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quinta-feira, 13 de março de 2014

[ENTREVISTA] Nara Vidal

Nara é uma mineirabem humorada, que se formou em Letras na UFRJ e depois se mandou pra estudar Shakespeare na Inglaterra, onde mora há mais de dez anos. Da sua experiência vivendo em solo estrangeiro e trabalhando como au pair (um programa de estudo e trabalho para mulheres) nasceu seu primeiro livro. A vontade de contar histórias não parou desde então. Depois dessa primeira experiência, Nara publicou uma série infantil bilíngue chamada O curioso mundo de Amelie, e esse ano, lança O arco-íris em preto e branco, além de ter outros quatro títulos em vista, todos voltados pro público infantil. Mesmo com tanto trabalho a caminho, a Nara tirou um tempinho pra falar com a gente e contar mais da sua carreira, dos planos pro futuro e outros pitacos!


1) Como descobriu que o que queria fazer da vida era escrever? 

Mas eu não descobri não! Eu escrevo e nem sei quando isso foi oficializado, ou seja, quando me tornei escritora. O fato é que eu sempre escrevi. Fiz Letras e escrevia muito. Daí, ainda na faculdade comecei a escrever versos. Devo ter escrito mais de dois mil! Na máquina , aquela velha. Não tinha computador, internet, nada! Minha amiga Fernanda me emprestava a máquina de escrever e nos fins de semana usava a do meu pai. Mas acho que o primeiro livro publicado sempre marca uma nova página. (peço desculpas pelo trocadilho pobre!) Eu publiquei o meu primeiro livro em 2010, por conta própria. É um livro de contos sobre morar fora. Gosto muito desse livro. Marcou uma nova possibilidade pra mim.

2) Quando contou a sua família, como eles reagiram?

Como eu nunca deixei de escrever não tive que sentar com meus pais e jogar a bomba que queria ser escritora! Minha mãe escrevia também. Só que muito melhor que eu. Meus pais eram professores e alguma atividade ligada à educação ou artes foi o caminho mais natural mesmo. Estranho seria se eu tivesse dito que ia ser dentista ou enfermeira! Minha mãe infelizmente já morreu. Mas meu pai tem um orgulho danado da filha escritora, que eu sei! Sempre me acompanha nos lançamentos e feiras quando vou ao Brasil. Ele e minhas irmãs.


3) Sabemos que terminar um livro é algo muito difícil. Como é o seu processo de escrita? Escuta algum gênero específico de música, ou prefere ficar em um local reservado, só você e o computador? Algo mudou desde o primeiro projeto que terminou ou algumas manias ainda continuam?

A ideia de ficar isolada escrevendo horas a fio... um sonho. Na minha casa somos 4, sendo 2 pessoas de 2 e 5 anos. Imagine o silêncio! Aprendi a produzir no meio da confusão e vou te dizer, consigo me concentrar em qualquer lugar por causa disso. Acho que é até um privilégio. Imagina precisar de total sossego... Estaria perdida e nunca criaria nada. No entanto, meu marido que muito me apoia mas nunca lê nada meu porque é inglês e não lê português, às vezes leva as crianças num fim de semana para a casa dos pais dele e aí eu faço essa coisa de escritor de filme: fico quieta em casa ou vou para algum café ou biblioteca escrever. Um verdadeiro luxo! Quando tenho esse tempo, valorizo e muito. Meu processo para escrever infantis é sempre o mesmo. Do nada alguma coisa me motiva e preciso colocar pra fora. Escrevo o esqueleto para não perder o impulso e a ideia e depois vou refinando, cortando, moldando.
Os juvenis (tenho outro já sendo terminado) vêm mais devagar. O Arco-íris escrevi num minuto, pois a história já estava pronta na minha cabeça, com toda a sua trama. Já o novo, a caminho tem demorado e tenho mudado o rumo porque outras coisas têm aparecido. Mas para todos os personagens tenho mania de criar um universo. Uns chegam a ter um caderno de colagem com o perfume que usam, a cor preferida, o estilo de roupa, as músicas que gostam, a cidade dos sonhos. isso me ajuda a dar vida aos personagem.
No fim do ano passado e neste ano escrevi MUTAS histórias de terror. Aí muda tudo, porque chego a ter muito medo do que escrevo o que sei, é ridículo. Mas moro numa casa muito velha no interior da Inglaterra e só tenho a agradecer a inspiração para contos paranormais e de terror que esta casa tem me dado. Mas ano que vem a gente sai daqui! Chega. rs

4) Como é escrever para crianças? Existe alguma diferença do que se estivesse escrevendo para outra faixa etária? Você já tentou (ou pensou em) escrever para outros públicos?

Acho o universo da criança mais estimulante. Acho também muito mais difícil fazer valer um livro de literatura infantil. Isso porque com a criança, o escritor tem apenas a primeira página ou às vezes a primeira frase para maravilhá-la, tirá-la do lugar comum. Isso não é mole. Quando ficam até o fim da obra significa muito! Significa o mundo , pra mim. Gosto de levar dinâmica e humor aos juvenis. Quem me conhece de perto e bem, sabe o quanto eu aprecio bom humor. Tento também dar uma voz narrativa que seja identificável para o adolescente. Ao mesmo tempo, gosto de estimulá-lo e despertar curiosidades, palavras e expressões ainda não vistas. E tem os contos e mini contos. Minha vivência e minha terra natal sempre me servem como material e aí sempre sai algo mais sensível, mais emotivo. Gosto de tentar escrever pouco pra dizer muito. Mas é difícil, por isso, vou treinando!

