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segunda-feira, 23 de setembro de 2013

O problema de personagens femininas "fortes"

Ultimamente tenho lido muito na internet artigos sobre filmes de super heroínas e sobre o famoso "donzela em perigo" dos videogames.
E eu quero dizer que todo mundo está errado!
Todo mundo!
(Tá, talvez não todo mundo, mas boa parte das pessoas que escrevem esses artigos)
E eu vou dizer porquê.


As Questões

Questão 1: Donzela em perigo

O conceito de "donzela em perigo" ("damsel in distress" em inglês) é muito comum no mundo dos videogames e até em filmes e séries. Parte do princípio que garotas precisam de alguém para salvá-las, que são indefesas, e no caso dos videogames, que muitas vezes são os "prêmios" do fim do jogo.
Temos um exemplo perfeito disso na Princesa Peach, do Mario, ou na Buttercup de A Princesa Prometida ("The Princess Bride"). São personagens completamente passivas em seus destinos, que parecem não tomar a vida nas próprias mãos.

Você usa essa palavra, "donzela", mas não acho que você saiba o que significa.

Isso gerou um pequeno burburinho no mundo dos videogames quando Anita Sakeesian fez um vídeo levantando a questão de não haver novos jogos no mercado com personagens femininas equivalentes aos masculinos. (A Anita é a vlogueira responsável pelo Feminist Frequency, que a Juliana já falou aqui no blog.)
Como resposta ela recebeu muitas replies furiosas no Twitter, a maioria de homens (alguns até a mandaram jogar "jogos de cozinha", porque é onde ela pertenceria) mas o que mais surpreendeu foi uma resposta de uma moça, educada e muito boa, em vídeo, dizendo que a Anita estava na verdade errada.
Essas personagens não seriam donzelas em "perigo" sendo mais "fortes" que o próprio herói, pois tem um poder grande politicamente (no caso de Zelda, ou das próprias princesas citadas a cima, que são salvas por um garoto qualquer, um encanador e um cuidador de cavalos).

Porém, embora existam personagens femininas que são equivalentes aos masculinos (Lara Croft), a maioria dos jogos de RPG clássicos mostram as donzelas como prêmios. Ou seja, mostram apenas um lado feminino, que resulta em homens achando que mulheres são fracas e só servem para cozinhar.

"Inconcebível!"



Questão 2: Uma super heroína
Ou: Porque diabos ainda não existe um filme da Mulher Maravilha

Rumores, rumores, rumores. É tudo o que fãs de super heróis tem quando o assunto é um filme de uma personagem feminina. Apenas feminina. Como principal. Chutando bandidos. Brincando de "balas e braceletes".

"Eu cresci na Ilha Paraíso... brincando... de balas e braceletes!"

"Mas temos a Viúva Negra em Os Vingadores" você diz. "Ah, e a Lois Lane, a Gwen, a Mulher Gato."
Veja bem, apenas um filme que foi citado é realmente sobre uma mulher, nos outros as mulheres são apenas "figurantes". E esse um filme foi bem mal feito por sinal. Não adianta citar Elektra, porque todos sabemos que esse filme é o equivalente feminino de Demolidor.
Veja bem, temos sete filmes do Batman, e contando. Seis filmes do Superman. Quatro do Homem Aranha. Dois filmes terríveis do Hulk (okay, um mais ou menos e um terrível). Três do Iron Man. Dois do Thor.
Temos várias séries do Superman, muitos desenhos do Batman, até uma série atual de sucesso do Arqueiro Verde.
O que temos das maiores heroínas conhecidas?
Uma série de TV com pouquíssimos episódios da Mulher Maravilha, o único projeto que teve realmente sucesso. Alguns filmes fracassos em bilheteria e, convenhamos, um tanto mal feitos: Supergirl, Mulher Gato, Elektra. E uma série que nunca ouvi falar antes, Birds of Prey.

