Ainda no clima de Natal, hoje tem conto do leitor Thales Lopes!
Não deixe de ler:
E eu, via-o claramente,
tão claramente que ofuscava meus olhos e faziam-no arder como chamas em uma
lareira. Ele não se importava comigo, aprendi a viver com a sua rejeição no
momento em que ele deixará claro que não queria mais. Não era fácil para mim,
foi intenso demais. Ama-lo foi como cortas meus pulsos e dilacerar minha pele
com facas afiadas, ama-lo foi como morrer lentamente me afogando em um mar de
lágrimas. Meus olhos semeavam rios, eu precisava supera-lo de qualquer maneira.
As nuvens do céu
transitavam de maneira lenta, o sol afastava-se criando um contraste entre a
luz e as sombras da grande árvore que ficava na parte de trás da minha casa.
Minha mãe cozinhava e preparava a ceia de natal nos fundos da residência e eu,
morria de tédio no quarto como qualquer um que não ligava nem um pouco para
isso.
Datas comemorativas
sempre é um saco para mim. Não conheço ninguém do meu bairro e sou tida como cafona
metida e desprezível, mas não me importo tanto com isso.
Minha mãe convidará
todos para a nossa ceia, um bando de desconhecidos em minha opinião. Vieram parentes
que eu via apenas uma vez por ano e que desprezava por não ter nada em comum
além do sangue, uma verdadeira tragédia grega. Eu não sabia bem o que fazer e o
que pensar, via tudo em tons cinzentos e abstratos, não tinham nada a dizer e a
fazer.
Eu observava as
estrelas do céu quando ela chegará, lembro-me perfeitamente daqueles cabelos
escuros. Ela mirou-me e riu, compreendia a imensidão da minha mente, retornava
a ser naquele instante meu porto seguro como já fora alguns anos atrás.
Aproximei-me
impulsivamente, não havia intencionalidade alguma naquele ato, agarrei-a e abracei-a,
disse oi da melhor maneira que pude e ela me respondeu da mesma forma. Eu
estudava agora o mistério dos seus olhos e ela, compartilhava o meu sentimento
de tédio e ignorava toda aquela farsa que era o nosso natal, nem sabíamos o significado
de todo aquele evento. Convidou-me para sair e eu aceito.
Começava a esquentar, o
calor do asfalto nos embriagava. Apesar de não termos ingerido uma gota de
álcool estávamos tontas e sem noção alguma do que fazer e para onde ir. Era engraçada
a entonação das nossas vozes e o rumo de nossas conversas que iam do cômico ao
trágico em segundos e mesmo assim não pareciam, por nenhum instante, maçante ou
tediante.
Andamos por quarteirões
até chegarmos numa casa vermelha. O portão estava fechado, mas ainda era
possível ouvir a música e as vozes que atravessavam por aquelas paredes.
Entramos, as pessoas riam e estavam felizes, todos eram amigáveis. Dançamos na
pista de dança como se fossemos divas dos anos oitenta, apesar disso, parecia
que o tempo congelará para nos observa dançando.
As luzes nunca
estiveram tão brilhantes, a felicidade é um êxtase que eu conhecia pela
primeira vez naquela noite não tão amena. O chão balançava um pouco assim como meu
corpo e o corpo dela. Eu sentia a luz na minha pele, era ciano, era uma droga
poderosa que consumia meu corpo aos poucos, mas parecia que eu havia descoberto
a melhor das melhores coisas do mundo. Ela me beijava lentamente, como o nascimento
de uma estrela, eu senti meu corpo fluir no espaço vazio existente entre mim e
o universo, percebi que éramos tudo que fazíamos.
No final da noite retornei
para casa, eu havia descoberto o segredo de seus lábios, tomei um banho e fui
dormir. Ao invés de escapar da realidade, descobri-me em um pesadelo um tanto
quanto inocente. Crise existencial não era nada comparada a isso, sonhei que
ele dizia que estava indo embora, subia em um trem e dizia adeus enquanto
segurava o Bob, meu coelho, entre as mãos e uma nuvem de cavalos voadores
cortava o céu com suas caudas multicoloridas.
Acordei assustada,
arrumei o cabelo e sai o quarto. Fiquei triste porque ele levará meu animal de
estimação para longe e então percebi que não me importava mais nenhum pouco com
ele.
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