Algumas considerações a se fazer antes da leitura deste episódio:
a) Não é intuito desta série ou destas séries ridicularizar disfunções psíquicas como a esquizofrenia infantil.
b) Antes de tomar definitivamente como base esta história para qualquer coisa, pesquise e reflita esta questão. Devido a ser uma obra ficcional, pode não corresponder à realidade.
c) Era isso. Boa leitura :)
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Fonte da imagem: https://www.moriareviews.com/fantasy/good-omens-2019.htm |
Agora seremos introduzidos ao segundo protagonista e também provável antagonista.
dedico este episódio para T5
COPO DE ÁGUA COM AÇÚCAR - PRIMEIRA SÉRIE
III – A terrível escolha
- Com meu pai e com minha
mãe? – após seguir os passos da diretora para dentro do estabelecimento de ensino,
Ricardo a interrogou curioso – Mamãe sempre me diz que pareço muito o papai.
- Ah, jovem, é verdade
esse trem – concordou a Sra. Campinas enquanto guiava as três crianças para o
primeiro andar – Só que os olhos de sua mãe são inesquecíveis para quem a
conheceu... São de um tom único de coloração. E, também, em questão de beleza,
você definitivamente herdou dela.
- A sua mãe é ser muito
bonita, então – Olívia olhou Ricardo – Quase achei que você fosse uma
menina...!
- Com licença? – apesar
de não ter gostado muito da comparação, ele não se sentiu com raiva – Eu sou um
garoto!
- Acho que tu não entendeu
– Kiara resolveu esclarecer o raciocínio da amiga – Ela quis dizer que sua
aparência é tipo de um boneco... Sabe, aqueles bonecos bonitos e delicados?
Aquela informação era
nova para Ricardo, embora ele tivesse quase a certeza depois que a sua nova
vizinha mineira também achava isso. Quando ele a pegou lendo Lovecraft com os
olhos impressionados, ela soube de sua presença, encarou e, como segurasse as
palavras por ele ser um pré-adolescente ainda, apenas disse que ele era “engraçadinho”.
Andando na escola, Ricardo passou a refletir sobre a sua aparência. Ele não
ouvia outras opiniões a não ser as de sua família, as das chamadas alucinações,
às vezes da televisão, às vezes dos filmes, às vezes da rádio e dos novos
vizinhos. A garota gótica que o chamou de “engraçadinho” foi a única a se
pronunciar sobre o assunto da aparência de Ricardo. Os outros não falaram suas
opiniões, apenas interagiam sobre outras coisas como o tempo e espaço.
- Oi? – chamou Olívia –
Você está bem?
Ricardo percebeu que estava
devaneando por muito tempo. Engoliu em seco e falou:
- Tô bem – e não era
mentira, os seus pensamentos o desfocaram das figuras que pareciam o seguir das
sombras e ele se sentia vivo – Por quê perguntou?
- Achei que você tava bravo
comigo e com Kiara – respondeu a menina – Falamos e falamos e nada de você
prestar atenção. Fiquei preocupada.
Uma voz que seguia Ricardo
começou a rir. A voz de Olívia se repetiu três vezes “Fiquei preocupada” em sua
cabeça e o garoto quase achou que ia ficar vermelho que nem tomate. Não se
sentia envergonhado, a palavra mais adequada para expressar o que sentia era embaraçado.
Era quase igual quando a mãe lhe aplicava um elogio bastante amável, mas era
uma coisa diferente ao mesmo tempo.
“É óbvio”, uma outra voz
familiar disse e esta pertencia a uma sombra similar a de uma idosa, “Você está
apaixonado”.
“Engraçado que é a
primeira vez que ele fica assim”, uma sombra do que parecia ser um garoto o
seguia por outra parede, “E ele nem sabe o que significa”.
- O que significa estar
apaixonado? – Ricardo resolveu perguntar baixo, mas não havia nenhum outro
barulho, para seu desconhecimento, impedindo e ele acabou tendo a atenção de
muitos para si.
“Dá pra acreditar?”, a
sombra de garoto gargalhou.
- Ricardo? – foi a vez da
diretora falar com ele e pelos olhos dela, olhos temerosos por ele, ele
descobriu que ela sabia.
Ela sabia sobre o
diagnóstico, pensou ele no meio de uma escada grande.