Em meio a grandes rumores que a Marvel/20th Century Fox está desesperada atrás de uma protagonista feminina para um filme, começamos a ver o quanto a DC/Warner está deixando o ônibus passar do ponto.
E aí temos posts dizendo como essas empresas deveriam agir para que um filme com uma protagonista feminina tenha sucesso. E nesse post o autor coloca que no filme é indispensável que haja romance, pois garotas precisam de romance para assistir algo.
Esqueça todas as mulheres que gostam de filmes com luta e explosões. Esqueça garotas que gostam de robôs gigantes.
Nós gostamos é mesmo de ~romance.

Um gif para você que sabe apreciar as coisas boas da vida.
O autor continua dizendo que é preciso de uma atriz com sex appeal, que seja loira (porque todas as super heroínas são loiras, claro), e que o filme necessita que Joss Whedon esteja engajado no projeto. Esse último ponto discutiremos mais a frente.

A questão é: não, não é necessário nada dessas coisas para que um filme com protagonista feminina faça sucesso.
O que é necessário que alguém que tenha paixão igual ou maior pela Mulher Maravilha quanto Christopher Nolan tem pelo Batman assuma o projeto. Alguém que respeita Diana pelo que ela é: uma heroína equivalente ao Superman, alguém que apesar de seu lado deusa, tem também algo um tanto humano dentro dela. Uma personagem complexa.
E uma divulgação igual a desses filmes também. Ou seja, Warner também tem que investir pesado no filme, como investe em todos os outros filmes de super heróis.
(Eu digo Mulher Maravilha porque é a heroína mais famosa, a que aparece instantaneamente na mente quando falamos no assunto, mas caberia também à Miss Marvel, Capitã Marvel, até à Garota Esquilo.)


Personagens femininas ""fortes""

Esse post específico, sobre o que seria necessário para um filme de super heroína, começa citando a expressão "personagens femininas fortes". Também cita Joss Whedon. E eu vou usar um discurso do próprio Joss sobre o assunto para que vocês entendam porque essa expressão NÃO é nem um pouco OKAY. (Infelizmente não encontrei o discurso com legendas, então colocarei a tradução embaixo do vídeo, em letras pequenas. Desculpe o quão grande ficou.)

