e com convicção, Juliana defendeu seu filho.
- Não é bem isso que eu queria dizer – Guilherme disse sério – Juli, eu me refiro a ter experiências com outras pessoas. Tanto você como eu sabemos o quanto o isolamos demais devido a essa esquizofrenia. E não acho que esse seja nosso objetivo aqui na Terra. Nem a dela – seu olhar se referia à pequena Érica que dormia tranquila nos braços da mãe.
- Érica não tem esse diagnóstico ainda. Ainda é quase um bebê.
- Não sabíamos que Ricardo tinha até os 6 anos de idade. Uma esquizofrenia precoce. Muito precoce.
- Mãããããããe – uma voz se aproximava e os dois adultos viraram suas cabeças para encontrar um garoto baixo de onze anos empurrar uma mochila-mala – Não se preocupa. Eu vou. Eu vou pra a escola. Até já arrumei todas as minhas coisas aqui dentro...
- Tem certeza? – Juliana o olhou nos olhos – Você não é obrigado a ir... Podemos dar um jeito de ter uma alternativa.
- Não, mãe, tá tudo bem – Ricardo não sentia firmeza nas próprias palavras – Fica calma que vou ficar bem, tá?
- Guilherme – com o coração mexido pela inocência do menino, Juliana disparou um olhar ferino na direção do marido.
- Conheço esse olhar – o homem riu – Caso acontecer alguma coisa, pode me responsabilizar.
Os quatro seres humanos entraram no fusca. Era um fusca meio apertado com dois pequenos ventiladores presos para disfarçar a ausência de ar condicionado. Ricardo pôde comtemplar o céu acima de si e se certificar que era cinzento. Uma neblina sobrevoava o asfalto e os jardins do município mineiro de Vila Nova. Uma tempestade era capaz de surgir, foi o que pensou antes de sua mãe pedir para que fechasse a porta.
Seu pai deu a partida no carro e minutos depois já se localizavam em uma das avenidas principais. Ali, ficava uma igreja não muito grande azul com uma cruz enorme na sua entrada. A grama não estava completamente aparada ao redor da localidade. Em outros lados da avenida, existiam casas e edifícios de no máximo cinco andares.
- Ricardo – Juliana chamou sua atenção justamente quando o menino observou um cachorro latindo na rua e percebeu este mudando para uma espécie de monstro – Você está bem?
- Eu? – ele indicou o dedo para o rosto – Tô bem sim.
Na verdade, a palavra mais adequada que ele encontrava para definir seu estado era desconfortável. Ricardo se acostumou a enxergar coisas que as outras pessoas não viam. Para ele, o mundo era diferente. Eram tantas coisas assustadoras para os outros que ele apenas ficava impressionado com aquelas visões e ruídos. Mas, não, não era legal para o pré-adolescente criado no estado de Goiás.
- Você pôs seu kit de higiene bucal?
- Sim, mamãe.
- E a sua lancheira com o sanduíche que você tanto gosta?
- Também, mamãe.
- Você sabe que vai precisar tomar seus remédios às 8h, não sabe?
- Sei sim.
- Se lembra de ir para o banheiro masculino quando for tomar?
- Eu sempre tomo no banheiro, mamãe.
- E você vai me telefonar na hora do lanche e na hora da saí-
Guilherme, dirigindo, disse:
- Juliana, acho que já está bom de recomendações a Ricardo. Veja. Chegamos à Terra Dourada.

CONTINUA NO PRÓXIMO EPISÓDIO
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