Banner Submarino

terça-feira, 2 de abril de 2013

[ENTREVISTA] Marcele Cambeses

Marcele Cambeses é carioca, de apenas 22 aninhos, e que tem uma curta, mas já progidiosa carreira literária. Apesar de cursar Direito na UERJ, o lance dela é mesmo escrever. Sua saga Destino Trocado, que começou lá na época do Orkut (meio que como eu e todos nós aqui da NRA) ainda em 2008, contém quatro livros e uma legião de leitores dedicados. O livro ainda nem foi publicado em papel, mas a fanpage da saga no Facebook já tem mais de 7 MIL curtidas. Não é pouco babado não!

Minha história se cruzou com a da Marcele de um jeito inesperado, que infelizmente por enquanto ainda não cabe contar aqui. Sei que acabei sendo fisgada pela animação dessa menina, e claro que não podia deixar de apresentar ela e o seu trabalho aqui no blog. Então, sem mais enrolações, bora conhecer melhor a Marcele e o seu Destino Trocado?

Como descobriu que o que queria fazer da vida era escrever? E como foi lidar com a decisão de ser escritor e do trabalho?

R: Ouso dizer que eu não descobri, fui tomada de assalto. Por incrível que pareça, o Sinfonia (Destino Trocado #1) foi a minha primeira experiência com uma história de verdade (insano, pois é). Antes, eu só escrevia versinhos, músicas e redações muito de vez em quando; não tinha o costume de ler e achava quase infame que os testes vocacionais sugerissem um caminho artístico para mim. No vestibular, no entanto, que era o pontapé inicial para eu correr atrás do meu sonho de ser uma juíza formada pela UERJ, eu fiquei tão estressada que precisei como nunca de uma válvula de escape. Encontrei uma página odiosa de um texto teatral no meu computador que, aos 15 anos, eu havia nomeado “Destino Trocado” quase como um deboche. Resolvi dar continuidade apenas para me distrair e a piada, no fim, acabou sendo eu mesma! Quem diria! Quando me dei conta, tudo ao meu redor havia mudado; eu havia me transformado bastante também. Pessoas foram embarcando nesse meu novo mundo, antes mesmo da etapa virtual, com uma intensidade tal, que eu tive que me render àqueles seres que estavam surgindo através das minhas páginas.  Foi inevitável. Sobre a decisão de me jogar nessa loucura de levar a escrita adiante, ela veio não só dos pedidos do meus leitores como, especialmente, da grande ironia que foi descobrir que o meu Direito tão sonhado, na realidade, não era para mim (acho que a escrita, aliás, cumpre muito a função de me reapresentar a mim mesma dia a dia; percebi que ainda não me conheço por inteiro ao certo). Estou tentando conciliar os dois para ter alguma segurança. Vivo em constantes surtos de insatisfação e receios, entretanto... Vamos ver aonde eu vou parar!

Sua série “Destino Trocado”, assim como a NRA, também começou no Orkut. Pode contar um pouquinho pra gente sobre como o livro era nessa época?

Uma zona? (risos). Sério... Ele era indefinível. Até hoje eu fico espantada com a sorte que eu tive de me aceitarem tão bem mesmo assim. Acontece que tudo não passava de um brainstorm gigante e isto ficava claro no texto. Até porque, para falar a verdade, nem eu sabia direito para onde estava indo; simplesmente sentia e prosseguia. Só depois, em um belo dia, quando eu acordei bruscamente falando que aquele monstrengo era uma saga e citei os títulos principais de uma só vez, que eu comecei a perceber que a coisa era maior do que eu supunha. Decidi, por isso, revisar o Sinfonia e alterar alguns detalhes. Queria ter podido lapidar mais, mas o meu contrato me impedia e a inexperiência com edição me atrapalhou bastante também. Em todo caso, eu acho que tudo acabou dando certo no final de qualquer forma... Tomara!  P.S: fiz parte da NRA em 2010 por coincidência, risos. Mundinho pequeno, né?

E de onde surgiu a necessidade de transpor a barreira virtual e publicar o livro de fato? E como tem sido o processo de publicação?