 (Inicia em 2:44) "(...) A coisa mais corajosa que eu já fiz foi uma coisa chamada coletiva de imprensa. O que na verdade é bem corajoso, acredite em mim. Porque eles te perguntam as mesmas perguntas, de novo e de novo e de novo e de novo e de novo, e eu respondo essas entrevistas umas 48 vezes por dia, e não aparecem com coisas novas, então... Tem essa pergunta que me perguntam quase toda vez que eu sou entrevistado, então eu pensei que hoje a noite eu poderia compartilhar com vocês essa pergunta e algumas das minhas respostas, porque quando perguntam a mesma coisa 500 vezes para você, você realmente começa a pensar sobre a resposta. Então agora eu vou me tornar um repórter, vai ser uma transformação incrível. 'Então, Joss, eu, o repórter, gostaria de saber, por que você sempre escreve essas personagens femininas fortes?' Eu acho que é por causa da minha mãe. Ela realmente era uma mulher extraordinária, inspiradora, resistente, legal, sexy, engraçada. E esse é o tipo de mulher que eu sempre me vi cercado, minhas amigas, particularmente minha esposa, que não é apenas mais inteligente e mais forte que eu, mas ocasionalmente mais alta também, mas apenas às vezes. E eu acho que tudo volta para a minha mãe. 'Então, por que você escreve essa personagens femininas fortes?' Por causa do meu pai. Meu pai e meu padrasto tem muito a ver com isso. Porque eles apreciavam perspicácia e determinação nas mulheres com quem eles estavam, acima de tudo. E eles estavam entre os raros homens que compreendiam que reconhecer o poder de outra pessoa não diminui o próprio poder. Quando eu criei Buffy, eu queria criar um ícone feminino, mas eu também queria ser muito cuidadoso ao cercá-la com homens que não apenas não tinham nenhum problema com um líder feminino, mas estavam de fato engajados ou mesmo atraídos por essa ideia. Isso veio do meu pai e do meu padrasto, os homens que criaram esse homem, que criou aqueles homens, se você seguir esse pensamento... 'Então, por que você criou essas fortes... como você diz... as mulheres...'  Vocês [para a platéia composta por mulheres] estão na moda agora. É... É algo internacional, eu não sei onde, no entanto. 'As personagens femininas fortes?' Uhm, bem, porque essas histórias dão força às pessoas. E eu ouvi elas de algumas pessoas, e eu sabia que não eram apenas mulheres, mas também são homens, e eu acho que há algo especial sobre uma protagonista feminina, que permite que um homem se identifique com ela, que torna acessível algo nele, um aspecto dele mesmo, que ele pode ser incapaz de expressar, expectativas e desejos, que ele pode ficar desconfortável expressando por uma figura de identificação masculina. Então realmente atinge ambos, e acho que ajuda as pessoas, sabe, desse modo. 'Então, por que você cria essas personagens femininas fortes?' Porque elas são gostosas. 'Mas as personagens femininas fortes...' POR QUE VOCÊ ESTÁ ME PERGUNTANDO ISSO? Essa é a 50ª entrevista consecutiva. Como é possível que isso seja uma pergunta? Honestamente, sério. Por que vocês perg... por que você escreveu isso? Por que, por que você não está perguntando pros outros 500 caras por que eles não escrevem personagens femininas fortes? Eu acredito que o que eu estou fazendo não deveria ser algo tão comentado, muito menos honrado. Há muitas outras pessoas fazendo isso. Mas, sério, essa pergunta é ridícula e vocês apenas tem que parar. 'Então, por que você escreve essas personagens femininas fortes?' Porque igualdade não é um conceito. Não é algo que deveríamos estar lutando para. É uma necessidade. Igualdade é como a gravidade, nós precisamos disso para nos sustentar na Terra como homens e mulheres. E a misoginia que está dentro de toda cultura não é parte verdadeira da condição humana. É vida desbalanceada, e essa desigualdade está sugando algo da alma de cada homem e mulher que é confrontado com isso. Nós precisamos de igualdade. Meio que agora. 'Então, por que você escreve essas personagens femininas fortes?' Porque você ainda está me perguntando isso." 
Essa expressão não é okay porque é algo que faz com que pensamos o quão desigual é o tratamento dado às personagens femininas e às personagens masculinas (e consequentemente às mulheres e homens). Nunca vi por aí a expressão "personagem masculina forte". Da mesma forma que nunca ouvi falar em "personagem masculina fraca".
Porque em nossa cultura (e na maioria das culturas do planeta) a figura masculina é vista como um herói forte. Um Hércules, um guerreiro que não deve chorar (pois isso mostra fraqueza), que não tem compaixão (pois é uma característica feminina), e que está sempre coberto com o sangue de seus inimigos, pois a única solução para a inimizade é a morte.
E esse pensamento apenas perpetua o conceito de HOMEM FORTE X mulher fraca.

"Agora, há algo sobre isso que é francamente perturbador."

E eu digo NÃO.
O ser humano é algo complexo demais para ser separado entre características de gênero impostas. Todos temos nossos momentos de fraqueza, e todos temos nossos momentos de força. Do mesmo modo que não somos o tempo todo felizes ou tristes, é impossível ser o tempo todo forte.
E sim isso se encaixa também aos homens. Todos os homens são fortes e todos os homens são fracos. Porque é assim que os humanos são.

