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sexta-feira, 3 de janeiro de 2020

[FEITO A MÃO] Copo de Água com Açúcar I.III - A terrível escolha

Algumas considerações a se fazer antes da leitura deste episódio:
a) Não é intuito desta série ou destas séries ridicularizar disfunções psíquicas como a esquizofrenia infantil. 
b) Antes de tomar definitivamente como base esta história para qualquer coisa, pesquise e reflita esta questão. Devido a ser uma obra ficcional, pode não corresponder à realidade. 
c) Era isso. Boa leitura :)

~

Fonte da imagem: https://www.moriareviews.com/fantasy/good-omens-2019.htm

Agora seremos introduzidos ao segundo protagonista e também provável antagonista.

dedico este episódio para T5

COPO DE ÁGUA COM AÇÚCAR - PRIMEIRA SÉRIE



III – A terrível escolha


- Com meu pai e com minha mãe? – após seguir os passos da diretora para dentro do estabelecimento de ensino, Ricardo a interrogou curioso – Mamãe sempre me diz que pareço muito o papai.
- Ah, jovem, é verdade esse trem – concordou a Sra. Campinas enquanto guiava as três crianças para o primeiro andar – Só que os olhos de sua mãe são inesquecíveis para quem a conheceu... São de um tom único de coloração. E, também, em questão de beleza, você definitivamente herdou dela.
- A sua mãe é ser muito bonita, então – Olívia olhou Ricardo – Quase achei que você fosse uma menina...!
- Com licença? – apesar de não ter gostado muito da comparação, ele não se sentiu com raiva – Eu sou um garoto!
- Acho que tu não entendeu – Kiara resolveu esclarecer o raciocínio da amiga – Ela quis dizer que sua aparência é tipo de um boneco... Sabe, aqueles bonecos bonitos e delicados?
Aquela informação era nova para Ricardo, embora ele tivesse quase a certeza depois que a sua nova vizinha mineira também achava isso. Quando ele a pegou lendo Lovecraft com os olhos impressionados, ela soube de sua presença, encarou e, como segurasse as palavras por ele ser um pré-adolescente ainda, apenas disse que ele era “engraçadinho”. Andando na escola, Ricardo passou a refletir sobre a sua aparência. Ele não ouvia outras opiniões a não ser as de sua família, as das chamadas alucinações, às vezes da televisão, às vezes dos filmes, às vezes da rádio e dos novos vizinhos. A garota gótica que o chamou de “engraçadinho” foi a única a se pronunciar sobre o assunto da aparência de Ricardo. Os outros não falaram suas opiniões, apenas interagiam sobre outras coisas como o tempo e espaço.
- Oi? – chamou Olívia – Você está bem?
Ricardo percebeu que estava devaneando por muito tempo. Engoliu em seco e falou:
- Tô bem – e não era mentira, os seus pensamentos o desfocaram das figuras que pareciam o seguir das sombras e ele se sentia vivo – Por quê perguntou?
- Achei que você tava bravo comigo e com Kiara – respondeu a menina – Falamos e falamos e nada de você prestar atenção. Fiquei preocupada.
Uma voz que seguia Ricardo começou a rir. A voz de Olívia se repetiu três vezes “Fiquei preocupada” em sua cabeça e o garoto quase achou que ia ficar vermelho que nem tomate. Não se sentia envergonhado, a palavra mais adequada para expressar o que sentia era embaraçado. Era quase igual quando a mãe lhe aplicava um elogio bastante amável, mas era uma coisa diferente ao mesmo tempo.
“É óbvio”, uma outra voz familiar disse e esta pertencia a uma sombra similar a de uma idosa, “Você está apaixonado”.
“Engraçado que é a primeira vez que ele fica assim”, uma sombra do que parecia ser um garoto o seguia por outra parede, “E ele nem sabe o que significa”.
- O que significa estar apaixonado? – Ricardo resolveu perguntar baixo, mas não havia nenhum outro barulho, para seu desconhecimento, impedindo e ele acabou tendo a atenção de muitos para si.
“Dá pra acreditar?”, a sombra de garoto gargalhou.