Como uma péssima marketeira, vou assumir que estava louca! Toda a etapa de confecção e entrega ao Sinfonia parece um transe na minha vida quando eu paro para olhar para trás: um lapso de consciência em que tomei decisões que eu nunca ousaria cogitar e que mudaram bastante a minha realidade como um todo. Acho que muito da iniciativa em si de publicar no mundo físico veio dos recados inesquecíveis que eu recebi no espaço virtual. Sei lá... Quando mais de uma pessoa faz questão de vir lhe agradecer por ter mudado a perspectiva dela, tê-la tornado mais flexível, ter feito chorar e rir quando ela precisava, você começa a sentir necessidade de espalhar esta sensação para quantos leitores for possível. Eu quis transmitir uma mensagem e me comprometer com ela; espero conseguir.... Sobre o processo de publicação, é uma macumba na minha existência! Descobri nele o lado negro do meu segundo sonho (o primeiro era o Direito, lembre-se). É tudo muito complicado, caro, nem sempre bem feito e eu atraí todas as adversidades possíveis (muitas por ignorância minha também, confesso). Não sei se ter amarelado e decidido não mostrar o meu original para as grandes editoras que aceitaram avaliá-lo foi a escolha certa. Eu aprendi muito no caminho alternativo, é verdade, mas morro de medo do impacto que esse “não” que eu adiei possa vir a ter em mim depois de tantas batalhas vencidas. Seja de blogs, seja de leitores novos, seja de editores, sempre dá aquele frio na barriga só de pensar que tudo possa vir a morrer na praia da pior forma e que eu me descubra mais incapaz do que pensei... Ficaria decepcionada comigo de me deixar levar por qualquer crítica mais severa (e olha que já recebi algumas, é claro. Vai entender esse temor...)




Você acredita que haja alguma facilidade por já ter uma base pré-formada de leitores? Em que essas pessoas que já te conheciam te ajudaram no processo de publicação?

Com certeza! Em primeiro lugar, eles puxam severamente a minha orelha quando eu entro em crises existenciais e de covardia. Segundo, eles são a minha razão de ser, com toda a sinceridade do mundo. Muitos deles se tornaram parte do meu grupo de melhores amigos hoje em dia e isto não tem preço. Mesmo que eu quebre a cara, o Sinfonia já me deu presentes inestimáveis demais só pelas pessoas que trouxe para perto de mim e das que eu já conhecia e que se aproximaram por conta dele. Sério! Quem dera a vida me permitisse que o pagamento pudesse se resumir apenas a essa troca de energia e carinho que existe entre nós; é a coisa mais valiosa da carreira (que eu ainda não tenho porque sou amadora até então – risos). Quanto ao processo de publicação, como eu virei autora independente em cima da hora, eles vão me ajudar através das compras, da divulgação, do apoio moral em qualquer evento físico ou postagem na internet, nisto tudo. Além disso, evidente, eles vão sempre servir de lembrete de que eu tenho algum talento e não devo nunca desistir tão fácil do meu trabalho ou dos meus sonhos. Se eu chegar a qualquer lugar que seja, devo absurdamente aos DeTonas (nome que usamos para identificar o grupo de leitores); eles já sabem. Muita gente se permitiu enxergar mais além das aparências do meu texto por causa deles, porque eles lutaram por mim. Espero fazer jus a essa confiança.  Prometo tentar de verdade...

Quando contou a sua família, como eles reagiram?

Estão reagindo até agora! Eles brincam, chamam o meu livro de novelinha, de tijolo, mas sempre me apóiam como podem. Chegam a ficar com medo de que eu abandone a minha estabilidade para seguir rumo ao desconhecido literário, mas sempre me apóiam a seguir em frente sem tirar os pés do chão. A coisa só fica mais complicada quando alguma etapa de editoração dá problema (tivemos todos os possíveis!) e eles ficam mais alarmados com o meio. De resto, a sempre em crise sou eu mesma.