E isso também serve para as mulheres. Os repórteres que continuam usando essa expressão apenas não entendem que não existem personagens femininas "fortes" porque todas as mulheres são fortes. Porque todas as personagens femininas, sendo elas guerreiras ou donas de casa, todas elas são fortes ao seu modo.
A Branca de Neve ou a Cinderela não são menos fortes que a Mulan ou a Pocahontas. O mérito de lutar numa guerra no lugar de seu pai não se sobrepõe ao mérito de ser torturada por uma madrasta. No final todas estão mesmo tentando mudar sua vida, tentando ir além daquilo que é imposto a elas.

E isso é ser humano. Não é ser fraco ou forte, é apenas viver. É querer algo mais da própria vida.

Angelus: "Sem armas, sem amigos, sem esperança. Tire tudo isso e o que sobra?"
Buffy: "EU"


As personagens femininas de Joss Whedon

No mesmo post o autor fala sobre Joss Whedon, e diz que mulheres (usa a expressão pejorativa "meninas nerds") adoram o Joss por causa de Buffy e da representação que ele dá às mulheres em seus filmes.
Parte dessa afirmação já é refutada pelo próprio discurso de "personagens femininas fortes" apresentado acima.
Whedon não dá um "tratamento especial" às suas personagens femininas. Ele as escreve não apenas como ele vê as mulheres a sua volta, mas como elas realmente são.
E a segunda parte é que não gostamos dele apenas por isso. Todos o amamos também por Toy Story. E por Firefly. E por Avengers. E por Buffy também, porque não. Mas não apenas por ela, embora ela seja um de seus personagens mais icônicos.

Buffy Summers

"Eu sou a Escolhida, e eu escolho fazer compras." (Do filme de 1992)
O Joss disse numa entrevista feita lá pela segunda temporada da série porque ele criou a Buffy. Na verdade, ele quis fazer uma brincadeira, porque estava cheio da "garota loira que passa por um beco escuro no meio da noite e é atacada", uma cena típica de qualquer filme de terror. Então, como na época as garotas loiras eram tidas como burras e fúteis, ele simplesmente se perguntou: porque ao invés dela morrer, ela não bate no agressor?
E assim o conceito da Buffy nasceu. Ela não é a garota mais inteligente da sala, ela não é a mais popular, e ela não anda com adolescentes que podem ser considerados "da galera". Mas nem por isso ela não é importante.
Ela é alguém muito forte, que pode quebrar a coluna de um homem adulto apenas com um golpe. E que está constantemente evitando que o mundo acabe. Mas que também se importa se sua unha está bem feita, ou qual o dia de refazer as luzes do cabelo.




Kaylee Frye


A Kaylee tem um conceito completamente diferente da Buffy. Ela aparece pela primeira vez no episódio piloto da série Firefly e é a mecânica da nave Serenity. Ela adora motores, mas não é esse tipo de garota que você está pensando.
Ela é na verdade uma das personagens mais femininas que o Whedon já criou. Sabe aquela garota que só veste coisinhas com bichinhos, e rosa, e fofa, quase infantil? Essa é a Kaylee.
O Joss faz questão de mostrar que a Kaylee é como um coração para a tripulação da nave, além da nave em si. Ela é a parte viva da Serenity, e é quem mais mantém todos juntos, já que todo mundo tem esse sentimento de proteção sobre ela, principalmente o Mal, que é o Capitão.
No final a Kaylee é meio que tratada como a irmãzinha de todos.
É possível até fazer um paralelo com a Willow nos primeiros anos de Buffy, mas ao contrário da Willow a Kaylee não é nem um pouco contida. Ela fala sobre sexo abertamente, às vezes até de uma maneira ingênua.
E ela conhece profundamente sobre motores, provando que uma garota pode ser feminina e fofa e ainda gostar de coisas que são tipicamente associadas ao universo masculino.

Vou parar nesses dois exemplos, embora eu também queria ter falando um pouco sobre a Zoe, que é outro conceito bem diferente, ou mesmo sobre a Adele, de Dollhouse (embora eu tenha dito para mim mesma que depois daquela series finale eu ignoraria Dollhouse para todo o sempre pelo bem da minha sanidade).