- Ricardo? – foi a vez da diretora falar com ele e pelos olhos dela, olhos temerosos por ele, ele descobriu que ela sabia.
Ela sabia sobre o diagnóstico, pensou ele no meio de uma escada grande.
- É que eu me lembrei de uma música – para desfocar a atenção, ele passou a esboçar um sorriso ao cantar uma música que já ouviu sua mãe cantar – Quando o vidro embaçar e você vier pra me abraçar... Sabe, Sorriso Maroto?
- Sei – a Sra. Campinas não queria falar, mas as três crianças perceberam que ela ficou mais aliviada – Essa questão... De estar apaixonado... É bem simples. Você irá ver isso com a vida.
- Ricardo – Kiara comentou baixo para ele e acenou a cabeça consigo mesma – Você tem uma cabeça de vento, hein... Mas até que você canta.
- Estar apaixonado, Ricardo, é quando você sente paixão por alguém – Olívia finalmente respondeu a pergunta e procurou sorrir para ele antes de tornar a subir as escadas – Mas é bom procurar no dicionário. Lá tem o significado de todas as palavras...
- Para onde estamos indo? – perguntou Ricardo depois de três degraus à frente.
- Ora – a diretora, brincalhona, o apontou e fechou um dos olhos – Como você pode ir a um lugar sem saber onde vai?
- Você é a diretora – respondeu Ricardo – e parece ser mais seguro estar com a senhora e com elas... Do que lá fora.
- E pra quê a mochila grande? – Kiara resolveu interrogar Ricardo naquele momento, uma pergunta que guardava desde a primeira vez que prestou atenção nele de verdade – Você já tem todos os livros?
- Sim – Ricardo respondeu calmo – Mamãe me deu para guardar aqui dentro.
- Todos? Todos mesmo? Você não vai precisar de nenhum! – a garota de cabelos loiros estava surpresa – No primeiro dia, você não precisa levar nada além do estojo e do caderno...!
- Kiara – a Diretora Campinas parou já no primeiro andar e sorriu – você é uma boa menina, mas não precisa gritar com seu amigo desse jeito.
- Amigo...? – foi a vez de Ricardo se surpreender.
A pequena Kiara o encarou por quase meio minuto. Ricardo parecia nervoso com a sugestão da palavra. Ele sabia que para os outros podia não ser nada isso, mas ser chamado de amigo de uma pessoa era um grande acontecimento. Ele quase lagrimou.
- Tá legal – ela se conformou com os braços cruzados – Amigo, tudo bem.
- Você fará boas amizades na instituição, Ricardo – a Diretora Campinas realmente queria dizer o que disse, percebeu ele – Vou lhe apresentar para uma moça, a Sônia, que poderá o ajudar quando ela puder.
- Sônia? – os quatro entraram em um corredorzinho antes de Olívia questionar com suavidade – A enfermeira? – a menina trocou olhares com a amiga, mas ainda assim seguiram a diretora e Ricardo.
- Sim, a enfermeira – confirmou a diretora assim que abriu a porta da Enfermaria – Podem entrar à vontade. Ricardo, veja que o serviço odontológico funciona aqui também. Caso esteja com problema com dentes, não esqueça de vir para cá.
Eles entraram em um lugar iluminado por luzes amarelas que não pareciam ser incandescentes. Uma jovem mulher de cabelo castanho e pele parda estava sentada com seu jaleco verde. Ela anotava algumas observações sobre um garotinho magricelo que se encontrava deitado em uma das camas atrás de cortinas brancas. Uma garotinha esperava por ele no sofá. Olívia e Kiara quase sobressaltaram de onde estavam, o que Ricardo estranhou. Não percebeu nada de especial na garota que parecia ter a sua altura.
- Pelos deuses – a garota de cabelos loiros ficou boquiaberta – Paola Ribeiro!
- Eu te conheço? – a acompanhante do garotinho a encarou com um ar de glamour – Ah, Kiara, relaxa. Eu te conheço. Você é a minha colega de turma, a que sentava ano passado bem do meu ladinho, né? Sei sobre você.
- OLÍVIA! – uma bomba atômica explodiu dentro do coração de Kiara, pensou Ricardo que a observava pegar nas mãos de Paola e acenar de forma exaustiva com a cabeça pra Olívia – Minha ídola me conhece, aiiiii!