- É que eu me lembrei de
uma música – para desfocar a atenção, ele passou a esboçar um sorriso ao cantar
uma música que já ouviu sua mãe cantar – Quando o vidro embaçar e você vier
pra me abraçar... Sabe, Sorriso Maroto?
- Sei – a Sra. Campinas não
queria falar, mas as três crianças perceberam que ela ficou mais aliviada –
Essa questão... De estar apaixonado... É bem simples. Você irá ver isso com a vida.
- Ricardo – Kiara comentou
baixo para ele e acenou a cabeça consigo mesma – Você tem uma cabeça de vento,
hein... Mas até que você canta.
- Estar apaixonado,
Ricardo, é quando você sente paixão por alguém – Olívia finalmente respondeu a
pergunta e procurou sorrir para ele antes de tornar a subir as escadas – Mas é
bom procurar no dicionário. Lá tem o significado de todas as palavras...
- Para onde estamos indo?
– perguntou Ricardo depois de três degraus à frente.
- Ora – a diretora,
brincalhona, o apontou e fechou um dos olhos – Como você pode ir a um lugar sem
saber onde vai?
- Você é a diretora –
respondeu Ricardo – e parece ser mais seguro estar com a senhora e com elas...
Do que lá fora.
- E pra quê a mochila grande?
– Kiara resolveu interrogar Ricardo naquele momento, uma pergunta que guardava
desde a primeira vez que prestou atenção nele de verdade – Você já tem todos os
livros?
- Sim – Ricardo respondeu
calmo – Mamãe me deu para guardar aqui dentro.
- Todos? Todos mesmo?
Você não vai precisar de nenhum! – a garota de cabelos loiros estava surpresa –
No primeiro dia, você não precisa levar nada além do estojo e do caderno...!
- Kiara – a Diretora
Campinas parou já no primeiro andar e sorriu – você é uma boa menina, mas não
precisa gritar com seu amigo desse jeito.
- Amigo...? – foi a vez
de Ricardo se surpreender.
A pequena Kiara o encarou
por quase meio minuto. Ricardo parecia nervoso com a sugestão da palavra. Ele
sabia que para os outros podia não ser nada isso, mas ser chamado de amigo de
uma pessoa era um grande acontecimento. Ele quase lagrimou.
- Tá legal – ela se
conformou com os braços cruzados – Amigo, tudo bem.
- Você fará boas amizades
na instituição, Ricardo – a Diretora Campinas realmente queria dizer o que disse,
percebeu ele – Vou lhe apresentar para uma moça, a Sônia, que poderá o ajudar
quando ela puder.
- Sônia? – os quatro
entraram em um corredorzinho antes de Olívia questionar com suavidade – A enfermeira?
– a menina trocou olhares com a amiga, mas ainda assim seguiram a diretora e
Ricardo.
- Sim, a enfermeira –
confirmou a diretora assim que abriu a porta da Enfermaria – Podem entrar à
vontade. Ricardo, veja que o serviço odontológico funciona aqui também. Caso
esteja com problema com dentes, não esqueça de vir para cá.
Eles entraram em um lugar
iluminado por luzes amarelas que não pareciam ser incandescentes. Uma jovem
mulher de cabelo castanho e pele parda estava sentada com seu jaleco verde. Ela
anotava algumas observações sobre um garotinho magricelo que se encontrava
deitado em uma das camas atrás de cortinas brancas. Uma garotinha esperava por
ele no sofá. Olívia e Kiara quase sobressaltaram de onde estavam, o que Ricardo
estranhou. Não percebeu nada de especial na garota que parecia ter a sua
altura.
- Pelos deuses – a garota
de cabelos loiros ficou boquiaberta – Paola Ribeiro!
- Eu te conheço? – a
acompanhante do garotinho a encarou com um ar de glamour – Ah, Kiara, relaxa. Eu
te conheço. Você é a minha colega de turma, a que sentava ano passado bem do
meu ladinho, né? Sei sobre você.
- OLÍVIA! – uma bomba
atômica explodiu dentro do coração de Kiara, pensou Ricardo que a observava
pegar nas mãos de Paola e acenar de forma exaustiva com a cabeça pra Olívia – Minha
ídola me conhece, aiiiii!