As personagens femininas de Quentin Tarantino

Quando fizeram a mesma pergunta para o Tarantino, sobre porque ele escreve personagens femininas "fortes", ele respondeu "Eu apenas sou a fim de garotas fortes, eu realmente não sei como escrevê-las de nenhuma outra forma". O que é uma resposta bem tarantinesca. (No original ele diz "dig" que se traduz por curtir, gostar, de forma mais sexualizada, mais como em um relacionamento amoroso mesmo.)
Talvez eu não seja a pessoa mais indicada para falar sobre o Tarantino, já que eu não vi todos os filmes dele e nem me sinto inclinada a assistir. Porém eu gosto muito de Um Drink no Inferno ("From Dusk till Dawn") e um dos meus filmes favoritos, daqueles em que sempre que está passando eu assisto,  é Kill Bill, tanto o vol.1 quanto o 2. Então vou me ater ao filme que conheço mais.

Beatrix Kiddo
"The Bride" ou "Black Mamba"

"Bitch... você não tem um futuro."
A Noiva recebeu esse nickname quando foi deixada para morrer no ensaio do seu casamento. Atacada pelo ex-namorado e a ex gangue de assassinos que pertencia, o Esquadrão das Víboras Assassinas ("Deadly Viper Assassination Squad"), fica em coma por quatro anos e quando acorda, busca vingança.
Foi uma personagem criada por Tarantino e Uma Thurman (que a interpreta nos filmes) no set de Pulp Fiction. Depois de ler um artigo sobre o final do volume 2 foi que entendi o quão complexa a personagem é.
Ela nasceu assassina, com esse instinto, e por mais que tente fugir do que é, não consegue. Algo acaba levando-a a sempre usar as habilidades aprendidas e aperfeiçoadas.
É alguém que busca paz de espírito através da vingança e violência, o único jeito que conhece e consegue para buscar seus objetivos.

"Aquela mulher merece sua vingança... E... nós merecemos morrer. Mas, e de novo, ela também merece."

O-Ren Ishii
"Cottonmouth"


Eu quero falar sobre a O-Ren porque 1) acho a sequência de luta entre ela e A Noiva uma das melhores cenas que o Tarantino tem no catálogo dele e 2) a concepção da personagem, tanto em sua caracterização quanto em suas falas é algo bem complexo.
Ela é meio japonesa, meio chino-americana e nasceu em uma base militar americana no Japão. Vê os pais serem assassinados por um chefe da Yakuza (máfia japonesa) aos nove anos e dois anos depois consegue se vingar com sucesso, matando-o. Ela também é integrante do Esquadrão das Víboras Assassinas e estava presente no ensaio de casamento quando A Noiva foi brutalmente atacada.
O-Ren tem muito orgulho de sua descendência, e honra é algo que ela preserva grandemente. Fica implícito no vol.1 que ela e Beatrix se tornaram amigas no tempo do Víboras Assassinas e que ela tem grande respeito pel'A Noiva.
Uma das minhas partes favoritas é quando ela pede desculpas a Beatrix por ter falado algo para ela no calor da luta, o que Black Mamba aceita. Isso mostra que a personagem sabe admitir quando está errada, não o tempo todo e não para qualquer um, mas no momento certo e para quem merece.

"Por ridicularizar você antes... Eu peço desculpas."

Eu poderia ainda falar de Ellen Driver ("California Mountain Snake"), também de Kill Bill, ou da Shosanna de Bastardos Inglórios, porém acho que as duas personagens citadas já representam bem o estilo tarantinesco feminino. E, embora eu goste muito do simbolismo que o Tarantino coloca em seus filmes, tenho que admitir que seus personagens no geral são bem rasos, tanto os femininos quanto os masculinos. Aparecem na tela, servem ao propósito que tem, e desaparecem.


