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sexta-feira, 20 de dezembro de 2019

[FEITO A MÃO] Copo de Água com Açúcar I.II. - Novas acompanhantes

Algumas considerações a se fazer antes da leitura deste episódio:
a) Não é intuito desta série ou destas séries ridicularizar disfunções psíquicas como a esquizofrenia infantil. 
b) Antes de tomar definitivamente como base esta história para qualquer coisa, pesquise e reflita esta questão. Devido a ser uma obra ficcional, pode não corresponder à realidade. 
c) Era isso. Boa leitura :)

~x~x~x~

Créditos: https://www.verdict.co.uk/water-harvester/
Agora, encontraremos as novas amizades que Ricardo terá e manterá pela frente.

dedico este episódio para Malena Sandim


COPO DE ÁGUA COM AÇÚCAR – PRIMEIRA SÉRIE

II – Novas acompanhantes

O lugar possuía portões de ferro pintados de azul escuro. O Centro Educacional Terra Dourada consistia num prédio vermelho e verde de quatro andares. Seu terreno incluía uma área externa com uma piscina para crianças e para os outros, uma quadra poliesportiva, um lugar para jogos de tênis de mesa, um aluguel para uma empresa alimentícia e um estacionamento. No entanto, era um espaço maior do que Ricardo estudara por quase toda a vida.
Dos sete aos dez anos, ele tinha sido estudante de professores particulares por autorização de órgãos públicos ligados a Educação em Goiás. O garoto não era completamente bobo, sabia que seus pais ralavam e ralavam em empregos que nem sempre eram fixos. Tudo isso para manter sua mente e o seu coração a salvo.
Mas, se havia algo que as estranhas aventuras o permitiram refletir, era que nem tudo poderia ser para sempre.
- Fique bem, filho – sua mãe não poderia o abraçar por estar segurando um bebê, sabia Ricardo, mas ela se abaixou ainda dentro do carro e no banco de trás para beijar a testa dele.
Seu pai e o de Érica, Guilherme, abriu a porta ao lado do menino e já segurava a pequena mala do pré-adolescente:
- Vamos, campeão! – um sorriso encorajador aparecia em seus lábios secos – Hoje é mais um dia que é seu – e estendeu um de seus braços para sua mão alcançar a do filho.
Obediente, Ricardo saiu do carro. E então, foi que começou outro evento paralelo à chegada do novo morador do município de Vila Nova.
- CHEGOU O BARULHO! – e um forte jato de água foi espirrado na direção do rosto de uma adolescente que chegava de bicicleta na escola.
- ARGH, DIRCEU! – a garota, revoltada, deixou a bicicleta cair quando se colocou de pé e foi atrás do menino que corria mais veloz que ela.
Não era só ele. Seis garotos pré-adolescentes estavam armados... de água. E atiravam aleatoriamente nas pessoas, um ritual que os seis consideravam comum para dar “boas vindas” no primeiro dia de aula. Talvez por estar com um delegado de polícia e com uma mulher com criança de colo, Ricardo ficou imune aos ataques dos meninos.
Não conseguindo esconder o espanto que se instalava em seu interior, Juliana, a mãe de Ricardo e de Érica, encarou o esposo em completa reprovação.
- A gente vai conversar sério sobre isso quando você me levar de volta para casa – ela não escondeu sua insatisfação.
- Ricardo – após engolir em seco, ele abraçou o menino – boa aula. Ah, não se esquece de me dizer o que rolou de bom e de ruim em seu dia, ok?
- Tudo bem, pai – Ricardo estendeu o braço e fez um punho – Parceiros. Lembra?
- Claro que lembro, campeão – Guilherme também fez um punho e bateu de leve no do filho.
Ricardo se despediu de seu pai, de sua mãe e de sua irmã para caminhar na direção do portão. Ao fazer isso, um dos seis meninos o enxergou como uma presa e se aproximou de mansinho. Só que, para seu desprazer, foi notado por uma garota de cabelos loiros que segurava uma lata de refrigerante de guaraná. Os dois tinham a mesma idade e se podia ver que a menina não guardava boas memórias do outro pelo olhar. Sabendo o que poderia acontecer, ela o olhou, olhou o refrigerante e andou decidida atrás dele.
- Oi, você deve ser novo – e antes que pudesse puxar o gatilho, o garoto sentiu algo gelado em sua nuca.
- Tenho você em minha mira – a garota disse – Johnathan, se você não quer que eu jogue em você, larga essa arma aí.
- Vou largar não, Kiara – o garoto rebateu – O que uma garota feia como você pode fazer?
- Não foi eu que começou – e a menina deu um tapão na arma dele com a outra mão de modo que o surpreendeu – Agora, você – ela acenou para Ricardo com o queixo – Bora!
Ricardo entendeu aquilo como uma chamada para correr. E correu junto dela.
- Toma cuidado com esses meninos – advertiu ela ao chegarem dentro do portão, terem dado a volta no térreo até perto de uma parte do local que se chamava “Secretaria” – Ei, você é novo – ela o percebeu melhor – Como se chama?
- Ah, sou Ricardo – disse ele contra a parede assim como ela.
Ela o deu um sorriso amigável e tomou o resto do seu guaraná.
- Kiara – eles se deram as mãos – Kiara Lobo. Nunca te vi aqui na cidade.
- Me mudei ontem mesmo – contou Ricardo – Eu morava em Paranaíba com meus pais e com minha irmã. Meu pai é delegado.
- Ele é o Delegado Delgado?