- Já sei, Kiara, eu estou
muuuito feliz por você... – ela se deu de ombros – Mas você se esqueceu que
esta-
- CARAMBA, NEM EM UMA
ENFERMARIA ESTAMOS QUIETOS?! – o garotinho magricelo resolveu se manifestar ainda
deitado – Por favor, se vocês vieram fazer confusão por causa da minha irmã,
vão embora!
- Quem é ele? – Kiara foi
a primeira a reagir.
- É o irmão dela –
respondeu a diretora com um tom preocupado – Patrício – ele se virou para a
enfermeira que só então pôde os dar atenção – O que ele tem?
- O Patrício foi pego
pelos meninos do Maximiliano – respondeu a enfermeira – Não todos. Percebi pelo
relato de Paola de que eles estão reunidos na entrada da escola, mas parece que
arranjaram um jeito de emboscar o menino antes.
- Maximiliano? Eita
ferro, esse nome sempre me cheira a treta – Kiara falou o que estava em sua mente.
- Ah, imagina quando eu
ver esse talzinho de Maximiliano... – uma aura sombria corrompeu o olhar de Paola
– Ninguém mexe com um dos meus! – Ricardo era um dos poucos tranquilos entre o grupo,
pois reconhecia a frase como sendo algo que sua mãe diria também – Senão, não
me chamo Paola Ribeiro!
- Com licença – Ricardo
pediu – Quem é ele?
- Aaah – ainda
estressada, Paola disse – Ele é o chefe dos encrenqueiros do nosso ano... E
quem é você?
- Ricardo – a Diretora
Campinas tratou de apresentar ele para as duas, Paola e Sônia – Paola você já conhece
e reconhecerá – vendo que a menina erguia uma sobrancelha em dúvida, a mulher
resolveu prosseguir – Ele é de Goiás – Paola compreendeu a escolha anterior de
palavras – Esta é Sônia Ventura, a enfermeira principal da nossa escola. Ela e
duas outras meninas são encarregadas de cuidar neste turno do dia. Este é o
garoto com quem comentei com você.
- Ah, sim – a moça de
pele parda assentiu compreensiva – É um prazer, Ricardo. Espero que possamos
ser amigos!
- Não é justo – Paola
retrucou e bateu os pés – Também quero ser amiga dele! Deve ser legal o estado
de Goiás!
- Ele estará na mesma
sala de Kiara e Olívia – anunciou a diretora.
- Como sabia em que sala
eu estaria? – quis saber Ricardo.
- Ah, meu bem, eu sou a
diretora. Sei de muitas coisas – a mulher acenou para eles – É bom vocês irem
para suas salas. As aulas começarão.
- Não quero chegar
atrasada! – com sua mochila, Kiara correu para fora da Enfermaria.
- Espera aí, Kiara, você
corre muito rápido! – Olívia foi logo atrás.
- Onde é a minha sala?! –
Ricardo resolveu as seguir.
Os três, sem se despedirem
de Sônia, Paola e Patrício, foram para uma sala na parte direita do andar. Ricardo
não se lembrou se ver qual era a numeração da sala, mas percebeu que era perto
de um cartaz verde e amarelo de “Bem vindos!”. A professora de Matemática já
estava a postos na carteira dela. Ricardo notou que ela estava meio nervosa,
provavelmente era uma professora nova na escola.
Havia uma bagunça geral
na sala. Ou melhor dizendo, o caos no fundo da sala. Ricardo, contente por ter
amigas de sua idade, mal podia expressar sua alegria em poder contar uma
novidade para seus pais. No entanto, sentado em sua própria carteira, pensou
que seria bom ter um amigo. Algo que o próprio Ricardo não sabia que também
desejava. Um amigo homem com quem pudesse brincar coisas de menino.
- Pode ser qualquer um – disse
baixo para si mesmo – Prometo ser amigo dele e tentar conquistar a amizade
desse menino. Seja ele quem for.
Então, ele começou a apontar,
sem olhar, para cada centímetro que pudesse estar sendo ocupado na sala. Quando
ele abriu os olhos, seu dedo apontava um garoto que parecia refletindo na
leitura de algum livro que não parecia ser da escola.
Para seu completo azar, o
garoto que ele escolheu aleatoriamente era Maximiliano Silveira.
O manda-chuva do grupo de
mini delinquentes.
CONTINUA NO PRÓXIMO
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