Gostar apenas de personagens masculinos = okay
Achar que são melhores que os femininos = não okay

Brian Michael Bendis é um dos atuais roteiristas da Marvel. Ele recebeu um comentário anônimo em seu Tumblr criticando a forma com que vem tratando as personagens femininas de X-Men, colocando-as em destaque. Esse comentário diz que o Cyclope é mais importante que a Jean Grey ou que a Kitty Pride e que Bendis está cedendo ao "mimimi das leitoras" tirando essas personagens de seus "papéis secundários".

Os Víboras Assassinas te julgam por pensar assim.

Bendis responde de forma precisa e um tanto rasa, mas que serve para o momento:
"(...) É ok se interessar mais por alguns personagens do que por outros, claro que é. É ok gostar mais do Cyclope do que da Jean Grey, mas sugerir que personagens femininas não são interessantes para você pelo fato de você ser homem ou achar que eu estou sendo manipulado por reclamações de mulheres é realmente algo fora da realidade. (...)"
Tudo bem você não gostar de personagens femininas. Sério mesmo. Ninguém vai te torturar até você sair por aí comprando coisas da Vampira ou reblogando gifs da Batgirl no Tumblr.
Tudo bem você gostar apenas do Cyclope e do Wolverine, e achar as personagens femininas chatas. (Embora isso pareça um tanto jardim de infância, quando garotos brincavam com garotos, e garotas apenas com garotas. Clube do Bolinha e da Luluzinha, alguém lembra?)
Tudo bem.

Desde que você entenda que as personagens femininas existem e NÃO são secundárias.
Principalmente em uma história como X-Men, onde o Cyclope e a Jean tem a mesma equivalência.
(Inclusive, na minha opinião pessoal o poder da Jean Grey é muito maior que o do Cyclope. Também acho que ela é uma personagem muito mais profunda que ele. E só queria destacar - opinião pessoal - que eu não gosto de nenhum dos dois.)

Querendo ou não, as personagens femininas estão aí e elas tem fãs devotos. Não apenas garotas, não apenas mulheres (muitas vezes sendo referidas por aquele termo horroroso: feminazi), mas muitos homens. Muitos homens. Homens que escrevem essas personagens.

Então da próxima vez que o termo personagens femininas "fortes" for usado, é bom refletir: ele é realmente necessário? Talvez não. Não é necessário caracterizar essas personagens. Apenas um "personagens femininas" já  é suficiente.






Links dos artigos mencionados e outras curiosidades:
Post da Juliana sobre o Feminist Frequency
Vídeos da Anita sobre personagens femininas nos vídeo games (em inglês)
Vídeo resposta sobre "donzelas em perigo" (em inglês)
Wikipedia do filme da Supergirl (em inglês)
IMDb de Birds of Prey (em inglês)
Sobre o que é preciso para um filme de super heroína
Porque o piloto da série da Mulher Maravilha não deu certo (podcast em inglês - Youtube)
Também sobre porque a série não deu certo (em inglês)
Filmes com personagens femininas principais, que não necessitam de romance para serem sucessos (em inglês)
10 super heróis que não precisam realmente de filmes (em inglês - um ponto de vista diferente sobre o filme da Supergirl e da Mulher Maravilha. E outros super heróis)
11 cineastas respondem à pergunta "Por que você escreve personagens femininas fortes?" (em inglês)
Joss Whedon fala sobre a criação de Buffy 1/2 2/2 (em inglês - Youtube)
Wikipedia sobre a Zoe de Firefly
Sobre a Viúva Negra de Whedon (em inglês)
Curta brasileiro sobre o universo criado pelo Tarantino (Youtube)
Dissecando Kill Bill vol.2 - as lições ensinadas por Tarantino
Wikipedia sobre os personagens de Kill Bill (em inglês)
Sobre Shosanna de Bastardos Inglórios (em inglês)
Bendis responde a um comentário sobre suas personagens femininas

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7 comentários:

  1. Meu Deus, que post bom! Concordo com você em tudo, até assino embaixo se precisar. Também estou farta de ouvir 'personagens femininas fortes' e fico puta da vida por ainda não terem lançado um filme (que seja decente) da "Mulher Maravilha", enquanto planejam lançar MUITOS outros focados em um personagem masculino, como Homem-Formiga (não que eu tenha algo contra eles, mas convenhamos...).

