Imagem: Reprodução/Canção Nova |
O texto deste sábado foi enviado pela leitora Beatriz Moraes da cidade de Osasco do estado de São Paulo, quem escreve poemas desde seus dez anos e que, desde seus doze, levou seu hábito de criar histórias de ficção mais à sério (você também pode conferir outros textos da autora por aqui: http://www.wattpad.com/user/BiaMoraes). Para os curiosos (aproveitem e deem uma lida, é muito bom!), o textinho tem em seu começo a seguinte citação:
“A palavra é o próprio homem.
Somos feitos de palavras. Elas são nossa única realidade ou, pelo menos, o
único testemunho de nossa realidade".
Octavio
Paz
A PALAVRA É O PRÓPRIO HOMEM
Cada som é
uma consoante na escassa sentença da
vida. A luz, por sua vez, tornou-se nossa indispensável vogal. Nesta língua tão infinita, não há palavras sem vogais. Você
poderia imaginar que cinco letras não haviam de ter mais importância que o
restante do alfabeto porque isto seria injusto com as outras... Bom, quem rege
o universo resolveu não pensar assim. O valor que se dá a cada uma delas não
advém da quantidade de vezes que é requerida.
Assim como
a luz e o som. Não há favoritismo. Eles simplesmente são necessários, por diferentes
e irrefutáveis razões.
Quando
pensamos no pano de fundo do nosso universo — a galáxia a quem pertencemos, ao
sistema celestial que nos governa — a luz é o que nos vem primeiro a mente. Ela
é a nossa fonte de vida, ainda que indiretamente. Talvez o sol, no momento de
seu nascimento, não tivesse o propósito de alimentar criaturas como nós, seres
humanos tão contrariados e pouco sensatos. Quem sabe ele só quisesse luzir
porque é isso que ele sabe fazer, sem nenhum propósito maior, sem grandes
intenções. Ele é um herói acidental, por assim dizer, bem como todo o resto de
conjunto de estrelas. Já não sei minhas razões de glorificá-lo, porém... Como
descrer em sua valentia? O sol, ao contrário de muitos de nós, não tem medo de
brilhar.
Ele se
permite este deleite.
Já o som,
por sua vez, é um mistério delicioso. Não se propaga no vácuo, mas está em todo
o lugar, escondido, espreitando. Esperando alguém ouvir seu chamado, talvez.
Ele grita, exclama, e isso sem fazer-se ver. Ninguém enxerga o som. Entretanto,
sabemos que está ali. Como a gente, ele tem a necessidade natural e genética de
atenção. Precisa que todos tenham a audição aguçada para que seus dotes não
passem despercebidos.
Ele, acima
de tudo, precisa usar sua voz.
Tanto a luz
quanto o som... Eu os invejo, sabia? Não há nada de pouco singular em sua
maestria divina ou nos significados que cada um deles dá para nós. Afinal,
somos feitos da matéria destes dois grandes imperadores. Somos criados assim,
essa essência corre em nossas veias e em nosso material genético. Seres feitos
e moldados pela luz (que faz os olhos nos verem por fora) e pelo som (que
expressa o que há lá dentro). Nossos corpos são argila e eles nos manuseiam e
nos criam...
Somos
então, por analogia, filhos de consoantes e vogais?
Mas não é
por isso que os invejo. É pela capacidade exorbitante de não temerem o
incandescer ou o berrar. Por não terem medo de desagradar. Eles são o que são.
O som pode até ser inseguro, desacreditar um pouco na potência crucial de suas
entonações, porém jamais deixaria de cantar suas notas. A luz é o que é — mesmo
que pense que seu brilho não é tão grandioso assim, não há sombra alguma que a
faça parar. Deveríamos ser mais desta maneira. Deveríamos usá-los como exemplo
e bailarmos os meneios da vida sem pavor de sermos o que somos, seja lá o que nós sejamos.
Simplesmente
aprendendo a dançar conforme a música.
E, seja lá
o que nos prende (uma nuvem escura, a surdez dos desinteressados ou a descrença
em nossa capacidade de sermos nosso máximo), que nós possamos dissipar qualquer
amarra e enfim nos tornarmos nossas próprias fontes de luz — a melodia que nos
pertence.
Porque,
pode não acreditar, mas há mais palavras dentro de seu corpo do que carne e
osso. E, lá nos seus recantos, vai
encontrar sua música e sua supernova florescendo nas palavras não ditas e
transformando-se, quem sabe, numa nova forma de se narrar.
FIM
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