5) Como foi o processo de publicação?

Interessante como o Facebook e outras redes sociais te aproximam de colegas. Isso é pra ser celebrado e
usado com moderação! Mas eu geralmente sigo o caminho das pedras, aquele que eu sei: mando o original para a editora e espero... espero... espero. Recebo mais não que sim. mas quando vem um sim, abro uma garrafa de champagne. Não daria pra abrir uma garrafa de champagne com cada não senão teria estourado o banco!
Mas é muito importante o autor ter paciência. É difícil porque quando a gente aperta o botão "enviar" para a editora, você, autor está exposto! Está ali todo o seu trabalho e quando não gostam do que você faz, sempre há o problema da dúvida: "será que sirvo pra isso?" Mas tem que tentar. Um não nem sempre é o fim da linha! Em contrapartida, tive a alegria quase inimaginável de receber de uma editora um pedido para que eu escrevesse um livro tal. Comprei quase uma caixa de champagne naquele dia. Achei proporcional à alegria.

6) Você possui algum escritor ou escritores em quem você se inspirou para prosseguir seu caminho? Se sim, quais?

Para prosseguir o caminho não. Mas escritores sempre fizeram parte da minha vida! Portanto há sempre aquele que num determinado momento me chama atenção, mas citar nomes é a injustiça das injustiças! É mais que injusto: é impossível!

7) Como você analisa o apoio a literatura nacional atualmente?

Eu sou nova, novíssima nesse mercado. Por isso não teria um ponto de vista que fizesse realmente a diferença. Mas como moro na Inglaterra, percebo algumas diferenças: aqui as crianças amam ler. Leem de tudo e sem ser obrigadas. Ler é bacana por aqui e raramente você vê alguém num metrô ou ônibus sem um livro, digo crianças e adolescentes também. Tem também um hábito bacana de ler antes de dormir. Ler pra criança antes de dormir acontece em quase toda casa. É um hábito mesmo. Mas vejo que devagar há muita iniciativa ajudando a formar leitores no Brasil. E honestamente, não me importa muito se leem ou não clássicos. É preciso deixar de ser esnobe e deixar a criança se familiarizar com o objeto, o ato e o hábito da leitura, sem esperar dela , já de cara, um gosto visto como refinado. A gente precisa baixar a guarda e ajudar ao invés de afastar cada vez mais a criança e o adolescente da leitura. Precisamos ouví-los! Entender o que gostam e deixar isso disponível. Ou então aproximar os clássicos de uma forma mais atraente e menos sisuda.

8) Em que sua formação acadêmica influenciou na hora de investir na carreira literária? Você diria que te ajudou, de alguma forma?

Sim, sem dúvida. Foi um privilégio ter sido aluna de autores como Godofredo de Oliveira Neto, Eucanaã Ferraz, Antonio Carlos Secchin, Ronaldo Lima Lins, Teresa Cristina Meireles de Oliveira, Sonia Zynger, entre tantos outros. Foi um prazer ouví-los e escrever sobre o que era proposto. Foi meu amor ao Shakespeare que me fez viajar pra cá. Portanto houve sim, uma influência de fato.

9) Você mora na Inglaterra há vários anos. O que percebeu de diferente do mercado literário daí para o brasileiro? Alguma vez considerou tentar a sorte como escritora aí?

Aqui o papel do agente literário é mais forte e bastante utilizado. É um país onde se lê muito! Fazer parte do mercado aqui deve ser uma maravilha. Aqui também vejo bem menos badalação que no Brasil. Lançamentos só se você for famoso. Há menos festa e mais leitura. Há visitas em escola também, mas de novo, menos. Ainda não acho que esteja pronta para escrever em inglês. Escrevo matérias pra revista, não ficção. Escrevo textos mais diretos e traduzo. Mas ainda não me sinto preparada para avançar na literatura aqui não. Um dia, quem sabe?

10) Deixe um recado pros nossos leitores!

Aproveitem o sol brasileiro! Fiquei sem sol por aqui por mais de 3 meses. Foi difícil!


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3 comentários:

  1. Oi Larissa!
    Que fantástica essa oportunidade que a Nara teve de ir para a Inglaterra estudar e se aperfeiçoar! Poucas pessoas tem essas oportunidades, então tem que agarrar e seguir com isso mesmo.
    Autor tem que ter paciência mesmo. O mercado brasileiro ainda é muito fechado para os autores nacionais ascenderem, sabe? Mas, um dia, com muito trabalho, dá pra chegar lá.

    Um beijo,
    Luara - Estante Vertical

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  2. Hey
    Que entrevista ótima, ai gente alguém que fez Letras e tem oportunidades, vence.. é sempre orgulho.
    Eu fiz e ainda estou flop, mas um dia sambarei também.. espero.

    Sempre quis ser au-pair, mas toda vez que tinha prova no curso, tinha que saber dirigir HAHAHA

    Sucesso para a autora, e espero ter oportunidade de ler os livros dela, gostei da capa.

    bjs
    Nana - Obsession Valley

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  3. Seu comentário, por ser anônimo, não tem qualquer credibilidade. Peço retirarem essas palavras sórdidas que não têm lugar em um blog que enaltece a literatura

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