    Enfim, adorei o texto, não sou muito fã de posts longos mas o seu prendeu minha atenção do começo ao fim.
    Ah, também não gosto muito da Jean e do Scott, prefiro a Vampira. ;)


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  2. Olá!
    O seu post ficou muito bom,espero que ele pelo menos combata este esteriótipo de "mulheres fracas" que está enraizado nos pensamentos da sociedade.Desejo que assim possamos quebrar as barreiras do preconceito e possamos construir uma sociedade mais igualitária.Gostei muito dos seus exemplos,já estou ansiosa pelos próximos posts
    Beijos!
    http://pocketlibro.blogspot.com.br/

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  3. O melhor post que eu já li na minha vida, somente.

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  4. Tem um filme do Tarantino que chama 'Deathproof', e mesmo eu não sendo muito fã do Tarantino, esse filme é um dos mais GIRLPOWER que eu já vi em toda minha vida, sério! Recomendo mil vezes e também, como você falou da parte de quadrinhos, tem uma escritora chamada Gail Simone, que olha, eu devo praticamente tudo que eu gosto nos quadrinhos com heroínas, a essa mulher, sério. Ela salvou a história da Batgirl do limbo, e a colocou nos top 30 dos mais vendidos, ela reviveu praticamente o quadrinho das Birds of Prey, e fez muitas, mas muitas mesmo histórias incríveis pra Wonder Woman.

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  5. Texto ótimo, de verdade. Engraçado é que hoje mesmo eu escrevi um post sobre mulher (um costume swap de princesas com roupa de homem) falando de um assunto parecido com esse da mulheres "fortes." A questão às vezes não é nem ser mulher, mas na própria cultura algo "feminino" ser considerado mais fraco do que algo "masculino." Então a não ser que a mulher seja um homem de peitos, ela é considerada fraca. "A Branca de Neve ou a Cinderela não são menos fortes que a Mulan ou a Pocahontas. O mérito de lutar numa guerra no lugar de seu pai não se sobrepõe ao mérito de ser torturada por uma madrasta." Isso é genial, até salvei.

    Na parte da donzela em perigo não entendi se você concorda, se você discorda, ou o que. E acho que até você disse a minha opinião: eu não acho que a "donzela em perigo" seja um problema, o problema é quando "só" existe a donzela em perigo e a mulher sempre acaba como um elemento (objeto) da trama pra justificar a história. Poderia ser substituída por um tesoura, uma espada, um carro.

    Do Hulk ainda tem 3 filmes - isso recente. E eles se deixar fazem outro. Aliás, eu percebi isso naquele "quem é o seu herói?" que mulher só tirava mulher... e não era tão legal assim pegar uma personagem mulher. "VOU PEGAR UM SUPER-HERÓI LEGAL PRA FALAR PRA OS MEUS AMIG- ah, essa..." Não que não tenha personagens legais, mas nenhuma (desculpa, mulher maravilha), que seja tão legal quanto tirar um Homem-Aranha ou um Batman. Aliás, até o nome da Mulher Maravilha dá um pouco de vergonha de falar.

    Fiquei curiosa pra ver o que você acha de Sucker Punch. ;x

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  6. ~GAROTA QUE GOSTA DE ROBÔS GIGANTES!1!!
    Romances também, fantasia, etc etc!
    Ótimas palavras! Vamos todos mudar esse mundo para melhor. :)

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