Sabemos que terminar um livro é algo muito difícil. Como é o seu processo de escrita? Escuta algum gênero específico de música, ou prefere ficar em um local reservado, só você e o computador?

Sabe que varia? O Sinfonia, como eu disse, foi um surto! Aquele mundo de páginas foi feito em 7 meses de vestibular e lapidado em uns dois anos, em seguida, para sanar as imperfeições oriundas do caos. A criação foi fácil como um desabafo, acredite. A revisão que me castigou e muito. Hoje em dia, alterno fases de bonança com temporadas severas de bloqueio. É a idade trazendo mais responsabilidades consigo e me estressando, eu acho... Preciso chutar essa macumba e desengasgar a publicação para me acalmar. Só assim para voltar ao pleno funcionamento... Sobre as músicas, elas me inspiram sem-pre! Só que, na hora que o texto está vindo de verdade, eu prefiro ficar a sós com o word para conseguir ouvir melhor os meus pensamentos, se é que faz sentido.

Você possui algum escritor ou escritores em quem você se inspirou para prosseguir seu caminho? Se sim, quais?

Na época de execução, não. Eu não era uma leitora nada assídua, comecei a ler mais depois. Hoje, vivo um paradoxo engraçado: escrevo atualmente uma Saga bem jovial quando, por outro lado, só leio clássicos ingleses e abro exceção pro Carlos Ruiz Zafón. É super contraditório, eu sei (risos)! Eu admiro demais o compromisso que eles tinham em transmitir de fato algo valioso (como o engajamento social do Dickens e do Hardy, por exemplo), mas não consigo me inspirar realmente neles por considerá-los anos luz de distância de mim. Tenho um respeito tão imensurável pelo trabalho deles que me sinto um micróbio; não consigo me comparar a essa grandiosidade nem pra tentar evoluir! Agora, para compensar um pouco, o Zafón me enche de orgulho e esperança por mostrar que alguém bom de verdade pode virar best-seller hoje em dia. Não são só as modinhas comercias, como dizem as más línguas, que fazem sucesso... Os mais excêntricos também conquistam o seu espaço.  Viva o “meu calvo espanhol” (sou íntima de você, Zafón, conforme-se)!

Como você analisa o apoio a literatura nacional atualmente?

Pífio! Fico feliz de estar em crescimento, mas ainda me sinto extremamente desgostosa com a mentalidade do brasileiro, em geral, de desvalorizar a arte vinda de sua própria terra. De verdade! E isso, infelizmente, não vem só das editoras ou dos leitores. Vem dos autores também, por mais que muitos não percebam. Gente, a nossa cultura é riquíssima! É de uma mistura preciosa para qualquer criação. Não há dúvida alguma disso! Entretanto, quantos enredos nacionais não vemos com a mesma ambientação estrangeira de sempre, sobre a qual o escritor muitas vezes nem tem domínio? Sei que é comum absorver os ingredientes dos best-sellers que lemos, mas fico triste. Acho que falta muito do nosso tempero super especial para reformar esse quadro. Claro que, ao mesmo tempo, eu também entendo que, enquanto o público não se permitir experimentar novos “gostos”, a demanda será pequena e as editoras, obviamente, não publicarão enredos de potencial tão pouco lucrativo. De qualquer maneira, ainda torço para que surja um grupo mais ousado e meta a cara em nome disso mesmo assim. Teria orgulho de fazer parte de algo do gênero...


Rapidinhas:

Café ou chá? Café (em muitas vertentes – risos)
Inverno ou verão? Inverno
Um bom lugar pra ler? Jardins bonitos (Os “Jardins de Luxemburgo” ainda são um sonho de consumo =/ )
Um livro pra reler muitas vezes? A Sombra do Vento do Carlos Ruiz Zafón


Conheça a Saga Destino Trocado e saiba mais sobre a Marcele, seus escritos e as novidades do lançamento do seu primeiro livro através do site: http://www.marcelecambeses.com.br

Comente com o Facebook:

12 comentários:

  1. Que liiiiinda a entrevista; Celeste <3

    ResponderExcluir
  2. puxamos e puxaremos sempre celeste... apesar de nao ter o livro em maos, sempre foi nosso sonho.. (leitores) a epoca do orkut foi muito boa por que nos permitiu criar uma GRANDE intimidade com a escritora ai.. hj eu acho que se ela for se dedicar exclusivamente a carreira de sentenciar as pessoas (ou seja la o ramo que ela escolha nessa vida) ela vai estar nos sentençiando a passar a vida so relembrando o sucesso que o monstrinho e pra nos leitores e sugadores de DT....

