Edição: 1
Editora: Companhia das Letras
ISBN: 9788535924015
Ano: 2014
Páginas: 280
Sinopse: Téo é um solitário estudante de medicina que divide seu tempo entre cuidar da mãe paraplégica e examinar cadáveres nas aulas de anatomia. Durante uma festa, ele conhece Clarice, uma jovem de espírito livre que sonha tornar-se roteirista de cinema. Ela está escrevendo um road movie sobre três amigas que viajam em busca de novas experiências. Obcecado por Clarice, Téo quer dissecar a rebeldia daquela menina. Começa, então, uma aproximação doentia que o leva a tomar uma atitude extrema. Passando por cenários oníricos, que incluem um chalé em Teresópolis e uma praia deserta em Ilha Grande, o casal estabelece uma rotina insólita, repleta de tortura psicológica e sordidez. O efeito é perturbador. Téo fala com calma, planeja os atos com frieza e justifica suas atitudes com uma lógica impecável. A capacidade do autor de explorar uma psique doentia é impressionante – e o mergulho psicológico não impede que o livro siga um ritmo eletrizante, repleto de surpresas, digno dos melhores thrillers da atualidade. Dias perfeitos é uma história de amor, sequestro e obsessão. Capaz de manter os personagens em tensão permanente e pródigo em diálogos afiados, Raphael Montes reafirma sua vocação para o suspense e se consolida como um grande talento da nova literatura nacional.
Teo podia ser um rapaz como qualquer outro - estudante de medicina, 22 anos, morador do Rio de Janeiro, uma vida sem grandes emoções. Mas tudo muda quando ele conhece Clarice num churrasco. Clarice, toda atitude, cigarros e ideias. Clarice, tão diferente dele, mas ainda assim capaz de fazer seu mundinho balançar. Clarice, por quem ele se percebe apaixonado, e bola um plano para se aproximar dela.
Um plano que envolve uma seringa, ampolas de tranquilizante, algemas, mordaça, uma mala Samsonite rosa e uma viagem não combinada até Teresópolis, onde Teo planeja ajudá-la a terminar o roteiro no qual ela está trabalhando enquanto prova que os dois podem ser, sim, muito felizes juntos.
Ah, eu mencionei que nada disso tem o consentimento dela?
Nas semanas que se seguem, Teo e Clarice criam uma rotina que varia de dias "perfeitos" até momentos de caça e caçador. Os papéis constantemente se invertem enquanto Teo tenta, em vão, provar para ela que seu sentimento é genuíno (pelo menos aos olhos dele), e que ele, e só ele, pode fazê-la feliz. E se há limites para restringi-lo, ele não ficou sabendo.
Eu já tinha ouvido falar muito de Dias Perfeitos antes de comprá-lo na Bienal do Livro (veja minhas comprinhas na Bienal no vídeo). Eu acompanho o autor Raphael Montes no Facebook desde seu primeiro livro, Suicidas, e desde o lançamento de Dias Perfeitos pela Cia das Letras, venho acompanhando a reação dos leitores em resenhas aqui e ali. Nunca tinha lido nenhum livro policial nacional, e, depois de tantos comentários, achei por bem começar por este.
É uma coisinha confusa, Dias Perfeitos. É difícil prever o que você vai sentir antes de ler, e enquanto eu lia, não imaginava que teria as reações que acabei tendo. Pra começar, embora o livro seja narrado em terceira pessoa, ele é todinho contado sob a perspectiva de Teo - um cara visivelmente "maluco", pra usar um termo totalmente não-técnico. Não entendo o bastante pra poder apontar qual a doença dele, mas ao meu ver leigo, Teo é o que se esperaria de um psicopata: frio, calculista, que não sente realmente as coisas, mas entende seu funcionamento bem o bastante pra poder reproduzir os sentimentos da maneira como a sociedade espera. Ele se mescla tão bem que só mesmo estando na cabeça dele (ou na pele de Clarice) pra ver como ele funciona e as coisas de que ele é capaz.
É justamente por ser narrado sob um ponto de vista tão conturbado que Dias Perfeitos acaba se tornando um daqueles livros meio polêmicos de se ler. Não vou arriscar um julgamento aqui dizendo que cheguei a me identificar com ele, mas acho que é impossível passar por uma narrativa em que o personagem esteja tão próximo e destrinchado sem acabar compreendendo-o de alguma forma. Foi mais ou menos o que aconteceu comigo. Não defendia as suas decisões malucas, mas entendia a lógica por trás dos pensamentos. Não queria que ele se safasse, mas ao mesmo tempo, me peguei não desejando um fim penoso pra ele. Teo entrou na minha cabeça tanto quanto eu entrei na dele.
A escrita de Raphael Montes é rápida e certeira, sem enrolações desnecessárias, e descritiva de uma maneira que tudo formava um filme perfeito na minha cabeça. Comecei a ler o livro ainda na Bienal, e teria facilmente terminado num dia, não fossem as circunstâncias. Apesar de ser bastante pesado, não é daquelas leituras que deixam a gente emocionalmente desgastado, o que contribui um pouco pro meu turbilhão de sentimentos - como eu consegui sair de uma leitura tensa tão ilesa?
Apesar de eu não ter gostado particularmente do final da história (achei meio fácil e um pouco inadequado), amei cada momento da leitura. Pra quem curte histórias policiais, muita tensão e algum sangue, fica aí a dica!
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