- Sim.
- Que sobrenome engraçado... – ela riu sem o fitar, apoiou os joelhos e se encostou mais na parede – Agora me lembro que não sei o que eu estava fazendo antes de ir com você.... Ah, sim! – ela voltou a ficar de pé – Me lembrei que tenho que encontrar minha amiga Olívia!
“Minha amiga Olívia, ela disse”, Ricardo ponderou. Ele tinha amigos, como a garota que gostava de ocultismo que ficava perto de sua casa e como a velha senhora que morava junto dela. Havia os seus animais de estimação, suas aranhas grandes e não venenosas que eram guardadas com todo o carinho em caixas com furos para oxigênio. Mas pessoas de sua idade, não. Ele ouvia histórias da infância de seu pai sobre como ele costumava jogar muita bola com os amigos. “...Como será que é ter amigos assim?”, ele quis saber.
- Você quer ir comigo? – perguntou Kiara depois de esperar ele divagar.
- Hum? – fez Ricardo, os olhos atentos e em um tom parecido com o violeta.
- Tô querendo dizer se você quer ir comigo atrás da minha amiga – Kiara ofereceu.
- Quero sim – radiante em poder ter tal privilégio, Ricardo concordou e seguiu Kiara enquanto arrastava sua pequena mala.
Antes que pudessem sair de perto da Secretaria, Ricardo observou uma moça sentada na mesa que ficava no centro do local e fora de algumas salas. Ela tinha cabelos ruivos aparentemente tingidos que o lembravam dos morangos que sua avó paterna gostava, usava óculos de armação grossa e vestia um vestido preto que cobria boa parte de suas pernas. O que o chamou mais atenção nela foi que ela os observava com uma atenção indiscreta. Ao notar que estava sendo enxergada, a mulher sorriu e acenou para ele.
- A secretária parece ser legal – foi o que comentou assim que saíram pela porta da Secretaria para ir na direção da área externa.
- Secretária? – Kiara piscou os olhos três vezes antes de continuar – Eu vi nenhuma.
- Juro que vi uma mulher de cabelo vermelho – disse ele.
- Ah, deve ser sua imaginação – riu ela, uma atitude que fez ele entender que ela não havia visto de verdade a moça – Vamos, Olívia deve estar encarando a água.
- A água? – questionou Ricardo.
Era um detalhe que ele entendeu apenas quando chegaram na piscina para crianças. Em uma cadeira próxima da água, encontrava-se uma garota da idade dos dois. Ela tinha cabelos castanhos escuros lisos e postos em marias chiquinhas, vestia o uniforme verde de Terra Dourada e chutava o ar com calma. Ricardo observou que ela parecia uma bonequinha antiga, tal como as que suas primas de Goiás possuíam. Ele acreditava nisso pela expressão da amiga de Kiara ser enigmática. Ele não conseguia saber o que ela pensava.
- Por que ela encara a água? – quis saber ele.
- Ela gosta da sensação de ficar perto, diz ela. O pai dela é pescador também. Deve ter ligação.
- Oh – fez ele antes que Olívia pudesse os notar e os encarar.
Aconteceu alguma espécie de hipnose na hora em que ela olhou Ricardo e Ricardo olhou ela. Uma hipnose que Ricardo não soube explicar bem, mas isso o fez se sentir sem graça e desviar a atenção primeiro.
- Olívia!
- Kiara...! – ela saiu da cadeira e foi andando com os tênis ao encontro dos dois sem pressa – Estava me perguntando para onde você foi.
- Fui ali. Comprar um guaraná – a menina contou – e achei ele. O nome dele é Ricardo. O pai dele é o delegado novo.
- O delegado Delgado? – Olívia, notou Ricardo, tinha um jeito único e diferente de pronunciar as palavras, algo que depois ele viria a descobrir ser a dicção.
- É – riu Kiara – Ele – indicou Ricardo com o dedo – disse que tinha uma secretária ruiva sentada na cadeira da secretária. Né que não existe essa secretária ruiva? Lembro que ela tem cabelo preto.
- Na verdade – Olívia encarou o menino uma segunda vez – existia uma secretária ruiva sim. Só que morreu. Papai não me disse a razão.
Ricardo já havia se acostumado em ser ridicularizado por crianças. Mas saber que alguma coisa que ele viu não era estranha o fez se sentir melhor.
- Como você sabe dela? – Kiara indagou a amiga – Eu nunca vi uma ruiva.
- Parece que ela estava como secretária na época do nosso prezinho – esclareceu Olívia – Dizem que era filha do diretor antigo.
- E o que aconteceu com o diretor antigo? – foi a vez de Ricardo perguntar.
- Eles-
Antes que Olívia pudesse continuar o que queria dizer, uma senhora se aproximou do trio pondo uma mão farta com unhas tingidas de esmalte azul no ombro de Olívia.
- Olívia Pêssego – o tom da mulher era sério – isso não é uma conversa para pessoas de sua idade.
Sem parecer esboçar uma reação afetada, Olívia a encarou com uma aparente tranquilidade.
- Sim, senhora...
- Você é mãe dela? – quis saber Ricardo, achando a situação familiar.
As duas meninas e a mulher o fitaram.
- Não, querido – começou a rir a mulher – Eu apenas sou amiga do pai dela. A mãe dela, Deus a tenha, está no céu neste exato momento... Sou a Diretora Campinas deste centro de ensino. É um prazer vê-lo... É... Ricardo Delgado? Você, você se parece mesmo com seu pai e com sua mãe!
CONTINUA NO PRÓXIMO EPISÓDIO...
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