- Já sei, Kiara, eu estou muuuito feliz por você... – ela se deu de ombros – Mas você se esqueceu que esta-
- CARAMBA, NEM EM UMA ENFERMARIA ESTAMOS QUIETOS?! – o garotinho magricelo resolveu se manifestar ainda deitado – Por favor, se vocês vieram fazer confusão por causa da minha irmã, vão embora!
- Quem é ele? – Kiara foi a primeira a reagir.
- É o irmão dela – respondeu a diretora com um tom preocupado – Patrício – ele se virou para a enfermeira que só então pôde os dar atenção – O que ele tem?
- O Patrício foi pego pelos meninos do Maximiliano – respondeu a enfermeira – Não todos. Percebi pelo relato de Paola de que eles estão reunidos na entrada da escola, mas parece que arranjaram um jeito de emboscar o menino antes.
- Maximiliano? Eita ferro, esse nome sempre me cheira a treta – Kiara falou o que estava em sua mente.
- Ah, imagina quando eu ver esse talzinho de Maximiliano... – uma aura sombria corrompeu o olhar de Paola – Ninguém mexe com um dos meus! – Ricardo era um dos poucos tranquilos entre o grupo, pois reconhecia a frase como sendo algo que sua mãe diria também – Senão, não me chamo Paola Ribeiro!
- Com licença – Ricardo pediu – Quem é ele?
- Aaah – ainda estressada, Paola disse – Ele é o chefe dos encrenqueiros do nosso ano... E quem é você?
- Ricardo – a Diretora Campinas tratou de apresentar ele para as duas, Paola e Sônia – Paola você já conhece e reconhecerá – vendo que a menina erguia uma sobrancelha em dúvida, a mulher resolveu prosseguir – Ele é de Goiás – Paola compreendeu a escolha anterior de palavras – Esta é Sônia Ventura, a enfermeira principal da nossa escola. Ela e duas outras meninas são encarregadas de cuidar neste turno do dia. Este é o garoto com quem comentei com você.
- Ah, sim – a moça de pele parda assentiu compreensiva – É um prazer, Ricardo. Espero que possamos ser amigos!
- Não é justo – Paola retrucou e bateu os pés – Também quero ser amiga dele! Deve ser legal o estado de Goiás!
- Ele estará na mesma sala de Kiara e Olívia – anunciou a diretora.
- Como sabia em que sala eu estaria? – quis saber Ricardo.
- Ah, meu bem, eu sou a diretora. Sei de muitas coisas – a mulher acenou para eles – É bom vocês irem para suas salas. As aulas começarão.
- Não quero chegar atrasada! – com sua mochila, Kiara correu para fora da Enfermaria.
- Espera aí, Kiara, você corre muito rápido! – Olívia foi logo atrás.
- Onde é a minha sala?! – Ricardo resolveu as seguir.
Os três, sem se despedirem de Sônia, Paola e Patrício, foram para uma sala na parte direita do andar. Ricardo não se lembrou se ver qual era a numeração da sala, mas percebeu que era perto de um cartaz verde e amarelo de “Bem vindos!”. A professora de Matemática já estava a postos na carteira dela. Ricardo notou que ela estava meio nervosa, provavelmente era uma professora nova na escola.
Havia uma bagunça geral na sala. Ou melhor dizendo, o caos no fundo da sala. Ricardo, contente por ter amigas de sua idade, mal podia expressar sua alegria em poder contar uma novidade para seus pais. No entanto, sentado em sua própria carteira, pensou que seria bom ter um amigo. Algo que o próprio Ricardo não sabia que também desejava. Um amigo homem com quem pudesse brincar coisas de menino.
- Pode ser qualquer um – disse baixo para si mesmo – Prometo ser amigo dele e tentar conquistar a amizade desse menino. Seja ele quem for.
Então, ele começou a apontar, sem olhar, para cada centímetro que pudesse estar sendo ocupado na sala. Quando ele abriu os olhos, seu dedo apontava um garoto que parecia refletindo na leitura de algum livro que não parecia ser da escola.
Para seu completo azar, o garoto que ele escolheu aleatoriamente era Maximiliano Silveira.
O manda-chuva do grupo de mini delinquentes.
CONTINUA NO PRÓXIMO EPISÓDIO
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