    ResponderExcluir
  3. Desculpa, eu ia comentar, mas preciso me recompor primeiro do comentário acima HAHAHAHA. Eu não quero sentenciar ninguém não, Carol, eu juro :(

    ResponderExcluir
  4. Ai eu amo DT *--*
    É uma saga realmente perfeita, sem dúvidas. Cele tem uma mente bastante esclarecida e eu adoro isso também.

    QUE VENHA O LIIIVRO *-*

    ResponderExcluir
  5. Que hein Cele? Dando entrevista kkkkk
    Te apoiamos e sempre iremos apoiar, afinal você nos presentiou com é saga linda que é DT <3. E merece todo o sucesso do mundooo que tenho certeza que vai obter.

    ResponderExcluir
  6. Já comentei com a cele e agora comento aqui.. eu chorei com a entrevista kkk Quando estivermos todas velhinhas enrugadas e com a cabeça cheia dos esquecimentos, ainda vamos lembrar que, um dia, todas fizemos parte do crescimento de DT, de alguma forma. Seja lendo, seja apoiando, seja criticando, elogiando, não importa. Pq é isso que eu sinto; que todo mundo que faz parte desse mundinho e dessa luta pra DT dar certo (mais do que já deu), contribuiu com a história.

    ResponderExcluir
  7. Entrevista toda adulta e profissional HEUHEUHEUEHUEHUEHUEHEUHUEUUEH adorei! Mas amei mais ainda a capa de Destino Trocado! Vai para a minha listinha de leitura logo que lançar *u*

    ResponderExcluir
  8. É isso ai Celinda, você um dia vai chegar lá em cima, com muito sucesso. E com todos nós te apoiando sempre!

    ResponderExcluir
  9. Ok, voltei para comentar direito rsrs. Obrigada, Lari, pela oportunidade de divulgar as minhas loucuras e temores aqui. Pela amizade, pelo lindo do BDO, por tudo <3 . Espero não te decepcionar na hora H =/ . E obrigada também a todas as lindas que vieram aqui comentar, awn. Não sei mais o que dizer e isto é raro, aproveitarei o silêncio hahaha.

    ResponderExcluir
  10. Independente do futuro do DT, pra mim a existência dele já trouxe uma amizade incrível na minha vida que foi a Celinda diva e maravilhosa <3 HAUHA Ok, agora parando de puxar o saco da autora, acho que todo mundo devia realmente curtir a história, porque vale muito a pena. Sinfo me conquistou pelos seus ensinamentos, pelo humor e pelo inteligente desenvolvimento contido em cada linha. A história é muito bem interligada e te faz rever muitos conceitos na sua própria vida.
    Se as editoras nacionais não conseguirem reconhecer o sucesso dessa saga, então estamos todos perdidos!!

    ResponderExcluir
  11. Esperando pelo dia que eu vou ter o DT em mãos, Se não me engado eu li DT quando dava ate pra baixar os cap. (eu to ficando louca o foi isso mesmo Cele?)haha, enfim eu sou uma das leitoras velhas, eu tinha uns 17 quando li?! e agora estou com 21, cara DT foi parta da minha adolescência um dos motivos de ler tanto quanto leio hj, sinceramente eu espero ter essa livro na minha estante! Beijo Cele linda Saudades e parabéns pela entrevista!

    ResponderExcluir
    Respostas
    1. MEU DEUS! PRIIIIIII, TE PROCURO FEITO UMA DOIDA HÁ UM ANO HAHAHAHA POR ONDE ANDA, MULHER?

      Excluir